Senhor presidente da Assembléia Legislativa de Pernambuco Senhora e senhores deputados.
Minhas senhoras e meus senhores.
Hoje, 1º de janeiro de 2007, ao assumirmos o Governo do Estado, assumimos sobretudo a tarefa de escrever, com serenidade e determinação, uma história diferente, que inaugure um novo tempo para Pernambuco.
Um novo tempo, em que aqueles que sempre perderam possam por fim ganhar.
Um tempo em que as v?timas não sejam mais culpadas.
Um tempo em que a desigualdade social extrema cause indignação, e não indiferença.
E em que essa desigualdade seja combatida sem trégua, como se combate uma injustiça, uma doença f?sica e moral.
A partir de hoje, senhoras e senhores, esse combate por justiça passa a ser algo mais que simples fruto de nossa convicção pessoal, de nossa formação moral, do ideário pol?tico que sempre abraçamos.
Essa luta por justiça torna-se a essência do mandato que o povo de Pernambuco nos concedeu no dia 29 de outubro.
Minhas senhoras, meus senhores, O que hoje me traz de volta a esta casa, desta vez investido pelo povo da honra e da responsabilidade de governar Pernambuco, é a força de uma idéia.
Uma idéia que uniu trabalhadores das cidades e do campo, estudantes, empresários, l?deres e representantes das mais variadas forças religiosas, sociais e pol?ticas, durante esta que foi uma das mais belas campanhas eleitorais da história de Pernambuco.
Campanha que, tenho certeza, trouxe grandes ensinamentos para nós e para os nossos adversários.
A idéia que nos uniu a tantos pernambucanos, senhoras e senhores, foi a idéia de que é importante sim que sejam constru?das estradas.
No entanto, mais importante do que construir estradas é construir a cidadania, a inclusão dos que sempre estiveram à margem do desenvolvimento. É construir os caminhos do futuro para a nossa gente.
Porque o desenvolvimento econômico só faz sentido se beneficia a grande maioria da população, e não apenas uns poucos.
Foi a inversão perversa dessa verdade tão simples que causou em Pernambuco, nos últimos anos, uma falsa percepção de desenvolvimento.
Quando, na verdade, se buscava – e de fato se conseguiu, por 16 anos – perpetuar os mecanismos da nossa brutal desigualdade histórica.
O grande desafio que temos pela frente é corrigir essa distorção.
Fazer com que pernambuco acelere seu desenvolvimento, garantindo que os frutos desse desenvolvimento beneficie a todos os pernambucanos, de todas as regiões do nosso Estado.
Oferecer aos pernambucanos oportunidades reais para que se emancipem a partir de suas próprias forças, do seu próprio talento e capacidade.
E que dessa maneira se tornem os verdadeiros atores de sua história pessoal e coletiva.
Há, portanto, muito trabalho pela frente.
Mas não estamos sós.
Somos continuadores de uma das mais ricas tradições das forças progressistas de pernambuco.
A tradição de formular e realizar programas e projetos que atendam à maioria, que estimulem a organização popular e assegurem a afirmação da cidadania.
Essa linha do tempo parte de épocas remotas e está fincada na resistência ao invasor.
Na luta pela independência.
Nos relatos de bravura e hero?smo de que deram prova brancos, negros e ?ndios; senhores e escravos; militares, comerciantes, sacerdotes e profissionais liberais que conquistaram e desenvolveram esta terra, berço e orgulho de todos nós.
Em tempos mais próximos, honraram as lutas do passado os que, por defenderem a democracia, foram perseguidos, presos, torturados, exilados ou mortos.
Essas lutas nos foram legadas, e, se aqui estamos, é porque muitos antes de nós eles foram às ruas, em nome da liberdade.
A eles, da tribuna desta casa republicana presto neste momento reverência e homenagem.
Senhoras e senhores, O mandato que se inicia hoje representa o ponto alto da retomada do papel histórico do povo pernambucano como agente das mudanças.
