Por Luciano SiqueiraVice-prefeito do Recife O segundo turno no pleito presidencial teve, num primeiro momento, um impacto negativo entre as forças pol?ticas e sociais que defendiam a reeleição do presidente Lula.

Em pouco mais de uma semana a diferença tanto em relação a Alckmin como aos demais concorrentes, que era larga e suficiente para liquidar a parada já no primeiro turno, se reduziu consideravelmente, causando uma impressão de que a ascensão do tucano prosseguiria.

A tradição de pleitos muito disputados indica que quem passa ao turno seguinte em desvantagem, mas crescendo, ultrapassa o adversário e vence.

Salvo quando a distância é muito dilatada, como ocorreu entre o próprio Lula e Serra, em 2002.

Agora, em tempo de avaliações, é poss?vel anotar que o segundo turno foi benéfico - para o presidente reeleito e, sobretudo para o pa?s.

Para o pa?s porque proporcionou a elevação do debate pol?tico, colocando em relevo questões que, assim, ganharam amplo conhecimento por parte da opinião pública.

As consignas de Lula - desenvolvimento com distribuição de renda, integração do subcontinente sul-americano, educação de qualidade - foram questionadas à exaustão por Alckmin.

O problema das privatizações de empresas estatais consideradas estratégicas para um projeto de desenvolvimento soberano - tema maldito no per?odo de FHC -, ganhou tamanha centralidade a ponto de Alckmin envergar, diante das câmaras de fotógrafos e cinegrafistas, uma jaqueta contendo distintivos das principais empresas e bancosestatais como sinal do compromisso de não privatizá-los. "The Economist", importante publicação inglesa vinculada ao grande capital internacional, publicou, na ocasião, um editorial intitulado "Procura-se quem defenda as privatizações", referindo-se à mudança de posição do candidato tucano e lamentando o enfraquecimento do ideárioneoliberal no Brasil.

A popularização desses temas contribui sensivelmente para a elevação do n?vel de compreensão pol?tica da população.

Para o presidente reeleito o segundo turno ensejou que alargasse a frente pol?tica e social que o apoiava, além de conquistar consagradores 58 milhões de votos.

Elegeu-se, então, com base de sustentação muito mais sólida do que há quatro anos atrás.

E também com compromissos mais n?tidos perante o eleitorado.

O que lhe confere uma renovada e mais consistente responsabilidade histórica. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.

Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.