Por Fábio ZaniniDa Folha de São Paulo Presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, 65, diz que o partido e seus aliados vão precisar de muito mais do que os oito anos de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva para mudar profundamente o pa?s. (…) Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

FOLHA - O PT aceita o crescimento do PMDB no governo?

MARCO AURÉLIO GARCIA - Acho positivo se o PMDB puder ter participação não mais setorial, tangencial, mas participação mais ampla.

Mas vou recusar a discussão quantitativa.

Acho isso secundário.

FOLHA - Será que o PMDB também acha?

GARCIA - Basicamente vai ter que se colocar qual a adesão ao governo, quais são os quadros, até porque não é uma participação qualquer.

Seja quem for, PMDB, PSB, PT, tem que ser qualificada.

FOLHA - Lula então pode recusar nomes levados pelo PMDB?

GARCIA - O presidente sempre tem esse poder.

FOLHA - A partilha de cargos foi um dos grandes problemas do mandato.

Há uma reivindicação antiga dos partidos de que haja "porteira fechada" nos ministérios.

Isso vai acontecer?

GARCIA - Minha opinião é que pode ocorrer, mas não deve ser um critério, ainda que o ministro tenha incidência muito grande na escolha.

Ocorre com freqüência ter pessoas com muita qualificação, que podem ocupar um cargo de destaque num ministério, autarquia.

FOLHA - Mas esse é o DNA do escândalo do mensalão.

Começou como disputa pelo fatiamento dos Correios.

Não é receita para mais problemas no futuro?

GARCIA - No caso dos Correios, as coisas entornaram porque vários nomes que tinham sido propostos não foram aceitos, não eram pessoas consideradas com idoneidade.

Foi uma das razões pelas quais a fúria de um determinado personagem [o ex-deputado Roberto Jefferson] se desencadeou.

FOLHA - Por que o sr. briga tanto com a imprensa?

GARCIA - A imprensa é que tem brigado comigo.

Sempre que eu dou uma opinião que não corresponde à pergunta, que muitas vezes é uma tese, as pessoas caracterizam minha opinião como "visivelmente irritado".

FOLHA - Mas quando o sr. disse "cuidem de suas redações que nós cuidamos do PT", o sr. estava irritado?

GARCIA - Não me lembro estritamente do contexto, mas naquele momento havia uma cobrança sobre determinados aspectos da vida interna do PT, que eu achava que podiam se aplicar à vida interna das redações.

Foi um comentário lateral, que, se for o caso, eu retiro.

Agora, quem ficou muito irritada foi a imprensa quando eu disse que ela deveria fazer uma reflexão.

FOLHA - O que é "democratizar a m?dia"?

O sr. pode traduzir?

GARCIA - É ter uma imprensa menos monocórdia.

Eu acho que alguns problemas vão se resolver da forma que a imprensa acha que se resolve, através do mercado.

Uma parte da imprensa hoje perdeu enormemente a credibilidade.

Ela se posicionou fortemente contra a candidatura Lula e foi derrotada nessa eleição.

Se você ouvir determinadas rádios, vê três ou quatro comentaristas que se seguem, batendo sempre na mesma tecla.

Me diga algum comentarista, ao não ser um ex do seu jornal, o [Lu?s] Nassif, que hoje tenha uma posição diferente.

O Vinicius [Torres Freire, colunista da Folha], talvez.

Nem sempre ele está nessa linha, o Vinicius é uma pessoa mais independente.

Mas a imensa maioria dos comentaristas de economia vem da mesma malta.

FOLHA - É deixar para a mão invis?vel do mercado então?

GARCIA - Não é só isso.

A única mão invis?vel que funciona no Brasil é a do batedor de carteiras [risos]. (…) FOLHA - Estourou mais um escândalo petista [a prisão do deputado eleito Juvenil Alves, de MG].

Sempre que isso acontece vocês dizem que é um caso isolado.

Deve ser o décimo "caso isolado" no último ano.

Não é um problema sistêmico do partido?

GARCIA - Com todos os partidos.

O PT não está recrutando seus quadros em mosteiros nem conventos.

O problema da ética não está no fato de ocorrerem situações como essas, mas no fato de que elas sejam detectadas e que haja punição.

FOLHA - Em 2010 o PT vai ter que encontrar um novo candidato a presidente.

Como superar a "Luladependência"?

GARCIA - Não estou pensando nisso ainda.

Terei grande empenho em que o PT tenha o seu candidato.

Mas se não tiver, pode se associar a outra candidatura. (…) FOLHA - O PT vai ter que pôr dinheiro do partido para fechar as contas de Lula?

O presidente tem que entregar a prestação de contas na próxima semana…

GARCIA - Acho que a gente vai conseguir resolver, não sei se consegue resolver tudo imediatamente, mas acho que vai conseguir.

O PT interaria se houver problema.

Leia aqui a ?ntegra da entrevista. (Assinantes Folha e UOL).