Por Luciano Siqueira*Vice-prefeito do Recife Presidente reeleito, novo governo.
Natural que se discuta os rumos da economia, vale dizer, os rumos do pa?s, na expectativa de que o segundo mandato do presidente não seja apenas continuidade, inove.
Inovar em matéria da gestão econômica é enfrentar o gargalo do crescimento econômico, não há como escapar.
Da? o debate que toma corpo, que alguns rotulam, simplificando, de conflito entre desenvolvimentistas versus monetaristas.
Claro que há concepções d?spares na base das posições ensaiadas agora, que já se digladiam no interior do governo Lula desde o in?cio do primeiro mandato, e que de certa forma se enquadram nessa rotulação.
Mas as coisas não são simples, há que se enfrentar um conjunto de variáveis de natureza interna e internacional.
Quer um exemplo?
O controle da conta de capitais, para colocar um ponto final na farra do chamado capital volátil que entra e sai no pa?s ao sabor das taxas de juros praticadas aqui e alhures.
Inúmeros pa?ses estabelecem regras para evitar que esse expediente, fator de vulnerabilidade externa da economia, ocorra livremente.
O Chile é um deles.
Os tigres asiáticos, idem.
E assim por diante.
Mais cedo ou mais tarde haveremos de fazer nosso próprio controle. É uma necessidade objetiva, na seqüência das medidas exitosas adotadas pelo governo no sentido da relativa estabilidade econômica e monetária.
Mas, atenção!, quando essa medida for adotada, ninguém pense que será anunciada de véspera.
Tomaremos conhecimento de madrugada, no Diário Oficial da União online.
Para que em fração de segundos não ocorra uma tremenda e danosa evasão de capitais – grande parte de próprios investidores brasileiros.
Moral da história.
Vamos ao debate, sim, acerca dos almejados novos rumos da economia.
Sem simplificá-lo, entretanto.
Porque se é evidente que a solução é eminentemente pol?tica, depende em última instância do convencimento e da vontade do próprio presidente, há elementos de ordem técnica, complexos, que precisam ser equacionados.
Para que a mudança aconteça com segurança, a salvo de qualquer rompante voluntarista.
O crescimento do PIB a 5% este ano, anunciado em perspectiva pelo próprio presidente, contrasta com as previsões até o momento fixadas por analistas de diversas tendências, que oscilam entre 2,5% a 3% - desempenho que nos deixaria ainda aquém da taxa mundial presum?vel de 5,1% e de 4,8% para a América Latina.
Para chegarmos ao que o presidente deseja – e a sociedade brasileira, idem – teremos que provar, na prática, segundo apontam alguns especialistas, que a demarragem do crescimento não é contraditória com a estabilidade econômica, desde que o governo consiga reduzir os encargos financeiros e alongar os prazos de vencimentos dos t?tulos da d?vida pública, persistir numa pol?tica cambial que preserve os altos superávits comerciais e não arrefeça o controle inflacionário.
Uma engenharia econômico-financeira que reclama respaldo pol?tico – que, tudo indica, o presidente terá, no Parlamento e na sociedade, mais amplo e mais consistente do que no primeiro mandato.
A conferir. *Luciano Siqueira, 60, médico, é vice-prefeito do Recife há duas gestões.
Foi candidato a senador pelo PCdoB, na última eleição, e deputado estadual em Pernambuco nos anos 80.