A REELEIÇÃO DA REELEIÇAO: UM CENÁRIO POSSÍVEL?

Por Gustavo Krause* Na vida, o segundo casamento é a uma vitória da esperança sobre a experiência.

Na política, ocorre o inverso: segundo mandato é (ou será) a vitória da experiência sobre a esperança.

Assim começa o segundo governo Lula: experiência para dar (menos, menos) e vender (é provável, é provável).

O presidente recebeu do eleitor mandato popular e salvo-conduto para cometer ou permitir que cometam qualquer estripulia.

Mas sabe que não pode dar chance ao azar.

Para não dar chance ao azar, precisa manter distância regulamentar do PT, medida profilática para evitar novas encrencas; precisa manter o Congresso sob controle político (e aí tanto fazia Aldo quanto Chinaglia, embora este último, tudo indica, vai cumprir a agenda do perdão para Dirceu e Jefferson); precisa, também, controlar a área econômica, o que assegura inflação baixa, gastos assistenciais generosos, créditos consignados em profusão e aprovação popular suficiente para neutralizar os efeitos do apetite voraz dos “aloprados”.

A experiência de Lula ratificou que é melhor governar só do que mal acompanhado.

Ele cuida da política e da economia e, para tanto, conta com a inestimável ajuda de um ministério invisível, de equipe econômica medíocre e da ausência de “gênios” políticos ao seu redor.

Desta vez, deixou a escolha do Ministério para depois das eleições da mesa; divertiu aliados, adversários e a mídia com o PAC; contou com a ajuda inestimável de uma oposição chinfrim.

Ou seja, deitou e rolou.

Na economia, Guido Mantega é o “grilo falante”; o Copom, a âncora da ortodoxia; Bernardo Appy um bom operador que já ensaiou entregar o boné; e Delfim, isto mesmo, Delfim Neto “o espírito-santo de orelha” que ocupou o lugar de Palocci como interlocutor privilegiado do Presidente.

Ninguém formula e Lula é quem toca a bola.

Se acelerar, ótimo; se não, vai dando pro gasto.Na gestão, optou por uma saia o que deixa o gênero masculino na maior “saia justa”.

A Ministra Dilma vai tocando a máquina monstruosa, tentacular e pode surgir, mais adiante, numa conjuntura de feminização crescente da política (Bachelet, Sègolène, Hilary), como a novidade do projeto de poder.

Neste caso, quem sabe, repaginada com a ternura graciosa da Noviça Rebelde sem perder, jamais, a dureza de Rosa de Luxemburgo.

Então, inevitável indagar: o segundo mandato de Lula vai ser um passeio?

A conjuntura externa é favorável; o quadro interno vai depender da capacidade de superar as habituais e recorrentes dificuldades.

A repetição do crescimento medíocre na economia compromete o futuro sem perturbar o ambiente favorável ao governo.

E, neste sentido, o cenário externo ajuda (o mundo cresceu 5,1 em 2006; em 2007, a previsão é de 4,5) a não ser que ocorram eventos políticos desestabilizadores que afetem a economia internacional e exponham o despreparo da equipe do governo.

Internamente, a escolha do ministério deve repetir a natureza fisiológica e clientelística dos arranjos políticos.

Nada muda.

Reformas estruturais, nem pensar.

A prometida reforma política, já era.

A turma seguirá inebriada com os encantos do Presidente até quando for conveniente e vantajoso.

No entanto, se os neo-governistas forem ao “pote” com a fome e a sede dos “ratos magros” trarão complicações para o governo.

Do lado da oposição…

Que oposição?

Fragmentária, calada (nem bate, nem propõe), os partidos, ressalvados comportamentos isolados, não assumiram a missão política de autêntica oposição como esperam milhões de eleitores para o bem da democracia e do Brasil.

Porque é minoria, a oposição somente exercerá bem o seu papel se for organizada, vigilante e aguerrida; porque é canal de expressão de significativa parcela da sociedade, a oposição somente se credenciará como alternativa de poder, dizendo, no momento certo, “verdades inconvenientes” (crédito para Al Gore), e não silenciar diante das mentiras convenientes do governo.

Finalmente, atenção especial para um cenário que não considero provável, embora matematicamente possível a partir dos 51 votos que elegeu o Presidente do Senado: a reeleição da reeleição, decidida num plebiscito, ritual tão a gosto dos caudilhos. *Gustavo Krause, 60, iniciou sua carreira pol?tica em 1975.

Foi prefeito do Recife (79/82), vice-governador e assumiu o governo quando o Magalhães deixou o cargo para disputar o Senado, em 86.

Assumiu o Ministério da Fazenda do Brasil durante o governo Itamar Franco, em 1992.

Em 1995, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, assumiu o Ministério do Meio Ambiente, onde permaneceu até 1998.