O repórter do JC Diogo Menezes acompanhou, de dentro dos cordões, o desfile do Bloco Balança Rolha, domingo, em Boa Viagem.
Veja o relato que ele faz da selvageria: "Deveria ser um dia comum, apenas mais um domingo.
Entretanto, a presença de Ivete Sangalo, por si só, deveria denunciar que o dia seria, no mínimo, diferente.
Quisera que a única diferença fosse a presença da musa baiana a encantar os pernambucanos.
Parece até (aliás, parece não, com certeza aconteceu) que todos os seres selvagens, primitivos e sem escrúpulos reuniram-se para atrapalhar a festa daqueles que realmente queriam se divertir.
Como gosto das músicas de Ivete Sangalo, saí com um grupo de mais quatro pessoas (sendo três mulheres) para juntos nos divertirmos na Avenida Boa Viagem.
Vestidos com o abadá que dava direito a brincar dentro do cordão de isolamento com “segurança”, a primeira batalha foi chegar ao local.
Deixei o carro no Shopping Recife e fui até a orla de táxi.
Ao descer, na Rua dos Navegantes, começou o medo.
Não avistei, durante o trajeto de pouco mais de 500 metros, da Navegantes até o local de concentração do bloco, um policial militar.
Tentando não ser assaltado, nosso grupo juntou-se com outro grupo de mais seis pessoas que também adquiriu abadás para, juntos, ir até a concentração do bloco.
Conseguimos chegar em paz e esperamos até as 14h30 para que Ivete desse o ar de sua graça.
A festa até que começou tranqüila.
Mas bastaram dez minutos até que Ivete fizesse a primeira intervenção: briga na chamada “pipoca”.
O problema era que, não satisfeitos em brigar do lado de fora, os baderneiros queriam entrar para brigar dentro do cordão de isolamento.
Tentando manter a tranqüilidade de quem tinha adquirido os abadás, os “cordeiros” evitavam a invasão e, na maioria das vezes, revidavam as agressões.
Por diversas vezes presenciei os cordeiros largando as cordas e indo para o combate físico com os brigões, transformando a festa em campo de batalha.
No meio desse estica-e-puxa, estávamos nós, torcendo que as confusões cessassem para brincar em paz.
Até que, em determinado momento, a situação ficou insustentável.
Depois de mais uma briga, uma pessoa que estava fora dos cordões de isolamento resolveu jogar uma garrafa de vidro vazia em direção àqueles que estavam com os abadás.
Em vez de guardar a garrafa, que tinha se tornado uma arma, um dos seguranças contratado pelo Balança Rolha (esse eu vi, não era cordeiro, e sim segurança, com o nome “apoio” escrito nas costas) revidar a agressão e jogar a garrafa de volta em direção ao primeiro agressor.
A partir daí, a única coisa que podíamos fazer era rezar para não levar uma garrafada na cabeça.
De um lado, os baderneiros jogando garrafas de vidro para dentro do bloco.
Do outro, os seguranças revidando.
A situação durou quase dois minutos, até que um grupo de seis PMs chegou e acabou com a “festa” dos baderneiros.
Depois daquele incidente, percebi que, definitivamente, a coisa tinha extrapolado todos os limites.
Resolvi, então ir embora para não me machucar.
Depois do que presenciei na orla de Boa Viagem, confesso ter ficado temeroso quanto ao Carnaval, que ainda está por vir.
O que é lamentável.
Com as imagens da pancadaria (que não refletem um terço do que realmente aconteceu) rodando o País, acredito também que os turistas que pretendiam conhecer o Carnaval de Pernambuco vão pensar duas vezes."