Um processo interrompido oito anos atrás, mas que vem sendo paulatinamente reconstru?do, sobretudo a partir do ano 2000 sob a liderança de tantos companheiros que se encontram hoje conosco nesta casa e nesta jornada. É parte crucial do nosso papel histórico, daqui para adiante, nos mantermos coesos e fraternos em torno dos princ?pios e das práticas que sempre nos guiaram, de modo a aprofundar a luta popular e evitar o retorno daqueles que sempre quiseram nos dividir para reinar.
Esse mandato se inscreve também como parte de um movimento em escala continental, em que se firmam em toda a América do Sul governos comprometidos com a causa do povo, depois do evidente fracasso do modelo neoliberal em todo o continente.
Em nosso Estado e em nosso pa?s os defensores daquele modelo diziam que o Estado haveria de se afastar da economia, para que a economia crescesse.
Hoje, como se vivêssemos uma fina ironia da história, toda perspectiva de desenvolvimento da economia pernambucana está fortemente ligada a projetos liderados pelo Estado brasileiro, como a refinaria, o estaleiro, a ferrovia transnordestina, a hemobrás, a transposição do Rio São Francisco e tantos outros empreendimentos.
Em face desse quadro, inclusive, firmo mais uma vez meu compromisso de, como governador, criar um ambiente prop?cio para a retomada também dos investimentos privados em nosso Estado.
Com especial destaque para que o empresariado pernambucano volte a acreditar em nosso Estado, participando fortemente da arrancada do nosso desenvolvimento.
Precisaremos de todos, pois o desafio que nos foi legado não se resume em administrar o Estado e fazer o poss?vel.
Precisamos fazer o necessário, mobilizando o povo pernambucano para tornar poss?vel o que sem sua força seria irrealizável.
E é necessário enfrentar o desemprego e a insegurança.
Ampliar e melhorar os serviços públicos de abastecimento d’água, de saneamento, de educação, de cultura, saúde e transporte.
O Governo do Estado não se dobrará aos alarmantes ?ndices de miséria e de concentração de renda, em uma sociedade apartada pelo fosso da vergonha que separa os que comem três vezes ao dia e os que lutam para ter o que comer no fim do dia.
Ao mesmo tempo, estamos determinados a preparar pernambuco para o século 21.
Para os novos tempos, em que o desenvolvimento soberano e sustentável não estará apenas baseado em recursos naturais, extensão territorial ou poderio militar, mas, sobretudo, em conhecimento técnico-cient?fico.
Em Pernambuco está o maior contingente de mestres e doutores do Nordeste, e um dos mais importantes do Brasil.
Nossa intenção é fazer a aliança entre o conhecimento e a tecnologia acumulados na universidade e o saber do povo, moldado pela prática e pela tradição.
Essa aliança estratégica irá, entre outros objetivos, potencializar os efeitos da implantação dos chamados projetos estruturadores, entre eles a refinaria de petróleo, o estaleiro naval, o pólo de poliéster e a hemobrás.
Precisamos formar e capacitar com rapidez nossos trabalhadores, para que eles, sobretudo os jovens, ocupem os novos postos de trabalho.
A maturação desses e de outros grandes projetos levará à transformação da base econômica do Estado, com efeitos positivos sobre a redução do desemprego e, consequentemente, sobre a grave crise social.
Deveremos igualmente aproveitar o dinamismo econômico resultante desses projetos para influir no crescimento dos setores da velha economia pernambucana, como a agroindústria açucareira, que tantos empregos criou e pode voltar a criar.
Também deveremos investir nos arranjos produtivos que o povo desenvolveu em cada região, e que são essenciais para fazer o Estado crescer com equil?brio.
Minhas senhoras e meus senhores A disputa eleitoral está encerrada.
Estendo as mãos ao diálogo e à concórdia.
Conclamo a sociedade a unirmos o Estado em torno de novos consensos que precisamos stabelecer, numa agenda comum, voltada para a construção de um futuro à altura das nossas mais leg?timas esperanças.
Reconhecemos nossas limitações e temos consciência de nossas potencialidades.
