Por Pedro Eugênio CabralProfessor da UFPE e deputado federal eleito Mal o presidente Lula foi reeleito e já tiveram in?cio as discussões sobre os rumos da pol?tica econômica do governo federal.
Do próprio PT vieram alguns petardos, rechaçados imediatamente pelo presidente.
O ministro Tarso Genro, por exemplo, anunciou o “fim da Era Palocci???, sendo imediatamente desmentido por Lula, que garantiu jamais ter havido tal Era, sendo a pol?tica econômica de sua inteira responsabilidade.
Duas semanas depois, o senador Aloizio Mercadante atacou defendendo uma sa?da nada nova: corte nos gastos públicos especificamente no custeio e na previdência social.
Mais uma vez o presidente Lula contra-atacou, dizendo que essa história de corte é algo velho e cansado.
E perguntou: cortar o quê?
Aonde?
E volta a falar que a pol?tica econômica deve ser a mesma, só cabendo realizar ajustes.
O que está em curso é uma luta que perpassa o governo, o PT, e só ganha conseqüência se for travada na sociedade.
Por isso, o foco da ação não pode ser o de confronto de modelos de desenvolvimento, afinal, não se trata de uma disputa acadêmica, mas pol?tica.
E, na pol?tica, nem sempre cabe enunciar formulações teóricas, mas agir.
O presidente Lula já disse o que a sociedade esperava ouvir dele: precisamos crescer em um patamar bem superior ao que temos tido e a pol?tica econômica comporta ajustes.
Politicamente o presidente não pode nem deve negar a pol?tica econômica que vigorou até hoje porque, apesar de tudo, foi ela que garantiu termos atravessado tantas tempestades sem afundar.
Poderia ter sido melhor?
Poderia.
Mas não cabe a ele especular nesta direção.
Para quê?
Para assanhar a turma do “vamos derrubar o governo????
Muito menos assumir um discurso ultraconservador de que temos que cortar gastos correntes, quando sabemos que o que sufoca as contas públicas é o serviço da d?vida interna.
O presidente já deu o tom de seu discurso.
Resta saber o que precisamos fazer, principalmente nós, eleitores de Lula, 80% dos pernambucanos, petistas ou não.
Precisamos é avançar nos tais ajustes.
Se o presidente admite fazê-los, que não se faça a? a leitura técnica do que seja ajuste, algo que tem força para alterar a essência do modelo.
Que se faça a leitura pol?tica, aquela onde o limite do ajuste será dado pelas circunstâncias econômicas, sociais e pol?ticas.
E as circunstâncias são constru?das por nós mesmos.
Como avançar substancialmente em programas de saneamento, urbanização, habitação popular, transporte público, infra-estrutura econômica?
Como realizar a revolução na educação que a nação exige?
Como fazer a saúde pública tornar-se definitivamente digna de nosso povo?
Como fazer de nossos assentamentos exemplo de produção, geração de emprego e bem-estar para o trabalhador rural?
Como destravar o antigo nó dos per?metros irrigados inconclusos ou subutilizados?
Como atacar o desafio de voltar a ter paz nas ruas?
Estas são as questões.
Se um dos desafios é estabelecer metas de inflação e superávit primário mais ajustadas às realizações nesses campos, por que enquadrá-las em um contexto de debate de modelos e não avançar no objetivo de torná-las realidade?
Se precisamos de mais investimentos públicos e privados para alavancar o crescimento, vamos definir como desonerá-los, em vez de nos perder no debate conceitual. É evidente que o debate conceitual existe e paradigmas teóricos não podem ser negados.
Mas o que está em curso é como dar viabilidade pol?tica e técnica a medidas concretas que, passo a passo, contribuam para o crescimento sustentável com distribuição de riqueza e poder.
Para além da disputa de modelos, o presidente pede que o ajudem a forjar o futuro.
Espero que a sociedade entenda o sentido de seu apelo.