Da Editoria de Cidades do JC de Hoje Tiros, brigas e roubos marcaram o desfile do Balança Rolha, ontem, em Boa Viagem.

A cantora Ivete Sangalo cobrou um “policiamento mais decente”.

A tentativa de resgate das prévias carnavalescas em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, foi desastrosa.

Houve tiro, agressões com socos e garrafadas, empurrões, choros, desmaios e assaltos em plena beira-mar, no desfile do bloco Balança Rolha.

A cantora baiana Ivete Sangalo, principal estrela da festa, parou o show cinco vezes por causa das confusões e ameaçou suspender a apresentação às 16h, faltando duas horas para o fim da folia. “Quando voltar ao Recife outra vez, quero ver um policiamento mais decente”, disse, ao microfone.

Nas imediações do Recife Palace, na Avenida Boa Viagem, Ivete Sangalo viu um empurra-empurra, parou o trio elétrico e contou duas piadas.

Depois explicou ao público que estava contando piadas, em vez de cantar, “porque o policiamento não está como eu pedi”.

Além do fraco efetivo de policiais militares nas ruas (320 homens para um público estimado em 200 mil pessoas, no mínimo), seguranças contratados pelo bloco não conseguiam controlar a multidão que empurrava o cordão de isolamento, onde brincavam as pessoas que pagaram R$ 150 para acompanhar o trio com mais conforto.

Em frente prédio de número 3962 da Avenida Boa Viagem, Ivete Sangalo pediu às pessoas que dessem um basta na desordem e disse que daquela maneira não poderia continuar com o show. “Não entendo como algumas figuras vêm aqui apenas para acabar com a festa das famílias.

Vai se divertir, bicho.

A gente está aqui com tanta alegria.” Próximo ao Edifício Holiday, a cantora avisou que todos os focos de confusão estavam sendo fotografados, de cima do trio, e as imagens seriam enviadas para a polícia local. “Recife é um lugar que recebe gente do mundo inteiro, as pessoas precisam ter educação para fazer uma festa”, destacou.

Logo em seguida, acrescentou que não levaria o trio numa velocidade mais rápida, para acabar logo com o show, como sugerido. “Vou devagar mesmo.” Pouco depois, em frente ao prédio de número 3906, Ivete Sangalo parou o trio e pediu aos seguranças que retirassem da avenida um rapaz vestido de amarelo e preto, que empurrava foliões. “Levem esse p… para a polícia, não o machuquem, mas tirem ele daqui.” Bastante contrariada, a cantora admitiu que não conseguia se concentrar e decidiu cantar músicas mais lentas, numa tentativa de acalmar a multidão. “Não posso fingir que não está acontecendo nada, agorinha mesmo vi uma pessoa atirando um coco em outra, isso é animalesco”, lamentou a musa do axé-music. Às 16h12, depois das reclamações, a Polícia Militar enviou o reforço de 80 homens, que ficou no entorno do trio elétrico da cantora. “Polícia, chegue com tranqüilidade”, pediu a cantora.

A Delegacia de Boa Viagem registrou 80 queixas de roubos, furtos e agressões de foliões, no desfile do Balança Rolha.

Não fossem as brigas, o retorno das prévias em Boa Viagem teria sido aprovado por moradores da beira-mar e demais amantes da axé-music.

Antes de o desfile começar, as pessoas elogiavam a volta da folia na avenida.

No fim da tarde, a administradora de empresas Renata Araújo, 29 anos, criticou a organização da festa. “Paguei caro, fui esmagada na multidão e minha amiga teve o celular roubado”, reclamou.

A estudante de radialismo Laila Kudsi, 22 anos, ameaça processar o Balança Rolha.

Ela levou um corte na testa ao ser atingida por uma garrafa no cordão de isolamento. “Eu conversava com amigas quando senti a pancada.

Depois, eu vi o sangue escorrendo e me levaram para ser medicada”, contou.

Hoje, ela vai ao Instituto de Medicina Legal realizar o exame de corpo de delito.

Moradores da orla acompanharam o desfile das varandas e dos muros dos prédios.

Muitos colocaram cartazes com mensagens para cantora.

O show começou ao meio-dia, com os trios de André Rio e Almir Rouche.

O governador do Estado, Eduardo Campos, acompanhou o começo da festa e deu uma bandeira de Pernambuco a Ivete Sangalo.

O público se espremia na praia e no teto dos banheiros públicos da orla.