Por Inaldo SampaioColunista de Pol?tica do JC O deputado federal não-reeleito Joaquim Francisco (PFL) afirma, nesta entrevista ao JC, que uma das causas da derrota do governador Mendonça Filho (PFL) diante do socialista Eduardo Campos foi o seu excesso de subordinação aos marqueteiros da campanha. (…) JORNAL DO COMMERCIO – O senhor já fez uma auto-análise sobre o seu insucesso eleitoral?
Era tido na aliança governista como um dos favoritos, mas não se reelegeu.
O que houve?
JOAQUIM FRANCISCO – Em primeiro lugar faltaram votos para que eu garantisse a reeleição.
A legenda do PFL ficou alta.
Tive 70 mil votos em 2002 e quase 75 mil votos em 2006, mas necessitava de um pouco mais.
Em segundo lugar, as expectativas eleitorais que eu tinha em alguns munic?pios do interior ficaram aquém do esperado.
Munic?pios onde eu esperava ter uma votação maior, como Timbaúba, por exemplo, tive uma votação menor.
Foi um processo que me atingiu, individualmente, mas atingiu também o partido como um todo, que tinha 8 deputados federais e reelegeu apenas três (Roberto Magalhães, André de Paula e José Mendonça).
Eu poderia ter sido eleito em outros partidos, onde a legenda era um pouco mais baixa, mas isso faz parte do jogo pol?tico.
Perdi, mas considero que a minha votação foi bastante expressiva.
JC - Numa entrevista recente à Rádio Jornal, o senhor reclamou de “ingratidões???.
Acha que a aliança não fez pelo senhor aquilo o que o senhor realizou por ela?
JOAQUIM – Eu disputei uma eleição proporcional e hoje me acho convencido de que se o PFL também tivesse se coligado com os outros partidos da aliança (PMDB e PSDB) para deputado federal, talvez tivesse conseguido um desempenho melhor.
Poderia ter elegido deputados com um percentual inferior a 80 mil votos (elegeram-se com menos do que isso Fernando Ferro, Marcos Antonio, Wôlney Queiroz e Paulo Rubem Santiago).
Portanto, não me considero injustiçado pelo conjunto da aliança.
Considero que alguns dos seus integrantes tiveram maior êxito porque durante certo per?odo tiveram uma maior participação em n?vel de governo, em termos de realização de obras, o que não ocorreu comigo.
JC - Antes da eleição, o PSDB reuniu sua executiva e tomou a decisão de não se coligar com o PFL e o PMDB para a Assembléia Legislativa, só para a Câmara Federal, que é o que realmente lhe interessava.
A decisão do PFL de aceitar esses “pratos feitos??? era tomada por quem?
JOAQUIM - Essas decisões sempre foram tomadas pela cúpula da aliança e uma dessas deliberações prejudicou muitos companheiros.
Tudo isso serve de ensinamento para que, no futuro, possamos discutir essas questões de uma maneira mais ampla, mais democrática.
Poderia ter havido uma maior participação, uma maior integração, um maior diálogo entre nossas forças pol?ticas, mas infelizmente isso não houve.
JC - O senhor, em algum momento da campanha, imaginou que Mendonça Filho pudesse perder a eleição por esse placar tão elástico?
JOAQUIM - Não, não imaginei.
Eu cheguei a admitir internamente para os meus amigos e companheiros que nós pudéssemos não ter êxito na eleição majoritária, mas com esse percentual, jamais, o que demonstra claramente que muitos erros foram cometidos.
Mas o melhor conselheiro nesse momento é a humildade.
Devemos fazer uma análise sobre os erros que foram cometidos durante o processo eleitoral para tentar corrigir isso no futuro.
Até porque, na minha visão, a aliança está profundamente comprometida.
Não vejo mais espaço para que se mantenha a aliança com esse resultado que obtivemos e com as fraturas que foram criadas, e que por certo tendem a se aguçar em vez de diminuir.
JC - Está admitindo, então, que o PFL, nos próximos pleitos, deve concorrer em faixa própria?
JOAQUIM - É.
Partido que não disputa não vence.
Temos que analisar os erros cometidos e partir para o fortalecimento do PFL a fim de disputarmos as próximas eleições.
Podemos perder ou ganhar mas fortalece a unidade partidária e também os companheiros de partido.
O PFL sofreu bastante com a derrota do nosso candidato a governador e da grande maioria dos integrantes da bancada federal.
E vamos ter ainda muitas defecções até que o quadro partidário se estabilize.
JC - Concorda com Inocêncio Oliveira, para quem a aliança perdeu a eleição por “fadiga de material prematura????
JOAQUIM - Houve isso também, porque à medida em que você fica muitos anos no poder, há naturalmente uma fadiga de material.
Hoje, passado o per?odo eleitoral, a gente pode ver com maior isenção que a condução do processo se deu de certa forma meio isolada, sem a participação da maioria dos membros da aliança, que de alguma forma poderiam ter contribu?do para o sucesso eleitoral do nosso candidato.
Você não faz uma campanha pol?tica só na base do tracking (pesquisa pelo telefone), da pesquisa quali (qualitativa) e da pesquisa quanti (quantitativa).
Se fosse assim não precisava haver eleição.
Bastava contratar um marqueteiro e ganhar a campanha. style="FONT-SIZE: 10pt; COLOR: black; FONT-FAMILY: Verdana"> JC - Quando o senhor fala em “erros cometidos???, quais os que mais teriam influenciado o resultado negativo de Mendonça Filho?
JOAQUIM - Eu acho que houve um certo isolamento do chamado “campo decisório???.
Todos ao passos dados na campanha foram decididos por um pequeno grupo, que não permitiu ou não aceitou a opinião e a sugestão de outros membros do PFL.
Roberto Magalhães já se pronunciou a esse respeito e o caso do senador Marco Maciel também é flagrante.
Havia um núcleo que tomava as decisões sem considerar o ponto de vista daquelas pessoas que estavam nas ruas visitando as bases, participando de debates, conversando no dia a dia com a população.
Isso isolou o núcleo decisório e resultou nesse insucesso eleitoral a que estamos assistindo hoje.
Leia aqui a ?ntegra da entrevista (assinantes JC e UOL).