Por Luciano Siqueira*Vice-prefeito do Recife Participamos ontem de um painel sobre o tema O Brasil e a crise atual, como parte do seminário Redescobrindo o Brasil, promovido pela Cátedra Gilberto Freyre da Universidade Federal de Pernambuco (presidida pelo professor Manoel Correia de Andrade), ao lado dos professores Michel Zaidan, Alexandre Saldanha, Luciano Cerqueira e Ariovaldo Umbelino de Oliveira, este último da USP.
Além da rica discussão, ficou, a nosso ju?zo, a impressão renovada do quanto é necessário o entrosamento entre o que se pensa e se produz na academia e o que fazemos nós outros na dura e implacável labuta pol?tica cotidiana.
Lá se examinam os problemas do pa?s e de nossa região, nas mais diversas esferas, de modo sistemático e razoavelmente consistente, sob o crivo de critérios cient?ficos.
Há abordagens de real valor, que muito podem ajudar a que na gestão pública, e nas instâncias parlamentares, se encontrem soluções para os problemas candentes lastreadas no conhecimento criterioso de suas causas e dos seus condicionantes.
Mas há, nitidamente, dificuldades dos estudiosos do mundo acadêmico quando se trata de compreender o processo real através do qual as idéias são testadas na prática.
Em geral passam eles a impressão de que imaginam tudo ser poss?vel, desde que para tanto haja suficiente vontade pol?tica.
As circunstâncias concretas, o ambiente jur?dico e financeiro e, sobretudo, a correlação de forças na sociedade e nos fóruns institucionais decisórios passam muito ao largo nas análises.
Do que resulta, não raro, uma cr?tica algo sectária, doutrinária e principista – muito distante da realidade viva.
De outra parte, cabe anotar o quanto padecem muitos dos que operam a luta pol?tica cotidiana de um conhecimento mais abrangente, sistêmico e fundamentado dos problemas.
Nem precisamos ir longe.
Na própria UFPE há um acervo de contribuições de grande valor, à disposição dos (poucos) interessados.
Seminários como o que ora se realiza na UFPE dão ensejo a essa necessária e pouco perseguida aproximação entre a academia e a gestão pública e a peleja legislativa.
Mas são ainda insuficientes, pois além de pontuais, esporádicos e pouco divulgados, quase nunca guardam relação direta com a agenda pol?tica.
Nossa modesta contribuição, no painel, procurou se orientar nesse sentido, chamando a atenção para a obrigatoriedade de se examinar a atual situação pol?tica do pais sob o prisma de uma transição – contraditória, conturbada, conflituosa e sujeita a avanços e a retrocessos – do modelo de desenvolvimento vigente ao novo projeto nacional-desenvolvimentista ensaiado pelo governo Lula.
E que essa transição caminha a ritmo mais ou menos acelerado, e pode ser bem sucedida ou não, a depender da correlação de forças presente.
Quando o presidente da República trata de unir partidos e forças sociais em torno de uma plataforma de sete compromissos orientados para a plena retomada do desenvolvimento do pa?s está justamente tentado avançar na transição – ou seja, no processo de mudanças com o qual se diz comprometido.
Este tema – a transição mediada pela correlação de forças pol?ticas – bem que poderia ser objeto de um novo seminário na UFPE.
Ou em outra das nossas Universidades. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.
Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.