O caso de Olinda teve in?cio em 14 de outubro de 2005, quando um grupo de empresários, apresentados como "empreiteiros indignados", enviou uma denúncia anônima ao procurador-geral do Estado, Francisco Sales.

A documentação foi analisada inicialmente pela assessoria técnica da Procuradoria-Geral de Justiça, antes de ser enviada ao MP de Olinda no último dia 12 de setembro, para a análise e abertura do processo de investigação preliminar.

Oficialmente, o MP de Olinda abriu um processo administrativo no dia 28 de setembro.

No dia 03 de novembro, depois de um dia em campo, a reportagem do JC revelou que as quatro empresas acusadas pelo Ministério Público, no mês passado, de irregularidades na Secretaria de Obras de Olinda, manipulando concorrências milionárias, são controladas por empresários fantasmas e laranjas.

Os registros da Junta Comercial de Pernambuco relativos aos donos das empresas mostram que, no papel, são pessoas humildes que estão à frente das firmas.

Há endereços fantasmas de empresários que residiriam até em favelas, conforme constatou a reportagem do Jornal do Commercio.

A sócia majoritária da construtora Lucena Valentin, Edileuza Ribeiro de Lucena, nos registros oficiais, seria comerciante, dona de um capital social de R$ 58 mil na empresa.

Na vida real, é dona de casa e mora em Maranguape I, Paulista. "Tô sabendo (das denúncias do MP), mas não sei de nada.

Nunca trabalhei, não tenho nada.

Sou doméstica", afirmou, sem responder se seus documentos foram usados com ou sem o seu consentimento.

Uso indevido do nome A enngenheira civil Elenilda Borges da Silva, a outra sócia da construtora Lucena Valentin, informou, por meio do irmão, João Borges, que o seu nome foi usado indevidamente. "Ela foi responsável técnica pelas obras da construtora durante um tempo.

O Idinaldo Valentim convidou-a para ser sócia, mas ela não aceitou.

Falsificaram a assinatura dela.

Ela já explicou isto à Receita Federal, depois de ter sido intimada no ano passado.

O calote quem deu não foi ela.

Nós pretendemos mover um processo contra Idinaldo", revelou.

O JC conversou com Borges na casa da fam?lia, no Jardim Jordão.

Ele não quis que sua foto fosse publicada.

Pelo celular, Márcio Idinaldo Valentim de Moura, ex-sócio da Lucena e Valentim até 2000, antes da entrada de Elenilda em seu lugar, preferiu não comentar nada. "Estou sabendo (das denúncias do MP), mas não quero falar nada", afirmou, em contado intermediado pela sogra.

Nos registros da Jucepe, com um capital de R$ 15 mil, ao lado do primo José Moura Júnior, Idinaldo Valentim atualmente é sócio da construtora Thays, outra empresa que o Ministério Público suspeita ter dado cobertura nas licitações de Olinda. "Ele não é empresário.

Ele tem um caminhão e trabalha de empeleitada (sic), por conta própria", explicou o sogro João Gomes, que mora no antigo imóvel de Idinaldo, em Cavaleiro.

A sogra dele, Adelite, não soube informar para que construtora o genro presta serviço. "Trabalhamos uma vez lá em Olinda, mas não temos nada a ver com esse rolo", disse pelo celular José Moura Júnior, que também é motorista como o primo e sócio dele na Thays.

Na Porteiras Ltda, outra empresa envolvida nas denúncias, a sócia Maria da Conceição Ribeiro de Lucena, informou à Jucepe, em junho de 2005, como endereço residencial o número 505 da Avenida Conde da Boa Vista, no centro.

No local, funciona uma tradicional loja de confecção.

O sócio majoritário da empresa, Edson Alves da Silva, moraria justamente na porta da dona de casa Edileuza, da Lucena Valentin, segundo os dados da Jucepe. "Não tem morador com este nome no 2º andar.

Quem mora a? há mais de 20 anos é seu Soares", explicou o vizinho Argenor Gomes dos Santos. Única empresa com relacionamento formal com a Prefeitura de Olinda, a Construtora Da Silva e Filhos têm sócios que moram em favelas, conforme os dados da Jucepe, apesar de deterem R$ 150 mil de capital social, cada um.

Narjair Carlos da Silva informou aos órgãos oficiais que mora no apartamento 302 da Rua da Regeneração, 961.

Não existe imóvel com essa numeração. "Até a pol?cia já veio aqui procurando gente", diz Ronaldo Bernardo, atual morador do número 961.

Curiosamente, um dos sócios fundadores da empresa, Gibson da Silva, informou exatamente o mesmo endereço, sem o complemento.

O outro sócio, Alexandre Santos, informou morar no nº 41 da Rua Madri, localizada na favela por trás da Italiana, na Imbiribeira.

O número não existe no logradouro.