Da Agência Estado As derrotas do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) na Bahia e do ex-presidente José Sarney - com sua filha Roseana - no Maranhão, nas últimas eleições, refletem os choques entre o velho coronelismo e um eleitorado de cultura cada vez mais urbana, mas são conseqüência, também, do fenômeno eleitoral Luiz Inácio Lula da Silva. face=Verdana>"Bolsões de coronelismo continuam, em n?veis locais.

E projetos como o Bolsa-Fam?lia estão apenas trocando alguns desses chefões por um grande pai dos pobres", adverte o sociólogo José Arlindo Soares, professor de pós-graduação da Universidade Federal da Para?ba.

Há vários "Nordestes", avisa Soares. "O de Sarney, no Maranhão, tem ?ndices de pobreza terr?veis e, em matéria de lideranças pol?ticas, parece caminhar para um vazio." A Bahia é diferente, compara. "ACM montou em torno dele um grupo modernizador, de mentalidade gerencial, que tem expressão e ra?zes na sociedade, mas misturadas com seu t?pico autoritarismo." Ele observa que o futuro dessas relações dependerá do que o novo governo Lula fizer. "Por enquanto, ele mostrou pouco, mas deu aos pobres uma utopia." As derrotas de ACM na Bahia e de Sarney no Maranhão apontam para o fim do coronelismo?José Arlindo - A sociedade se urbaniza.

E há um peso maior desse eleitorado, que quebra as pol?ticas tradicionais de clientela.

Isso ocorre no Brasil, como um todo, mas em especial no Nordeste.

Mas não é um fenômeno simples.

Veja o ACM: ao mesmo tempo em que mantém fortes laços de dom?nio local, com estrutura hierarquizada, controle de prefeitos e chefes de áreas, também promoveu uma modernização gerencial importante no Estado.

O carlismo tem implementado programas estruturadores nestes últimos anos na Bahia, ainda que as informações sobre educação e saúde não sejam boas.

Então o carlismo vai sobreviver?JA - O carlismo tem vivido de per?odos. Às vezes se esgota, enfraquece e depois retoma a força.

Hoje é minoritário na capital, tem relativo apoio no interior, e entre setores mais humildes.

Sofre uma fadiga de material.

Em 1986, ACM foi eleitoralmente varrido por Waldir Pires, que se mostrou inepto. É dif?cil dizer se sua derrota é uma grande queda.

Depende do governo do PT.

Se a oposição ao carlismo não constituir uma força estruturadora, mais audaciosa politicamente do que ele, ACM pode voltar.

O que significa a derrota da fam?lia Sarney no Maranhão?JA - Esse é um exemplo do coronelismo em seu sentido mais atrasado.

Sarney não modernizou o Estado, cujos indicadores sociais são os mais degradantes do Brasil.

Sua liderança vai perdendo ra?zes.

E o novo governador, Jackson Lago, já não é novo.

Em matéria de lideranças, vejo o Maranhão caminhando para um vazio.

O autoritarismo de chefes locais no Nordeste continua forte?JA - Existem vários "Nordestes".

Nas capitais, o voto se parece com o do Centro-Sul.

No interior, por causa da pobreza, ainda há margem para o mandonismo e pol?ticas vinculadas a chefetes locais.

O fato é que o coronelismo, como fenômeno, vem se desmilingÙindo lentamente, num processo não uniforme, há uns 30 ou 40 anos.

Pernambuco sempre teve um movimento de esquerda mais ativo, com a figura de Arraes.

O autoritarismo no interior subsiste?JA - Em Pernambuco os traços do coronelismo foram desaparecendo por causa da esquerda, que sempre trabalhou com frentes e ia procurar dissidentes nas áreas rurais.

Miguel Arraes fez isso por muito tempo.

Mas ele não conseguiu dar um salto, pois retomou os métodos de clientela dos coronéis.

Deu-lhes um verniz ideológico, mas eram projetos t?picos do clientelismo. É diferente em outros Estados?JA - O Ceará tem de tudo, grandes centros urbanos e áreas de muita pobreza.

Mas o que fez Tasso Jereissati, presidente nacional do PSDB, ex-governador?

Ele abandonou o seu candidato no Estado para apoiar o do partido que é seu adversário no plano nacional. É a submissão ao poder de mando local.

No Rio Grande do Norte é mais conjuntural.

Tanto Garibaldi Alves (PMDB) como Wilma de Faria (PSB) pertencem a fam?lias com força no eleitorado urbano e têm um pé nas hierarquias rurais.

O que definiu foi o apoio de Lula.

Onde entra, nesse cenário, o Bolsa-Fam?lia?JA - Dá mais autonomia ao eleitor em relação ao chefete local.

O cartão, que é sua fonte de sustento, vem de uma relação com um banco.

Mas o cadastramento é feito pelos prefeitos e o governo Lula fez ponte direta com eles.

No governo FHC eram utilizados para o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e o Bolsa-Escola os canais institucionais.