Por Sérgio Montenegro Filho Repórter especial do Jornal do Commercio Dias atrás, os congressistas brasileiros foram surpreendidos - se é que isso ainda é poss?vel lá pelo Cerrado - com uma reportagem do jornal espanhol El Pa?s, que os classifica de "afortunados".

A matéria situou os nossos deputados e senadores entre os mais bem pagos do mundo, e apresentou provas: uma remuneração mensal de R$ 12.400, mais R$ 50.000 para pagamento de assessores, R$ 3.000 para bancar despesas com moradia em Bras?lia, R$ 4.200 para envio de correspondências, R$ 15.000 reservados para "indenizações", outros R$ 15.000 para sustentar um escritório em sua base eleitoral, além de R$ 8.300 para custeio de passagens de avião.

A reportagem do periódico espanhol, claro, gerou protestos no Congresso Nacional.

Deixou alguns dos senhores congressistas realmente indignados.

Sobretudo por afirmar que o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebêlo (PCdoB-SP), propunha um reajuste de 100% nos salários, com o objetivo de equipará-los ao dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que percebem mensalmente R$ 24,5 mil, o teto máximo permitido pela Constituição Federal.

Aldo Rebêlo, obviamente, negou a iniciativa, que, se existia, foi devidamente engavetada.

Mas essa não seria a not?cia derradeira.

Na semana passada, o Pa?s se viu atordoado com uma outra novidade: os integrantes do Supremo - os mesmos aquinhoados com os R$ 24,5 mil mensais - estariam investigando alguns colegas desembargadores que estariam recebendo valores ainda mais altos, ultrapassando o teto constitucional.

A not?cia fez com que a presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Ellen Gracie, se apressasse em apresentar um estudo feito pelo CNJ, que comprovou a existência de supersalários pagos aos magistrados.

Foram identificadas ilegalidades - nome bonito para classificar os marajás que ganham acima do teto - em 19 dos 27 tribunais de justiça estaduais, além de "pontas soltas" em tribunais regionais federais, como o da 5ª Região - situado em Pernambuco.

Ao todo, 2.978 magistrados e servidores públicos estariam ganhando uma remuneração irregular.

Mais elevada que o permitido, é claro.

Somente em São Paulo, foram identificados 1.208 casos.

De acordo com Ellen Gracie, o CNJ vai oficiar os tribunais para que façam os devidos "ajustes".

Dito isto, vale a pena fazer um rápido cálculo, tomando como base o salário m?nimo do Pa?s, que hoje é de R$ 350,00.

Se cada um desses marajás do Judiciário receber apenas o teto máximo de R$ 24,5 mil - e nenhum centavo acima, sem ilegalidades -, terá direito, mensalmente, à bagatela de 70 salários m?nimos.

Valor que um trabalhador braçal levaria quase seis anos para juntar, sem gastar um tostão.

Não precisa dizer mais nada. * A coluna desta semana é dedicada ao grande Puccini