O mundo gira, mas gira tanto que as pessoas sobram tontas.

Em 1986, Pernambuco viveu uma das disputas mais ideológicas de sua história de campanhas ao governo.

Mal t?nhamos sa?do do longo e tenebroso per?odo militar.

Na arena da corrida ao Palácio do Campo das Princesas, havia dois ?cones.

Um da direita.

Outro da esquerda.

Na esquerda, concorria Miguel Arraes de Alencar, do PMDB, ex-prefeito do Recife e governador deposto pelo golpe de 64 por causa das suas profundas ligações com os movimentos populares.

No lado oposto, um jovem e bem nascido filho de usineiros chamado José Múcio Monteiro, do PFL.

Era uma guerra do Bem contra o Mal.

Na verdade, muito mais do que o confronto entre a direita e a esquerda – quando isso tinha uma carga incr?vel de significado.

Era a luta do atraso, da Casa Grande, contra o futuro e a Senzala.

Uma coisa do Pernambuco profundo, como diriam os franceses.

A briga foi tão intensa que na escola, no Nóbrega, aqui no Recife, promov?amos debates, escolhendo colegas de classe para representar cada um dos candidatos.

Pois bem, passados vinte anos, não é que estavam todos lá, na noite deste domingo, juntos, para comemorar "a vitória de dr.

Arraes", como disse Eduardo Campos (PSB), seu neto, na primeira entrevista que concedeu, no Recife, após vencer a disputa com Mendonça Filho (PFL).

Arraes, mais presente do que nunca.

E o mesmo José Múcio Monteiro, agora no PTB, com a cabeleira já grisalha, mas recuperada, aliado de Eduardo desde criancinha.

A certa altura, ao lado de Eduardo, Múcio dirigiu-se a dona Madalena: "Não pude comemorar em 1986, mas comemoro agora".

Múcio, naquele ano, perdeu a guerra para Arraes.

Ontem, só faltou Jarbas.

Quem sabe após o mandato dele no Senado, daqui a oito anos.