Com determinação e firmeza, construiremos o Pernambuco com o qual sonhamos.
Cito meu avô Miguel Arraes para afirmar que administrar Pernambuco nunca foi, em tempo algum, fácil ou cômodo.
Teremos divergências sobre os caminhos a seguir.
Mas não deveremos por isso recusar as convergências, quando elas significarem o interesse da maioria e das forças comprometidas com uma nação justa, solidária e soberana.
Saberemos contar com o apoio dos servidores públicos estaduais.
O projeto neoliberal tentou, por longo tempo, esvaziar o papel do Estado e, por extensão, a essencialidade do serviço público.
Este projeto foi derrotado.
Vamos agora reorganizar o serviço público e qualificar continuamente os servidores, de modo que a população seja adequadamente atendida em suas demandas.
Aqui estamos porque há democracia no Brasil.
Mas a democracia formal não basta.
Ela é insuficiente para corrigir distorções que atingem toda a sociedade e que só podem ser retificadas com a democratização da economia.
O regime democrático tem que abrigar, por definição, as aspirações de todos por uma vida melhor.
Caminha nessa direção a América do Sul, onde alianças com hegemonia das esquerdas foram vencedoras em diversos pa?ses, com destaque para a vitória do companheiro Lu?s Inácio Lula da Silva no Brasil.
Abrem-se novas perspectivas para ações solidárias entre os pa?ses sul-americanos, dentre as quais o exemplo mais vivo para nós pernambucanos é o acordo entre o Brasil e a Venezuela para a construção da Refinaria Abreu e Lima, no Complexo de Suape.
A economia brasileira reúne hoje condições excepcionais para impulsionar um novo ciclo de desenvolvimento.
Em nenhum momento dos últimos 30 anos foi criada uma combinação tão favorável: crescimento com distribuição de renda, controle da inflação, geração de empregos e redução da pobreza.
Agora é hora de destravar o Brasil e crescer a economia, com liberdade, equil?brio e a decisão de incluir o maior número poss?vel de brasileiros.
Mudará também o Nordeste, porque o Nordeste mudou politicamente, com a eleição de uma nova safra de l?deres comprometidos com as populações mais humildes e com uma visão moderna da inserção da nossa região na vida brasileira: mais unida em torno dos interesses comuns e mais determinada a ser vista como parte da solução do problema brasileiro – e não como problema à parte, a ser solucionado. É preciso repetir que a questão nordestina é parte fundamental da questão brasileira.
Queremos sepultar no passado as guerras fiscais entre os Estados nordestinos, em que isenções, subs?dios e incentivos se transformaram em armas, nas batalhas pela atração de empreendimentos públicos e privados.
Tal pol?tica nos isolou e nos empobreceu.
Em seu lugar, buscaremos o planejamento regional, lastreado por investimentos estruturadores do Governo Federal na região, no fortalecimento e modernização dos instrumentos institucionais como a nova Sudene e em ações articuladas pelo conjunto dos governos estaduais.
Mudará, por fim, o modo como Pernambuco será governado. É nossa decisão fazer um governo participativo, transparente, politicamente coeso, responsável na gestão fiscal e comprometido com o desenvolvimento integrado e ecologicamente sustentável de todas as regiões do Estado.
A adminstração estadual ampliará os canais de diálogo com a sociedade e criará outros, de maneira a fomentar a participação popular no processo administrativo.
A orientação perpassará todo o Governo, mas será essencial no combate à violência, que exigem a integraçào de todos os segmentos organizados da sociedade e dos poderes constitu?dos para ser vencida.
Almejamos a participação popular, não apenas porque dela depende o cont?nuo aperfeiçoamento do Estado e a legitimação das ações do Governo.
Mas, porque é sobretudo com a participação popular que se constrói a consciência de cidadania, dos diretos e deveres, dos limites e das liberdades individuais.
A administração estadual será transparente.
As contas do Estado serão disponibilizadas a todos os cidadãos via internet.
