Por Natália Kozmhinsky* Repórter do Blog do JC A viagem marcada pelo ministro José Dirceu ao Estado - confirmada ontem pelo prefeito do Recife, João Paulo (PT), pode acabar constrangendo alguns militantes do partido em Pernambuco.

A expectativa é que o ex-ministro vinha a Pernambuco para articular um movimento político a favor da sua anistia.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já vem tentando frear o movimento.

E teria pedido ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu que freie a articulação para apresentar um projeto de anistia à Câmara -ele foi cassado em 2005.

O contato foi feito ontem por um emissário do presidente com boa relação com Dirceu.

O ex-ministro pediu que o emissário tranqüilizasse Lula.

Dirceu disse que não pretende articular a apresentação do projeto antes de o STF (Supremo Tribunal Federal) se manifestar a respeito da denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, que o acusou de chefiar a "quadrilha" do mensalão.

Dirceu nega.

Há previsão de que o STF só se manifeste em setembro, numa hipótese de tramitação rápida do processo.

Se isso ocorrer, o projeto só será apresentado no segundo semestre.

Dirceu disse que submeter o projeto agora à Câmara, por meio de um deputado do PT, só reforçaria a resistência à anistia.

O ex-ministro disse ao emissário que acredita que a denúncia de Souza não tem "fundamentação técnica" e que espera que o STF a recuse.

Se isso ocorrer, crê Dirceu, o projeto de anistia ganharia força política, podendo até ser assumido pelo PT e os aliados do governo no Congresso Nacional.

Em conversas reservadas, Lula tem manifestado a preocupação de que a anistia a Dirceu aumente o tom da guerra interna que vem sendo travada no PT a respeito do 3º Congresso do partido, previsto para ocorrer em julho, em Brasília.

Essa guerra poderia influenciar negativamente a agenda do governo no Congresso.

Lula pediu aos presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), rapidez na tramitação das medidas legislativas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Ele deverá fazer um discurso depois de amanhã, na festa de comemoração dos 27 anos do PT, em Salvador, e deve defender que a prioridade do PT é sustentar o governo e o PAC.

No seu blog, o ex-ministro disse que não está organizando a campanha pela anistia, mas que tem "recebido apoios e apelos nesse sentido" em viagens pelo Brasil. *Com informações da Folha de São Paulo