Quando aceitou contribui com informações e opiniões, em janeiro de 2005, para que o Jornal do Commercio elaborasse e publicasse a série Roteiro do Descaso, o então secretário de Turismo do Ceará, Allan Pires Garcia, certamente não imaginava que um dia iria assumir o cargo de presidente da Empetur.
A referida série - cabotinismo à parte - repercutiu intensamente, mostrando o quanto Pernambuco desejava melhorias no setor.
Por uma dessas ironias do destino, Allan Pires Aguiar terá agora o desafio de mostrar que pode fazer o mesmo por Pernambuco.
Parodiando o que disse mais cedo o presidente da ABIH, José Otávio Meira Lins, sobre Ronaldinho e o Barcelona, Allan Aguiar terá que apresentar um futebol de seleção nacional.
Veja um pequeno resumo de suas intervenções na série do JC.
Gastos com publicidade e focoEm 2003, de fato, os investimentos publicitários da Empetur ca?ram ao menor n?vel dos últimos seis anos.
Criada em 1987 para fomentar o turismo, a empresa, que atualmente chega a gastar R$ 6,5 milhões por ano com a folha de pagamentos, aplicou R$ 1,7 milhão em publicidade em 2003.
O tema investimento publicitário é tabu na estatal, que não informou os gastos com promoção do turismo no ano passado.
Na Bahia, o presidente da Bahiatursa, Claúdio Taboada, tem orgulho de anunciar que a empresa de fomento gasta por ano R$ 10 milhões para promover a “terra da felicidade???. “Aqui tratamos o turismo com profissionalismo.
Fizemos um planejamento estratégico de 12 anos que vem sendo cumprido rigorosamente por todos os governos, combinando melhoria da infra-estrutura e valorização da cultura???, ensina Taboada.
No Ceará, de acordo com secretário de Turismo, Allan Aguiar, os investimentos em publicidade situam-se em R$ 6 milhões por ano.
No Rio Grande do Norte, o gasto também soma R$ 6 milhões/ano.
Outros Estados têm órgãos enxutosVários Estados do Nordeste contam com estruturas de fomento ao turismo que custam menos recursos públicos do que a Empetur e dão mais resultados econômicos, a julgar pelo crescimento da demanda tur?stica atual.
O secretário de Turismo do Ceará, Allan Aguiar, informa que a Secretaria de Turismo (Setur) opera com 122 funcionários, incluindo cargos comissionados, terceirizados e estagiários.
Com um custo mensal de R$ 116 mil, a empresa custa aos cofres públicos cerca de R$ 1,5 milhão por ano, sem contar outras despesas como custeio administrativo. “Além de uma estrutura pequena, trabalhamos sempre para modernizar a organização.
Agora mesmo estamos implantando uma reformulação para dar mais velocidade às rotinas e normatizando tudo, para garantir a continuidade do modelo de gestão???, afirma Allan Aguiar, que também é vice-presidente da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI-Nordeste).
Pela estrutura de funcionamento, o ex-executivo da Caixa Econômica Federal responde diretamente ao governador do Ceará, Lúcio Alcântara.
No caso da Empetur, a lentidão afeta até a página da Internet.
Na última sexta-feira, o nome do ex-presidente Tom Uchôa continuava como dirigente da estatal, apesar de já ter sido substitu?do formalmente desde a quarta-feira, com a publicação de ato de nomeação oficial de Kleber Dantas.
Concorrentes têm centros climatizadosNa Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, os três principais Estados que concorrem com Pernambuco pela captação de turistas internacionais, os centros de convenções já são climatizados.
Em Natal e Fortaleza, essas estruturas estão em processo de ampliação, enquanto em Salvador o equipamento passa por reformas.
O Governo do Rio Grande do Norte está investindo R$ 6 milhões, com recursos próprios, na ampliação do centro de convenções.
A capacidade será dobrada, de 1,5 mil para 3 mil lugares. “O equipamento está pequeno para a demanda.
Já perdemos muito evento grande por isso???, explica o sub-secretário de Turismo do Rio Grande do Norte, Armando José e Silva.
A ampliação era cobrada pelos empresários do setor há cinco anos e deve ser conclu?da em outubro.
