Por Ana Lúcia Andrade Da Editoria de Pol?tica do JC A volta do ex-presidente Fernando Collor (PRTB) à vida pública – 14 anos depois de sua renúncia – traz de carona à cena pol?tica nacional um pernambucano que se manteve na trincheira do homem que quase foi cassado, não tivesse renunciado, depois da aprovação do primeiro processo de impeachment no Brasil.

O ex-senador Ney Maranhão (PMDB), 80, mais conhecido como "senador boiadeiro", apeia do cargo de assessor especial dos governos Jarbas/Mendonça, função que cumpriu por oito anos, para ocupar agora a chefia da assessoria especial do ex-presidente \collorido.

O cargo é uma das benesses de que dispõe aqueles que já ocuparam o maior cargo público do Pa?s: a Presidência da República.

Ao recuperar as condições pol?ticas, Collor passa a desfrutar de algumas regalias de ex-presidente.

Como ter aos seus serviços um grupo de quatro assessores que podem estar diretamente ligados ao seu gabinete de senador, em Bras?lia, ou em algum Estado de sua escolha.

Veio para Pernambuco.

E para Ney Maranhão. "Sou senador, não posso ser empregado de senador.

Moralmente isso está errado", justificou Maranhão, o motivo de ter optado por se instalar no Estado. "E tem mais.

Não aceitei (ficar em Bras?lia) porque não podia passar 30 dias por lá.

Depois a imprensa ia dizer: o senador Ney Maranhão, chefe da tropa de choque do ex-presidente Collor – com muito orgulho – arrumou uma boca no gabinete do ex-presidente Collor.

Assim mesmo.

A classe pol?tica está de olho nos passos do presidente Collor.

Passo a passo.

Engoliram ele de goela abaixo com um bocado de espinha de peixe".

O bunker de Collor em Pernambuco será montado no próximo mês quando o ex-presidente toma posse no Senado Federal para cumprir o mandato de oito anos que conquistou nas eleições de 2006.

Ney Maranhão vai basicamente exercer as funções que desempenhou na assessoria especial dos ex-governadores Jarbas Vasconcelos e Mendonça Filho. "Pra fazer o quê?", reagiu, de imediato, quando solicitado a detalhar suas funções. "Minha amiga não falta o que fazer.

Agora mesmo estou tratando de assuntos internacionais que têm repercussão não só em Pernambuco.

Mas em Alagoas e Rio de Janeiro.

Porque tenho ligação com a alta cúpula do governo chinês.

Tenho 25 anos de ligação com a China.

Fui, inclusive, gozado pelos senadores que diziam que chinês era para lavar roupa.

Eu dizia, há 20 anos, que a China ia comandar o mundo.

Dizia que, dentro de 20 anos, ela iria colar com os americanos.

Já colou", vagueou o senador boiadeiro antes de responder à pergunta. "Eu fazia esse trabalho na assessoria especial de Jarbas.

Agora, como assessor do presidente Collor, vou fazer os contatos com as autoridades chinesas para investimentos no Brasil num n?vel mais elevado.

No meu escritório vai funcionar a Câmara de Comércio Brasil-China.

Tenho muitos projetos.

Mas o chinês é diferente da gente.

Você pode sair daqui com uma mala cheia de dinheiro que não faz negócio na China.

Primeiro o chinês quer conhecer você.

Fui eu que abri a China para o Brasil.

Não foi o Itamaraty.

Sou um homem que tem o pensamento chinês: não interessa se o gato seja preto, branco ou cinza, interessa que ele coma o rato.

Tem tempo pra tudo", ensina o ex-senador e presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China em Pernambuco.

Na lista das conquistas que enumera, da passagem pela assessoria especial dos governos Jarbas/Mendonça, estão as negociações para a instalação de uma fábrica de DVD em Caruaru, o t?tulo de irmandade entre Pernambuco e a cidade de Chichuan, e o privilégio de ser o cicerone preferencial das autoridades chinesas que visitam o Estado. "Ligado ao presidente Collor, eu vou estar num degrau mais alto", envaidece-se.

Pela função, o senador boiadeiro vai receber um salário de "seis mil e poucos reais", conforme informou. "É pouca coisa, por enquanto.

Pode ser que seja mais", acrescenta.

Ney Maranhão é um aliado de "fidelidade canina" a Fernando Collor.

Prontidão que só divide com o senador eleito Jarbas Vasconcelos.

Sua relação com o ex-presidente é uma herança do pai, o ex-senador Arnon Afonso Farias de Melo (1963), colega de Maranhão de Parlamento, quando ele exerceu o terceiro mandato de deputado federal.

Maranhão assumiu a linha de frente do grupo que ficou ao lado de Collor até o momento em que ele desceu a rampa do Planalto.

Assegura que foi quem convenceu Itamar Franco a ocupar a vice de Collor. "Está lá, nos segredos dos presidentes.

Itamar dedica uma página inteira a mim", destaca, referindo-se ao livro do jornalista Genetton Moraes Neto – Segredo dos Presidentes – que reúne uma série de entrevistas com todos os que ocuparam o Palácio do Planalto.

A amizade com Jarbas surgiu num Carnaval.

De um ano que lhe escapa à memória.

Uma amizade que se consolidou, a ponto de o senador boiadeiro se auto-intitular a "moto-niveladora" das verbas que migraram dos cofres de Bras?lia para os da Prefeitura do Recife, quando Jarbas ocupou o cargo de prefeito pela segunda vez. "Eu arranquei mais de 100 milhões de dólares para Jarbas governar o Recife.

Só no governo de Itamar (92-94) arranquei 30 milhões de dólares para os morros.

Numa pancada só.

Sempre estive no atacado com Collor e no varejo com Jarbas Vasconcelos.

Nunca misturei as coisas".

Mistura, entretanto, quando coloca Jarbas e Collor no centro das atenções do Congresso Nacional daqui pra frente.

Maranhão explica porque. "O presidente Collor é um dos candidatos fort?ssimos à Presidência da República (em 2010).

Aguarde.

Aguarde o desempenho dele no Senado". "E Jarbas será a oposição séria a Lula.

Ele será um timoneiro para evitar uma oposição radical a Lula.

Pela coerência que tem, pelo respeito que essa gente tem por ele.

Jarbas tem força.

Força moral.

Porque ele não muda.

Ele podia ser hoje o homem forte de Lula porque é seu amigo pessoal.

Na hora em que Lula estava dormindo em cama de pó de mico nu, tomando água de barreiro, e descansando embaixo de um pé de caju, Jarbas visitava ele.

Pouca gente tem a amizade que Jarbas tem a Lula".