Por Alberto LimaJornalistalimalberto@gmail.com O próximo domingo deve entrar para a recente história pol?tica de Pernambuco como um simbólico ponto de mudança na correlação de forças do Estado.
A partir da zerézima, os computadores da Justiça Eleitoral devem ir confirmando, momento a momento, o fim das aspirações do governador Mendonça Filho de se manter no cargo e, abraçados à derrota dele, sucumbirão a União por Pernambuco e o combalido PFL local.
Esse quadro, no entanto, não começou a ser pintado nessas eleições e, verdade seja dita, acabou acentuado pela conjuntura nacional.
Pragmaticamente, pode-se identificar, nessa análise, alguns pontos bem objetivos.
Aos fatos: 1 - Dizem que pefelista não sabe dirigir porque, desde pequenininho, está acostumado a andar de carro oficial.
Realmente, a “alegre gente da Frente Liberal???, nas palavras de Juca Chaves, vem, há anos, pendurada no poder, independentemente de quem seja o mandatário. À sombra dos presidentes, estava sempre o PFL, por cujo apoio cobrava gordas fatias de cargos federais.
A eleição de Lula, contudo, deixou o partido à m?ngua.
Sem as tetas do poder, a inanição destruiu-o por fora - como na Bahia, com a derrota do carlismo - e por dentro - como as deserções de quadros da dimensão de Roseana Sarney.
Ao fim dessa peleja eleitoral, o outrora robusto PFL deverá sair das urnas com apenas um governador puro-sangue: o do Distrito Federal, a menor unidade federada do pa?s. 2 - É inegável que a perda da musculatura nacional pefelista solapou o palanque de Mendonça.
Mas não foi só isso.
Desde 1993, o partido em Pernambuco sentenciou-se à morte quando emprestou a Jarbas Vasconcelos seu poder no interior em troca da volta ao poder como coadjuvante.
Utilitarista, Jarbas aceitou a ajuda de bom grado, impôs a segunda divisão ao partido e sugou todas as suas bases.
Fato, aliás, denunciado pelo próprio pai do então vice-governador, o deputado José Mendonça, que acusou o PMDB de avanço predatório sobre os aliados interioranos do PFL.
Entretanto, Jarbas, os jarbistas e o jarbismo foram, aos poucos, engolindo toda a estrutura, deixando os pefelistas apenas na carcaça, transformados naquela muxiba que serve ao açougueiro para completar um quilo de filé. 3 - Jarbas, ressalte-se, nunca foi grande entusiasta de Mendonça.
Tratou-o como tratou o PFL: oito anos nas coxias, vagando sem asas pelos corredores do governo.
Seus olhos, à frente do Palácio das Princesas, sempre foram voltados para a sua gente, que era quem realmente tinha poder de influência e de decisão: José Arlindo, Dorany Sampaio, Lúcia Pontes, Cadoca, ungido candidato à Prefeitura do Recife em 2004, sem que o vice-governador sequer fosse lembrado para a disputa.
A sua cria pol?tica, a quem o ex-governador chegou a chamar publicamente de “curinga??? e deu funções extremamente substantivas no Estado, ele sempre fez questão de ressaltar: era Raul Henry.
E não Mendonça. 4 - Mais que não alavancar o vice, Jarbas ergueu a escada por meio da qual ascendeu um dos maiores rivais pol?ticos de Mendonça Filho.
Sérgio Guerra, eleito senador na chapa jarbista em 2002, nunca escondeu sua antipatia pelos pefelistas.
Em especial, pelo atual governador, a quem deseja uma espetacular derrota eleitoral.
E por razões óbvias: Guerra sonha em postular o Governo do Estado em 2010, com o apoio de Jarbas, e, por isso, quer ver o PFL esfacelado e fora do seu caminho.
Aliás, não é só ele.
O PMDB também aspira voltar ao cargo.
Quem sabe Raul Henry já não esteja preparado?
E, se não estiver, por que não a volta triunfal do próprio Jarbas?
Logo, que interesse há, para esse pessoal, na reeleição de Mendonça? 5 - Para finalizar, não vamos aqui, também, querer desprezar a competência da oposição.
Ela, sem dúvida, soube explorar muito bem as fissuras da aliança para escancará-las publicamente.
Aos poucos, foi usando as tensões da base para corroer a sustentação governista e impingir-lhe muitas derrotas.
O sucesso de Eduardo Campos transformou-se, apenas, na cereja do bolo, que aumentou ainda mais a sangria na União por Pernambuco, levando até nomes tradicionais como Geraldo Coelho a abandonar a candidatura de Mendonça.
Enfim, contrariando o ditado que diz que a vitória tem muitos pais e a derrota é órfã, em Pernambuco o provável insucesso de Mendonça Filho nas urnas, no próximo domingo, deve ser analisado não como um drama pessoal, mas como uma tragédia encenada por muitos atores.