No Ceará, o governo do Estado planeja construir um segundo centro de convenções, alegando que o atual não comporta mais a quantidade de eventos.
O equipamento atual pode receber até cinco eventos simultâneos, com auditório para 3 mil pessoas.
O novo terá até 10 espaços modulares. “Já deixamos de captar eventos porque não temos pauta dispon?vel no Centro de Convenções.
Este ano, o turismo de negócios deve superar 30% do volume total.
Com a aposta no setor de eventos, atenuamos a sazonalidade, entre o pico das altas estações e o vale das baixas estações???, diz o secretário de Turismo, Allan Aguiar.
O problema é a fonte de financiamento.
O Prodetur não aceitou financiar a obra e o Estado busca recursos federais ou o lançamento de uma campanha com bancos de investimento internacionais.
Empresários dependentesGrande parte da crise do turismo de Pernambuco pode ser atribu?da ao comodismo de muitos empresários do setor e à falta de união.
O sucesso de Porto de Galinhas, onde a união é maior, confirma a regra.
Os empresários do setor costumam cobrar investimentos em campanhas promocionais, mas não costumam compartilhar os custos, ao contrário do que ocorre em outros Estados.
O presidente do Fortaleza Convention & Visitors Bureau, Régis Medeiros, disse que Porto de Galinhas não esperou Pernambuco e que os empresários deveriam atuar decisivamente na promoção dos seus destinos. “Só pedir para que os outros façam é fácil.
Vamos fazer a nossa parte e, com isto, ter autoridade para cutucar os governos com a vara curta???, ensina. “Tiramos o choro das decisões.
A conversa é assim: O custo é tanto.
Pode, não pode???, confirma o secretário de Turismo do Ceará, Allan Aguiar.
Em Pernambuco, não é assim que as discussões acontecem.
Em 2004, os empresários ligados à ABIH e ao Recife Convention & Visitors Bureau (RCVB) procuraram o prefeito do Recife, João Paulo, em maio, no Hotel Manibu, e a Empetur, por carta, em julho, para viabilizar financeiramente o reposionamento do Recife, com o projeto Recife Mais.
O objetivo era relançar o Recife no seguimento de lazer.
O lançamento da promoção seria em São Paulo (capital e interior), com um show de Lenine ou Alceu Valença.
O custo total do projeto, com folheteria própria apresentada, mas elaborada pela Empetur, chegava a R$ 1 milhão.
Só o Governo do Estado deveria disponibilizar uma verba inicial de R$ 142 mil, na conta do RCVB, para as ações do projeto.
Animação culturalEnquanto no Recife vários hotéis estão sendo fechados, no Ceará e na Bahia, onde o fluxo de turistas é crescente, os investimentos em hotéis e equipamentos cresce de forma vigorosa.
O secretário de Turismo do Ceará, Allan Pires Aguiar, atribui a movimentada vida noturna da cidade a empreendimentos de empresários estrangeiros. “A noite de Fortaleza tem uma grande oferta de lazer porque conseguimos atrair empresários europeus e paulistas, para ganhar dinheiro com a alegria do nosso povo e a noite agitada.
Eles sabem que quem vem para o Ceará tem um n?vel de satisfação alto???, diz Allan Pires Aguiar. “O boom do turismo está criando um movimento de expulsão das residências na praia de Iracema.
Morar está ficando cada vez mais caro, pois os empresários estão comprando áreas para fazer hotéis e outros equipamentos???.
Em Fortaleza, no Ceará, a cidade vive um clima oposto ao que se observa em Boa Viagem.
O centro cultural Dragão do Mar atrai os turistas nacionais, enquanto os turistas estrangeiros preferem as boates localizadas na praia de Iracema.
A noite é efervescente, inclusive graças a ajuda de investidores portugueses.
O empresário Eduardo Brandão, dono de uma boate em Portugal, há três anos investiu R$ 3 milhões num espaço Armazém, com três boates conjugadas e capacidade para 3 mil pessoas e que mesmo assim forma filas na porta toda Quinta do Forró.
Há um ano, Eduardo Brandão optou por fixar residência na cidade. “Não vim pelo dinheiro.
Aqui, o tempo é sempre bom.
O clima da cidade também???, explica.