Por Pierre Lucena*Professor e administrador pierre.lucena@contagemweb.com.br O anúncio do Ministro Guido Mantega de que o Governo iria disponibilizar entre 10 e 15 bilhões de reais para subsidiar a construção de moradias populares veio em boa hora.

A idéia seria auxiliar a população que ganha até 5 salários m?nimos através de um subs?dio direto, com a União assumindo dois terços da prestação, e o beneficiário um terço.

Estes recursos viriam do FGTS, através de uma operação cruzada com a rentabilidade dos t?tulos públicos, o que de fato já acontecia.

Neste caso, os recursos provenientes deste fundo viriam entre o spread cobrado pelo Governo aos portadores de recursos do FGTS.

O racioc?nio é simples, o Governo expropria o trabalhador quando remunera o FGTS como algo em torno de 3%.

Com este mesmo dinheiro, o Governo compra t?tulo dele mesmo, que remunera por volta de 13,75%. É como se você emprestasse R$ 100,00 para seu amigo, ele te devolvesse daqui um ano R$ 103,00.

Porém ele não te avisou que comprou t?tulos com seu dinheiro, e ele hoje tem R$ 113,75.

No fim, ele lucrou R$ 10,75 e não te deu satisfações.

O Governo agora utilizaria este dinheiro excedente (afinal, por justiça ele não pertence ao Governo) para ajudar as pessoas que precisam comprar a casa própria.

Estas estariam na faixa entre 1 e 5 salários m?nimos.

Ainda não está bem explicado como se daria a distribuição deste dinheiro.

Se os Estados fariam as obras, se a iniciativa privada.

O certo é que esse dinheiro vai ajudar, e muito, no crescimento do setor, que segundo dados do IBGE, vai crescer por volta de 6% este ano.

Para evitar que a esculhambação tome conta deste recurso, o Governo Federal poderia propor que a Caixa Econômica Federal desse o dinheiro diretamente ao interessado, através do pagamento do carnê, que seria emitido pela construtora que fez a obra.

Desta forma, evitaria que a burocracia tomasse conta deste Projeto, que é excelente, iria eliminar o constrangimento da população com pedidos aos pol?ticos locais, e também evitaria o desperd?cio e a corrupção.

Isto seria fácil.

As construtoras fariam as casas até um determinado valor, como R$ 15.000,00, emitiriam o carnê de pagamento, e os novos proprietários pagariam, até a data deste, com o desconto de 2/3 (dois terços).

Caso não pagassem, teriam que pagar o valor cheio.

Assim evitariam também o calote e atraso nas faturas.

Falta resolver ainda como se daria o financiamento para a construtora, já que a taxa de juros ainda é muito alta.

E os empresários precisariam de dinheiro à vista para a construção destas moradias.

Outra idéia seria subsidiar os juros para estas construções.

Ao invés de analisar cada projeto espec?fico, a Caixa Econômica Federal criaria uma tabela média de mercado para avaliar o financiamento.

Porém, se o Governo resolver fazer isso através das COHAB´s estaduais, estará aberta a temporada de equ?vocos, e das 750.000 casas populares esperadas, nem metade sairá do papel.

Estou vendo muito economista dizer que a classe média deveria estar inclu?da neste pacote.

Ora, o recurso não dá pra todo mundo.

O ideal é diminuir as favelas, e não fica financiando apartamento em Boa Viagem para quem pode se programar.O que a classe média precisa é de um plano para ter taxas mais decentes de financiamento, onde a taxa de juros seja menor que a rentabilidade dos aluguéis.

Já tinha gente sonhando em subs?dio para viver à beira-mar. *Pierre Lucena, 35, doutor em finanças pela PUC-Rio, Mestre em Economia e Administrador pela UFPE, é professor-adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, sócio da Contagem Consultoria Estratégica e Pesquisa (www.contagemweb.com.br).

Foi secretário-adjunto de Educação do Estado. É Coordenador do Núcleo de Finanças e Investimentos do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE (NEFI).