Por Luciano Siqueira*Vice-prefeito do Recife O presidente Lula fala e age como quem deseja realmente trabalhar, no seu segundo mandato, num ambiente marcado por duas condições que lhe faltaram até agora: ampla e consistente base pol?tica e social; e diálogo mutuamente respeitoso com a oposição (PSDB, sobretudo).

Tem recolhido a boa receptividade de alguns, de outros a recusa temperada pela ironia e pela desconfiança.

A pergunta é: o presidente tem alguma chance?

Chance de governar com maioria no Parlamento e alargada base social, sim.

Está nos mapas eleitorais do segundo turno e na aliança com o PMDB, em vias de se concretizar.

Também está no otimismo manifestado por significativos segmentos empresariais, que reclamam de obstáculos como as altas taxas de juros (que continuam caindo, reconheça-se), por exemplo, mas dão sinais de crença de que é poss?vel fazer a economia crescer em 2007 mais do que os pessimistas esperam, embora não necessariamente a uma taxa de 5% como deseja o presidente.

Ademais, a opção eleitoral da grande massa situada nas camadas mais pobres é também um fator de governabilidade importante, não o subestimemos.

Quanto ao comportamento das correntes de oposição, há muita dúvida.

Não há uma oposição razoavelmente homogênea, é evidente, embora o conjunto d?spare das suas diversas vertentes tenha convergido, durante a campanha, atuando na prática como um bloco que somou o PFL e o PSDB ao P-SOL e ao PSTU, com o PDT de Cristovam Buarque de contrapeso.

Todos direcionaram seus ataques ao adversário comum, Lula.

Além disso, tendo centrado suas baterias na chamada questão ética, essas correntes fraquejaram quanto a propostas para a solução dos gargalos do crescimento econômico.

Mesmo Geraldo Alckmin, que nos debates do segundo turno pôde ir ao confronte de idéias, mas se atrapalhou ao reapresentar proposições testadas (e superadas) no per?odo de Fernando Henrique Cardoso, mesclando-as com formulações contraditórias com seus compromissos programáticos, como na polêmica sobre a privatização de empresas estatais consideradas estratégicas.

Sem um ideário claro nem uma estratégia definida, a oposição corre o risco de resvalar para a obstrução pura e simples, como no emblemático caso da tramitação, no Senado, da Medida Provisória do Fundeb.

Se assim ocorrer, será ruim para o pa?s e péssimo para o governo, que precisa ser democraticamente fiscalizado por uma oposição consistente e responsável. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.

Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.