Convidado para disputar o Senado contra Jarbas Vasconcelos, o eleito, recusou.
Concordou apenas em ser o primeiro suplente do deputado federal Jorge Gomes, candidato a senador na chapa de Eduardo Campos.
Ao longo da campanha, porém, o escritor Ariano Suassuna, 80, conquistou de tal forma a simpatia dos eleitores que, na verdade, transformou-se numa espécie de suplente de mito, suplente de Miguel Arraes.
Por onde andou, ao lado de Eduardo, mexeu com multidões.
Animou com?cios e carreatas.
Mesmo sendo um cantor terr?vel, com voz incrivelmente ruim, conseguiu fazer da canção "Madeira que cumpim não rói", de Capiba, o hino da campanha do socialista.
Abaixo, algumas de suas idéias, publicadas na edição de hoje do Jornal do Commercio. "Sou militante, não fico em cima do muro" Do Jornal do Commercio Estrela principal da campanha ao governo do Estado do socialista Eduardo Campos (PSB), o escritor Ariano Suassuna põe em evidência, quase aos 80 anos, a veia pol?tica que ao longo da vida preferiu exercer na literatura e como coadjuvante nas campanhas eleitorais.
Um traço herdado do pai, João Suassuna, ex-govenador da Para?ba, com quem pouco conviveu, assassinado que foi no embate radical que se seguiu à revolução de 1930.
Em entrevista coletiva, sexta-feira passada, Ariano revelou: "Não fico em cima do muro".
Abaixo, trechos da entrevista.POL??TICA AOS 80 "Já participei de muitas campanhas, nunca deixei de militar politicamente, inclusive em campanhas.
Não é a primeira vez.
Participei das campanhas de Dr.
Arraes, tomei parte da primeira campanha de Jarbas para a Prefeitura do Recife, fiz com?cio com ele em cima de um caminhão em Casa Amarela.
Sempre tive uma militância.
Acho a pol?tica uma coisa muito importante." EDUARDO E ARRAES "Ouvi alguém dizer que Eduardo seria um novo Arraes.
Ele vai ser um novo Arraes, mas será também um Arraes novo, porque tem a mesma capacidade de articulação e a mesma determinação.
São qualidades que herdou do avô.
Espero e acredito que, eleito, não repetirá o governo Arraes, ele vai adiante." O ALIADO "Estamos vivendo um momento decisivo para o Brasil.
A primeira eleição de Lula foi uma fato de importância histórica.
Pela primeira vez, foi eleito um presidente da República uma pessoa sa?da do povo do Brasil real.
Lula é inteligent?ssimo, um raio de inteligência.
Protesto sempre quando dizem que o Bolsa-fam?lia é um programa assistencialista.
Eu me irrito com isso.
Quem diz isso é quem não passa necessidade.
Já vi muito avarento dizer que ‘em vez de dar o peixe tem que se ensinar a pescar’.
Ensinar a pescar é muito importante, mas se a pessoa está morrendo de fome, dê o peixe.
Não estou decepcionado." OS INTELECTUAIS "Acho que há um pouco de descrença (na participação pol?tica).
Eu não tenho desencanto.
Considero que os otimistas são ingênuos e os pessimistas são amargos.
Me considero um realista esperançoso.
Eu participo.
Os intelectuais não têm o direito de se abster.
Como todo mundo, estou amargurado.
Mas, por ser velho, estou talvez menos perplexo, porque não é a primeira vez que vejo isso na história do Brasil.
Eu vi um grande patriota, um homem chamado Getúlio Vargas, que tinha um projeto de desenvolvimento para o Brasil, baseado nos capitais brasileiros, ser derrubado, não pelo que ele tinha de errado – que era o autoritarismo –, mas pelo que tinha de bom, o patriotismo e as preocupações com o povo mais pobre.
Eu vi Getúlio combatido, a UDN denunciando escândalos, corrupção.
E eu vi Getúlio desesperado quando descobriu pessoas próximas a ele ligados a fatos vergonhosos, e deu um tiro no peito.
Agora, ninguém espere isso de Lula, porque ele tem a sabedoria e a paciência do povo brasileiro.
A diferença é que o Governo Lula pune.
Eu acredito que ele não sabia de nada (de corrupção no governo).
Sei que agora ele está de olhos mais abertos." AMÉRICA LATINA "Há pouco mais 20 dias fui visitar Lula.
Nunca tinha visitado um presidente.
Não gosto disso, mas ele vivia um momento dif?cil.
Fui por acaso.
Não gosto de usar essa palavra porque é o nome que os ateus dão à providência divina.
Eu não sou ateu.
No romance A Pedra do Reino, terminado em 1970, tem o cap?tulo "O Emissário do Cordão Encarnado", onde o personagem fala do sonho dele de união da América Latina.
Vejo se esboçar a realização desse sonho, graças principalmente a Lula.
Eu tenho há muito tempo o sonho da união da América Latina.
Aconteceu na Europa, respeitando-se as fronteiras.
Sonho é importante.
Sem ele, a gente não vive." ARIANO POR ARIANO "Sou um socialista, mas não marxista.
Nunca fui, nem sou nem serei, porque acho o marxismo um pensamento muito estreito.
Li (Karl) Marx – não O Capital, porque é um livro muito economicista, e eu não tenho interesse nenhum por economia –, mas pela filosofia.
Eu não sou pol?tico.
Quando pensaram em me fazer candidato a senador eu disse "pelo amor de Deus".
O pol?tico precisa ter habilidade e o bom pol?tico precisa até ter mais habilidade que os outros, porque ele tem que enfrentar os maus." JARBAS "Jarbas tem um temperamento assim, briga com muita gente, mas comigo ele nunca brigou.
Tem um relacionamento excelente comigo.
Eu nunca levei em conta essa brigas.
Agora, nunca deixei de afirmar claramente minhas posições pol?ticas.
Politicamente estava ao lado de Dr.
Arraes, sempre afirmei isso, nunca vacilei e não vacilo." O PAI "O assassinato (em 1930, no Rio, resultado dos conflitos da Revolução de 30) afetou e afeta até hoje.
Eu via muito em Dr.
Arraes a figura do meu pai.
Ele tinha sido um governador sertanejo (da Para?ba) como Arraes e foi perseguido no fim da vida como Arraes.
Tanto que no dia em que resolvi apoiar Dr.
Arraes (1995), pedi para marcar uma audiência numa quinta-feira.
Depois vi que o dia era 9 de outubro, que é a data da morte de meu pai.
Terminei o romance A Pedra do Reino no dia 9 de outubro de 1970. É um fato muito presente em minha vida.
Eu tenho mais facilidade em rezar a Ave Maria do que o Pai Nosso, porque o Pai Nosso tem um pedaço que eu acho muito duro. É aquele que diz "perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aqueles que nos tenham ofendido".
Pois bem, toda noite, quando vou rezar com minha mulher, quando chega nesse momento, eu peço a Deus… eu peço a Deus que me ajude a perdoar os que mataram meu pai (aqui, momento em que perde a voz e contém as lágrimas)".