Por Luciano Siqueira*Vice-prefeito do Recife Desde os debates do segundo turno e, sobretudo, do dia seguinte ao pleito em diante, o presidente Lula tem sido menos petista e mais estadista - na intenção e no gesto.

Bom para o governo, melhor ainda para o Brasil.

Não se trata de desconhecer a importância do Partido dos Trabalhadores na trajetória do operário metalúrgico que chegou à presidência do maior pa?s do subcontinente sul-americano, nem de subestimar a contribuição que inúmeros dos seus quadros têm dado ao governo, na administração e no Parlamento.

Mas é notório que um certo “modo petista de exercer o poder??? tem atrapalhado muito o presidente no governo cessante.

A idéia da coalizão é um exemplo - tese muito cara ao presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, e ao ministro Tarso Genro, do próprio PT, dentre outros aliados e auxiliares.

O resultado das urnas em 2002 não autorizava (se é que alguma maioria eleitoral possa autorizar) a constituição de um governo estreito, exclusivista.

Porém, excessivamente permeável a pressões corporativas e a interesses regionais do seu próprio partido, Lula terminou desautorizando, à época, o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que havia costurado um acordo com o PMDB destinado a assegurar uma participação importante desse partido no ministério, do que resultaria uma base parlamentar de apoio consistente.

Predominou uma solução largamente petista.

O recuo do presidente, na ocasião, gerou conseqüências muito negativas, entre as quais o surgimento de manobras como a que ganhou a rubrica de “mensalão???.

Agora, o próprio presidente toma a si o comando das articulações, comprometendo-se pessoalmente em integrar os peemedebistas ao governo, além de buscar o apoio de outras legendas, configurando uma gestão ampla e plural.

Demais, o presidente externa opiniões um tanto heterodoxas face à cultura petista, ao questionar, por exemplo, excessos burocratizantes do Ministério Público e posturas sectárias de ambientalistas alojados no Ministério da área e no Ibama, como entraves à demarragem do crescimento econômico.

Claro que algumas dessas opiniões são por natureza polêmicas e provocam criticas, mas contribuem para esclarecer questões cruciais que ficam de certa forma protegidas por teses “fundamentalistas???.

Também ajuda o PT a avançar - conforme se pode depreender das declarações do presidente em exerc?cio Marco Aurélio Garcia e do l?der petista Arlindo Chinaglia, por ocasião da reunião plenária do Diretório Nacional, ocorrida em São Paulo, no último fim de semana, reforçando o discurso atual do presidente.

Que assim seja. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.

Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.