A essa antiga reivindicação da sociedade pernambucana irão se somar outras medidas, como a padronização dos preços de produtos e serviços adquiridos pelo Estado, a repactuação dos contratos, a definição de nova prática para as licitações públicas, o fortalecimento das funções de controle de gestão e consulta à população, de que é exemplo claro a Controladoria, que estamos implantando. É nosso compromisso adotar o modelo democrático de gestão do Estado, com a criação de conselhos nos quais a população, diretamente ou por seus representantes, possa se fazer ouvir e reivindicar seus direitos.
A administração estadual trabalhará com unidade pol?tica.
Ela será buscada não apenas por ser natural e necessária a aliança de partidos que deu a vitória à Frente Popular de Pernambuco nas urnas em outubro.
Mas por ser esta uma exigência do povo, que terá, na unidade das forças progressistas do Estado, e na sustentação que tais forças assegurem ao governo contraponto necessário aos conservadores na defesa dos seus interesses.
Outro compromisso que assumimos de maneira firme é não transigir em relação ao equil?brio fiscal das contas públicas.
O controle das despesas será r?gido, e será constante o esforço sobre a ampliação das receitas.
No entanto, estas medidas não significarão um fim em si.
Implantaremos um equil?brio fiscal dinâmico, que assegure a estabilidade do tesouro e, ao mesmo tempo, garanta a qualidade dos serviços públicos e a capacidade de investimento do Estado.
Constitui, aliás, um dos mais sérios desafios ao novo Governo ampliar expressivamente a capacidade de investimento de Pernambuco, hoje muito baixa, de forma a garantir o cronograma de implantação dos nossos projetos de governo.
A administração estadual terá como um dos seus eixos o desenvolvimento integrado das regiões.
O acelerado processo de urbanização, a concentração do parque industrial na região metropolitana do Recife e a falta de incentivo à economia tradicional pernambucana provocaram o esvaziamento econômico de largos espaços do nosso território.
Trata-se de um processo que perdura há décadas, agravado nos últimos anos.
Para revertê-lo, será essencial a retomada do planejamento estadual em uma perspectiva integradora.
Essencial, mas não suficiente.
Ao planejamento regional precisam se agregar novas pol?ticas do Governo Federal que olhem para o pa?s na mesma perspectiva de integração das regiões brasileiras, que retomem os grandes investimentos em infra-estrutura no Nordeste e que apóiem governos que busquem a integração econômica das regiões – sempre numa perspectiva de garantia da qualidade de vida das gerações futuras, e da construção da nação brasileira que desejamos.
Senhoras e senhores Há quase 43 anos, em 31 de janeiro de 1963, Miguel Arraes de Alencar, um homem do povo, ocupou esta tribuna para dirigir-se pela primeira vez a Pernambuco na condição de governador do Estado.
A memória de seus três governos permanece viva na lembrança dos pernambucanos mais pobres, com quem doutor Arraes firmou compromissos que o levaram ao poder, à resistência à ditadura e à restauração do seu mandato por mais duas vezes.
Convivi com meu avô por mais de 20 anos.
Ele me ensinou o essencial para a vida pública: a luta sem fim pela democracia, a defesa permanente da soberania nacional, a crença na força da organização popular, o compromisso com os exclu?dos.
Dele ouvi que cada dia amanhecerá inevitavelmente, quer queiramos ou não.
Mas o nosso futuro, o futuro de brasileiros, nordestinos e pernambucanos emancipados econômica e politicamente, este nós teremos de conquistar a cada hora e a cada dia.
E só nos será poss?vel merecê-lo e conquistá-lo com trabalho e mais trabalho.
Não falta a mim, aos que comigo irão governar e ao povo de Pernambuco disposição para o trabalho.
Como também não faltam, ao compartilhar este momento com tantos companheiros de jornada, a alegria e a firme convicção de que, apesar dos desafios, ao final teremos boas contas a apresentar.
Como meu pai Maximiano Campos desejou um dia, prometo ser “servo apenas do ideal e do sonho???, e trabalhar para que Pernambuco cumpra sua vontade de justiça e grandeza.
Muito obrigado a todos