Por Bob FernandesDo portal Terra O presidente do PT e coordenador da recém finda campanha do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, conversou com Terra Magazine sobre suas relações com a imprensa e as relações do governo com toda a m?dia.
Diz que propõe uma "auto-reflexão" à imprensa, e que ela poderá fazê-la ou não, mas que essa mesma m?dia, que tem cobrado que todos se submetam às cr?ticas, também poderia fazê-lo.
Terra Magazine - O senhor, nas últimas horas, tem se atritado com a imprensa.Marco Aurélio Garcia - Eu falo quase todo dia com a imprensa, falei diariamente na campanha, tenho a convicção de que é obrigação de qualquer homem público falar com a imprensa, agora, eu me permito sempre não apenas responder perguntas, mas também refletir e questionar publicamente sobre algumas dessas perguntas.
O que o senhor quer dizer com isso?Muitas vezes alguns jornalistas já vêm pautados e, ao invés de uma pergunta, o que fazem é enunciar uma tese que pede apenas a confirmação do entrevistado, tese essa que não costuma admitir discordância.
Outro dia, um jornalista me perguntou "por que o presidente não quis discutir reformas fundamentais como a da previdência, trabalhista, sindical e o corte de gastos".
E eu respondi: "Essas são questões importantes, mas para a maioria do povo brasileiro, para o presidente e para mim, não são \fundamentais\ como são para você.
São, isso sim, importantes".
Mas o que aconteceu na terça-feira?Uma jornalista me perguntou sobre ameaças que jornalistas teriam sofrido (NR: segunda-feira, repórteres ouviram apupos na chegada do presidente ao aeroporto de Bras?lia e repórteres da Veja acusaram a PF de tê-los intimidado).
Primeiro, quero ressaltar que a pol?cia não está investigando jornalistas, e sim algo que jornalistas disseram que a teria envolvido e acontecido em suas dependências.
Ao responder, disse que a imprensa teria que fazer uma reflexão sobre a tese do mensalão e disse também, reafirmo, que acho deplorável e condeno qualquer coisa que atinja a liberdade de imprensa.
Em relação a essa vitimização, tem a história dos profissionais da Veja que foram à PF depôr.
Esse é um exemplo.
Se o jornalismo investigativo tivesse sido feito, a procuradora teria sido ouvida para confirmar ou não o acontecido.
E ela não apenas não confirmou como divulgou uma nota afirmando que isso não ocorreu.
Aliás, eu agora mesmo respondi a um e-mail de Diogo Mainardi e mando para vocês uma cópia.
O entrevero seu na terça-feira foi, se não me engano, quanto ao "mensalão?Outro me abordou sobre mensalão, e eu respondi que mensalão não me parece uma realidade objetiva, provada e comprovada, mas sim uma construção jornal?stica inspirada numa grande reserva moral do Pa?s que é Roberto Jefferson.
Para que o mensalão deixasse de ser tese e ganhasse consistência seria necessário que o jornalismo investigativo estabelecesse conexões entre votações e a compra de deputados.
Mas não houve o mensalão?O que houve, e é muito grave, foi a utilização do caixa para campanhas eleitorais, fossem elas do PT - o que explica deputados do PT recebendo dinheiro ilegal - ou fossem elas de outros partidos.
Mas hoje, no imaginário popular, o mensalão é algo sobre um grupo de parlamentares que vendeu suas posições para receber algo ao final de cada mês.
Isso é, repito, uma mera construção jornal?stica, independente da gravidade de fatos que existiram.
A quê, exatamente o senhor se refere?Tenho o direito de dizer de público - e estou dizendo - que recebo informações sobre o mal-estar que está se passando em redações, que tenho recebido informações de pessoas que estão cancelando ou anunciando o cancelamento de assinaturas de jornais e revistas, e isso não é uma campanha minha.
Não temos nada com isso, mas me dou o direito de propor a auto-reflexão, que a m?dia fará ou não. É uma decisão que não me cabe.
Qual é o pano de fundo disso tudo?Há um movimento de alguns órgãos de comunicação de vitimizar-se e, assim, fazer com que essas observações sobre a m?dia possam soar como censura.
Essa sim é uma postura antidemocrática, de quem considera que tudo no Pa?s pode e deve ser criticado, o que de fato deve acontecer, mas que quer colocar-se acima da sociedade e não como uma parte dela que também deve ser vista com olhar cr?tico.