Amanda Tavares*Especial para o Blog do JC Soube da not?cia do desaparecimento de Amanda Beatriz na noite de segunda-feira (22).
Na redação do jornal, recebi uma ligação.
Era minha mãe, dizendo que havia alunas minhas na porta da minha casa, queriam conversar comigo, pedir ajuda para a divulgação na imprensa sobre o desaparecimento da adolescente.
Fui professora de Amanda durante dois anos e tinha uma certa aproximação com ela por causa de brincadeiras dos estudantes.
Ela era conhecida na turma como “a filha da professora???, por causa dos cabelos loiros e cacheados e dos olhos claros, parecidos com os meus.
Com os contatos da fam?lia em mãos, telefonei, apurei as primeiras informações.
De acordo com um tio da garota, ela havia sa?do de casa no sábado (20), dizendo que ia a uma aula de informática.
No entanto, na segunda-feira o pai foi à tal escola e foi informado de que o curso teria acabado na semana anterior.
Amanda mentiu para poder sair de casa. “A mãe sempre teve muito cuidado com ela, não deixava ela sair para qualquer lugar, nem aceitava a companhia de qualquer pessoa.
Talvez por isso ela tenha mentido???, disse o tio.
Ainda na segunda-feira, acompanhei o desespero da fam?lia por telefone.
Os pais, juntos com os tios e o ex-namorado da garota, foram a um hotel em Boa Viagem na esperança de encontrá-la. “Há umas semanas, ela tinha pedido o contato de um hotel barato ao ex-namorado para se hospedar junto a uma amiga, conhecida como Rose Alves, que viria de Natal.
Ele indicou e por isso viemos procurá-la aqui???, revelou.
Só depois dos funcionários do hotel chamarem a pol?cia, foi poss?vel procurar a garota no hotel, mas ela não estava.
Passei as informações para os colegas de trabalho e eles ficaram de apurar na manhã seguinte, já que passavam das 22h e a edição do dia já estava sendo conclu?da.
Na terça-feira, por volta das 8h, as alunas voltaram à minha casa.
Pediram para que eu fizesse o poss?vel para divulgar o caso na imprensa, ainda tinham esperança de reencontrar a amiga e poder freqüentar o último ano da escola juntas.
Assim que cheguei à redação, tive a not?cia de que tinham achado um corpo de uma garota chamada Amanda, num apartamento no bairro da Boa Vista.
Durante todo o dia, ficamos na expectativa.
A imprensa não teve acesso ao local, mas as informações que receb?amos aos poucos só contribu?am para que a gente acreditasse que realmente Amanda estava morta.
Ora, a menina tinha sa?do de casa no sábado pela manhã e a pol?cia dizia que provavelmente o corpo estaria ali desde o sábado.
Uma colega de Amanda tinha encontrado com ela no ônibus, a viu descer próximo ao Shopping Boa Vista e a adolescente havia sido encontrada na Rua Manoel Borba.
Eram muitas as coincidências. À tarde a informação se confirmou.
Parentes da garota estiveram no IML e reconheceram o corpo.
A partir da?, várias pessoas na redação me fizeram as mesmas perguntas: “Como era o comportamento dela em sala????; “Ela era estranha????; “E essa religião, ela seguia mesmo????
Ensinei a Amanda durante dois anos e nunca percebi nada de anormal no seu comportamento.
Era uma garota comum, como qualquer outra, que gostava de sair com os amigos, namorar, ouvir música, ler.
No final do ano passado, tinha me pedido para corrigir um texto seu, falava justamente sobre a Wicca.
Ela estava alegre, dizendo que ia virar colunista de um site e fazia questão de enviar bons textos.
Segundo as amigas, várias pessoas na escola já tinham alertado tanto a ela quanto a outra garota que se interessava pela religião que tivessem cuidado. “Ninguém sabe quem é essa mulher, essa tal de Rose Alves.
Amanda só a conhecia pela internet e uma vez se encontrou com ela aqui no Recife.
Agora estava marcando de novo. É muita coragem dela???, comentou uma das garotas.
Depois de comprovado o crime, muitas versões para o caso.
Preso no final da tarde, o jovem que confessou o crime, Geison Duarte da Silva, 21 anos, disse que namorava Amanda e que a matou por causa de uma discussão.
Mais tarde, com outro suspeito preso, Thiago, a versão torna-se completamente diferente.
Amanda teria sido abusada sexualmente e teria conhecido Geison numa banca de revista.
Desse dia em diante, mantiveram contato apenas por telefone e marcaram para se encontrar durante o último sábado.
Trabalho na redação do jornal há mais de dois anos.
Apesar do pouco tempo, já acompanhei os colegas cobrirem casos chocantes, mas nenhum deles causou tanta perplexidade.
Que esses assassinos merecem prisão perpétua é indiscut?vel.
Que a justiça deve ser feita também.
Agora, já que não posso dizer mais nada a Amanda, aproveito, como educadora, para falar para os adolescentes, colegas dela ou não.
Ela acreditou que teria amigos, confiou demais nas pessoas e a sua inocência levou-a à morte.
Ao final deste comentário, vejo que um programa de TV noticia para todo o Brasil a morte de Amanda.
Ela ficou conhecida nacionalmente.
Eu preferia que minha aluna continuasse anônima, mas estivesse viva.
Sem dúvida, seu futuro seria promissor, ela não se conformava fácil com as injustiças, era questionadora, inteligente.
Provavelmente não se acovardou nem nos últimos momentos da vida.
Espero que essa caracter?stica dela sirva para alertar as autoridades em relação a freqüentes casos de violência contra adolescentes do sexo feminino que vêm acontecendo no Estado.
E que o exemplo desse crime bárbaro possa alertar adolescentes de todo o Pa?s. *Amanda Tavares é professora na escola onde Amanda Beatriz estudava e repórter do Jornal do Commercio.
A garota foi encontrada morta em um apartamento, na manhã desta terça-feira.
Dois homens confessaram o crime.
Veja a cobertura completa no Caderno de Cidades desta quarta, do Jornal do Commercio.