Por Pierre LucenaProfessor e administrador pierre.lucena@contagemweb.com.br Há alguns dias, uma parte do mercado financeiro iniciou um processo de fritura do Ministro da Economia, Guido Mantega.

Esse processo teve in?cio com poss?veis especulações de substitutos no segundo mandato do Presidente Lula, e deve se intensificar nos próximos dias.

O que mais impressiona nisso tudo é que, em nenhum momento, houve uma sinalização negativa do Presidente em relação ao desempenho do seu Ministro, muito pelo contrário, o principal motivo da reeleição de Lula foi o bom momento econômico pelo qual o pa?s vive.

Eu tenho uma desconfiança.

Durante muito tempo, os tecnocratas que chefiavam o Banco Central faziam o que bem entendiam, e não davam a menor satisfação, sob o pretexto de que era preciso passar confiança ao mercado financeiro, e que era necessário o m?nimo de influência pol?tica para que os investimentos continuassem a vir para o Brasil.

Esse argumento fez com que o Governo se rendesse, durante mais de 10 anos, à elite bancária, e abrisse mão da determinação de sua pol?tica monetária, entregando àqueles que têm interesses opostos, a determinação da principal variável macroeconômica do pa?s: a taxa SELIC.

A taxa SELIC é o que chamamos de custo de oportunidade do capital.

Essa taxa seria, por teoria, a remuneração que o Governo estaria disposto a pagar àqueles que adquirissem t?tulos públicos.

Assumimos também que os t?tulos públicos teriam risco igual a zero, neste caso, todos optariam por comprar t?tulos se tivessem investimentos mais arriscados que remunerassem menos.

Um aumento na taxa SELIC, ao mesmo tempo em que significa retorno para aqueles que têm poupança dispon?vel, aumenta o estoque da d?vida pública, e desestimula novos investimentos, já que seria mais vantajoso aos portadores de recursos a compra de t?tulos governamentais.

A determinação da taxa de juros é tarefa do Conselho de Pol?tica Monetária, e esta é influenciada por algumas variáveis, principalmente pela taxa de inflação futura esperada, pelo n?vel de atratividade dos t?tulos públicos (neste caso a confiança dos investidores no retorno dos investimentos), e pelo câmbio, já que a taxa de juros mais alta atrai capital especulativo externo.

Pois bem, desde que o Ministro Guido Mantega assumiu o Ministério da Economia, podemos observar uma inflexão na curva de taxa de juros, levando a mesma a patamares mais civilizados, e com perspectivas mais otimistas para a economia brasileira nos próximos anos.

Essa queda na taxa de juros tem forte fundamentação econômica, já que temos inflação abaixo da meta, risco soberano (Risco Brasil) no n?vel mais baixo já registrado e superávit na balança comercial.

Mesmo com todos os indicadores favoráveis ao Ministro, uma parte da imprensa começa a especular sua substituição, como se o Presidente Lula estivesse procurando alguém forte politicamente para comandar a pasta mais importante do Governo.

Certamente o setor financeiro, em especial os bancos, anda muito incomodado com o bom desempenho do Ministro, pois de certa forma, o Presidente do Banco Central, representante máximo dos banqueiros no Governo, está virando uma espécie de Rainha da Inglaterra.

Estuda-se sim, a substituição de alguns de seus diretores, para que o Governo, agora fortalecido nas urnas, comece a ter autonomia na sua pol?tica monetária.

Seria de bom grado que, o setor produtivo, em particular a CNI e a FIESP, comprasse abriga pelo Ministro, dando a ele força pol?tica, já que é o maior interessado na chamada “visão desenvolvimentista???.

Não vai demorar muito para que apareça um porta-voz para dizer que a pol?tica econômica precisa melhorar, que o Governo gasta muito e gasta mal, que é preciso autonomia do Banco Central.

Em resumo, a mesma conversa de sempre, normalmente sentenciada por alguém com forte cunho acadêmico, para dar credibilidade.

Adivinha onde esse porta-voz trabalha.

Com certeza em algum banco.

Como bem disse o Ministro Tarso Genro: “A Era Palocci acabou???. *Pierre Lucena, 35, doutor em finanças pela PUC-Rio, Mestre em Economia e Administrador pela UFPE, é professor-adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, sócio da Contagem Consultoria Estratégica e Pesquisa (www.contagemweb.com.br).

Foi secretário-adjunto de Educação do Estado. É Coordenador do Núcleo de Finanças e Investimentos do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE (NEFI).