Amanda Tavares Especial para o Blog do JC A sociedade ainda está chocada com o assassinato da jovem Amanda Beatriz, no último dia 20. É notável a revolta de quem lê os jornais, ouve as rádios ou assiste aos noticiários de TV.

Lembro que em casos semelhantes, que também abalaram o Pa?s, me comportei de tal forma.

A diferença é que pessoas como os pais de Suzane Richthofen, as meninas La?s e Sabrina não eram próximos a mim.

E antes eu não tinha noção, mas esse detalhe faz uma diferença danada.

Cada vez que vejo a imagem de Amanda, seja na TV, nos jornais, na Internet ou em fotos do arquivo de fam?lia, me vem à lembrança ela viva, prestando atenção às aulas, conversando com os colegas da escola, jogando vôlei (e como ela gostava de jogar!), tocando na banda marcial. É complicado conseguir entender que ela não está mais aqui.

Também é diferente ver o sofrimento da fam?lia e dos amigos através da imprensa.

Eu tinha ido à casa da garota apenas uma vez, no dia em que o corpo foi encontrado.

Minha visita foi muito rápida e no momento havia poucas pessoas na casa.

Ontem, assim que cheguei à missa de 7° dia, duas alunas vieram me abraçar.

Ao entrar na igreja, mais pessoas conhecidas e a cada pessoa que eu encontrava a emoção aumentava.

No meio da cerimônia, uma colega jornalista comentou a respeito do comportamento de Dona Maria José, mãe de Amanda. "Estou com pena dela.

Ela não está conseguindo se controlar, treme e chora muito." Ao final, o clima de solidariedade, já esperado, e a mãe de Amanda não agüentou.

Foi levada a uma emergência, desmaiada.

Uma mãe de alunos que conversava comigo no momento disparou: "Tá vendo o que aquele monstro fez?

Quando é que esses pais vão ter alegria?

Nunca mais! É muito sofrimento, meu Deus.

Amanda não merecia isso.

Ela não fazia mal a ninguém.

Estou preocupada com o meu filho mais velho, que era muito amigo dela.

Ele está sofrendo demais.

Como é que alguém tem coragem de provocar tudo isso?

Os assassinos ainda vão pagar caro.

Os amigos de Amanda vão lutar por justiça", desabafou.

Diante disso tudo, o que mais me incomoda é o fato de não conseguir tecer comentários sobre os criminosos, principalmente a respeito do Geison, que me parece mais audacioso.

Não consigo perdoá-lo, mas também não sei o que desejo a ele.

Dizem que ele é monstro, insano, cruel.

Eu quero tirar a imagem dele da minha cabeça.

Também não quero tentar entender porque tudo isso aconteceu.

Aproveito momentos como esse para exercitar a minha fé.

Deixo que Deus cuide disso.

Aos leitores, o apelo que faço é de muita oração.

Dona Maria José precisa viver, ela perdeu um irmão a pouco tempo e nem deu tempo de se recuperar para que essa tragédia acontecesse.

Seu Ivanildo (o pai de Amanda) quer ver a paz de sua fam?lia.

Os irmãos da adolescente, familiares e amigos precisam de conforto.

Não podemos nos acomodar e deixar de clamar por justiça.

Mas também não devemos prolongar o sofrimento.

Ela está em paz.

Livre de toda a violência, da hipocrisia, da inveja, de todo o tipo de mal a que estamos sujeitos.* Amanda Tavares é repórter do JC e professora na escola em que Amanda Beatriz estudava