A justa bandeira dos governadores do Nordeste Luciano Siqueira*Vice-prefeito do Recife Passados alguns dias desde a primeira reunião dos novos governadores do Nordeste, acontecida em Natal, na semana passada, faz-se oportuno, ainda, um breve comentário.

Há pelo menos dois ângulos sob os quais se deve analisar o que ali se passou.

O primeiro, parece óbvio – o da oportunidade de m?dia.

Em in?cio de mandato (salvo Wilma de Faria, do Rio Grande do Norte e Cássio Cunha Lima, da Para?ba), os novos governadores sentem-se na necessidade de combinar o árduo, complexo e pouco compreendido trabalho de montagem do governo, que leva tempo e rende poucas not?cias positivas, com gestos de certa ressonância que indiquem em que direção começam a trabalhar.

Em Pernambuco, por exemplo, Eduardo Campos visitou uma comunidade das mais pobres do Recife e já fez sua primeira viagem de trabalho à Zona da Mata.

Os governadores, na elogiável postura de quem defende a união de todos pelo desenvolvimento regional, apareceram bem na m?dia - embora correndo o risco de produzirem, de concreto, apenas “a foto e uma carta??? (na feliz expressão de Fernando Castilho, colunista do caderno de economia do Jornal do Commercio).

Mas é preciso anotar também – e este é o outro ângulo de nossa análise – que a Carta de Natal encerra um valor importante.

Explicita uma compreensão contemporânea e correta da questão regional, bem distante do velho discurso “regionalista??? das oligarquias locais, circunscrito à solicitação de mais recursos do poder central sem nenhum projeto de desenvolvimento consistente e socialmente satisfatório.

Na Carta de Natal os governadores não pedem esmolas, solicitam ações afirmativas do poder central no sentido de reduzirem as desigualdades entre o Nordeste e o Sul e o Sudeste.

Propõem que essas ações façam parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que o presidente Lula lançará no próximo dia 20.

E as associam a problemas essenciais que entravam o crescimento da região, como investimentos em infra-estrutura, renegociação da d?vida dos Estados para com a União e equil?brio tributário mediante a inclusão de todos os tributos e contribuições federais na base de cálculo dos Fundos Constitucionais FPE, FPM e fundos especiais.

E abordam de modo pragmático e objetivo a recriação da Sudene e o combate à violência criminal.

Em suma, aos governadores do Nordeste interessa inserir a dimensão regional na pol?tica nacional de desenvolvimento.

Uma bandeira justa a contar com amplo apoio pol?tico e social. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.

Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.