Por Edilson Silva* No último dia 02 de fevereiro, o IPCC – Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (sigla em inglês), uma das mais conceituadas autoridades científicas do mundo sobre aquecimento global, divulgou em Paris um denso relatório sobre o aquecimento global e seus efeitos devastadores para um futuro bastante presente.

Segundo o economista Gilberto Dupas, autor do livro "O mito do progresso", em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, a queima de petróleo, carvão e gás, que libera os gases de efeito estufa, elevou a concentração de CO2 (Dióxido decarbono) na atmosfera de 280 ppm (partes por milhão) no ano de 1860 para 365 ppm em 1990, e é provável que atinja 700 ppm em 2100.

Segundo Dupas, os solos ficarão mais secos e as estiagens serão em maior número e intensidade.

A temperatura média global pode subir até 6ºC nos próximos 100 anos.

O gelo polar derreterá e poderá elevar o nível dos oceanos em até 94 cm, o que exigiria a remoção de mais de 90 milhões de pessoas, os chamados refugiados ambientais.

Há pequenas diferenças em relação aos dados do IPCC, mas uma coisa há em comum: a catástrofe.

Recentemente o ex-vice-presidente norte-americano, Al Gore, esteve no Brasil para divulgar o filme "Uma verdade inconveniente", documentário sobre o aquecimento global.

O último Fórum Econômico Mundial teve como principal ponto de pauta o aquecimento global.

O Jornal do Commércio de 30 de janeiro último trouxe uma matéria no mínimo preocupante: "Avanço do mar ameaça Recife", como conseqüência do aquecimento global, refletindo os relatórios preliminares do IPCC, que prevêem para as próximas décadas o possível desaparecimento do bairro de Brasília Teimosa, ou Formosa.

Numa situação dessas, tanto faz.

Enfim, a "ficha caiu", pode pensar algum desavisado, e agora as grandes corporações capitalistas e os países responsáveis pela maior parte da emissão de gases de efeito estufa se submeterão à razão, e farão um planejamento industrial baseado num modelo sustentável.

A humanidade não será mais incentivada a consumir nos padrões doentios da sociedade norte-americana e iniciaremos um processo de reeducação das sociedades, sobretudo ocidentais, buscando crescimento sim, cultural e humanístico, na busca de uma civilização que caminhe em harmonia com o nosso meio ambiente.

Nada disso.

Enquanto relatórios catastróficos, porém realistas, são publicados, os Estados Unidos lideram programas de geo-engenharia, que tentam a manipulação do meio ambiente em grande escala para interferir no clima, segundo informa a organização não governamental canadense ETC.

Segundo o informe do ETC, publicado no último dia 1º de fevereiro, os estudos realizados propõem contaminar deliberadamente a estratosfera com diminutas partículas de dióxido de sulfuro ou colocar em órbita bilhões de finíssimos refletores.

As duas medidas tentariam desviar a luz solar e esfriar a temperatura na Terra.

Ainda segundo o ETC, nos últimos anos foram lançados outros planos de minimização dos efeitos do aquecimento global, como despejar toneladas de partículas de ferro nos oceanos para disparar um florescimento do fitoplâncton, com a esperança de absorver mais dióxido de carbono da atmosfera.

Os cientistas alemães são mais resignados e estão planejando a construção de uma "Ilha-barreira" na costa do Mar do Norte, para protegerem-se das inundações previstas. (Dados da Revista Digital de Ambiente, Educação e Cidadania).

Ou seja, para eles, os donos do poder, é mais viável alterar a direção dos raios solares, através da contaminação da estratosfera, do que diminuir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.

Parece coisa de cientista maluco em filme de ficção científica, mas é a mais dura e triste realidade.

Isto acontece porque a via única de desenvolvimento do capitalismo é baseada no crescimento econômico da sua produção, no aumento permanente e frenético do consumo, no aumento do PIB das locomotivas mundiais. É de causar desespero ver economistas dizendo que se os Estados Unidos vão bem, a economia mundial vai bem, ou vê-los apostando na incorporação cada vez maior da China na anarquia da produção e do consumo capitalista.

Imaginem a China com um terço da sua população consumindo nos padrões médios norte-americanos.

Seria a antecipação do caos.

Felizmente a crise econômica mundial não permite tal insanidade.

Este cenário alarmante revela outras verdades inconvenientes para os donos e representantes do poder em nível mundial, a exemplo de Al Gore.

Revela que o seu sistema capitalista está absolutamente incompatível com a defesa da vida e do meioambiente.

Revela a urgência na substituição do modelo anárquico de produção por um outro que não seja baseado no lucro enquanto estratégia suprema, mas sim no planejamento e na hierarquização da produção social a partir do respeito ao meio ambiente, à vida e à verdadeira democracia.

Estabelece, de forma cristalina, a urgência do início de uma substituição em larga escala dos combustíveis fósseis por outros renováveis e alternativos.

Revela, enfim, que a sociedade precisa avançar para uma organização econômica, social e política de natureza socialista.

Longe da cúpula econômica e política mundial, que tudo indica já fez a opção de levar a sua destruição para além das fronteiras do planeta Terra, caberia aos países como o Brasil dar exemplos de construção de alternativas reais, na linha de efetivar uma resistência global a esta situação.

Lamentavelmente não é o que verificamos.

Mas, isto é tema para um outro artigo. *Edilson Silva, 38, é presidente do Diretório Regional do PSOL de Pernambuco, foi candidato ao governo do estado em 2006 e escreve todas as sextas feiras para o Blog do Jornal do Commércio.