Por Luiz Otavio Cavalcanti*Ex-secretário do Planejamento e da Fazenda de Pernambucolotavio@fsm.com.br A campanha para presidência da República poderia ter tido outro brilho.
Com apresentação de temas inovadores sobre as ações de governo.
Com propostas mais ousadas a respeito da estrutura e funcionamento do governo.
Gente, estamos no século XXI!
E a regra de ouro de uma economia globalizada é a inovação. É com base nela que empresas e pa?ses avançam no mercado, ampliando oportunidades de emprego e elevando a renda.
Não vimos nada de novo no discurso dos candidatos.
Lula esperava levar no primeiro turno e, contrafeito, tendo que ir ao segundo, sequer agradeceu os votos recebidos na primeira rodada.
Incorporou discurso divisionista e fez do Bolsa Fam?lia uma bandeira solta sem contrapartidas individuais e sem sentido pedagógico para os beneficiários.
Por sua vez, Alckmin poderia ter aprofundado algumas questões que afetam o cidadão no dia-a-dia.
A questão do transporte, por exemplo.
Mas ele ficou repetindo frases abstratas.
Ele é um candidato tão compenetrado que perde o encanto.
Ficou uma campanha moral sem discurso.
O oposto de Lula.
A campanha presidencial termina com sabor de coisa antiga, revogada.
Crivada de falsas questões.
Escolho duas.
Privatização e corte de investimentos.
Privatização é tema que foi assimilado pela população brasileira quando ela compreendeu que os milhões de telefones mais baratos só foram poss?veis com investimentos privados.
A? ela entendeu que nós estamos num mundo global e que só a lógica de mercado produz serviços que beneficiam o consumidor.
Não se trata de defender o Estado m?nimo.
Longe disso.
Trata-se de situar o Estado brasileiro no padrão de eficiência exigido na competição internacional.
Nem por isso o Estado deixa de exercer seu papel de mediador social.
Ao contrário.
Ele pode até melhor buscar a aplicação de pol?ticas públicas voltadas para obter equidade social.
Mas acossado por discurso secessionista de Lula, Alckmin ficou acuado e não fez a defesa de pol?tica moderna.
Não distinguiu as áreas em que a privatização produz mais vantagens para o cidadão.
Ficaram com medo o candidato e algumas burocracias que não se justificam na esfera pública.
Por exemplo: por que não privatizar os Correios?
Por que não privatizar o IRB?
Trata-se inclusive de órgãos atingidos por episódios de corrupção.
A segunda falsa questão é corte de investimentos.
O governo diz que não corta investimento e não diminui gasto corrente, com a quantidade de 33 ministérios.
Possivelmente o Pa?s está entre as cinco Repúblicas que têm maior número de ministérios.
Aliás, esta é uma caracter?stica das antigas repúblicas do Leste europeu, nos anos 50, cuja estrutura administrativa refletia sua incursão do dom?nio econômico.
Sem dúvida que o crescimento do PIB, em 2007, não será capaz de gerar sobras fiscais para cobrir as necessidades de orçamento.
A arrecadação está sobre dimensionada na proposta orçamentária da União.
A Reforma do Estado, que poderia contribuir para tornar mais eficiente o uso de recursos públicos, não foi mencionada por nenhum dos candidatos.
Do ponto de vista de conteúdo programático, essa eleição realizou-se em 1960. *Luiz Otavio Cavalcanti, 60, advogado, executivo e ex-secretário do Planejamento (1975/79 e 1991/92) e da Fazenda (1983/86 e 1992/93) de Pernambuco.
Recifense, Cavalcanti dirige hoje a entidade mantenedora da Faculdade Santa Maria. É autor, entre outros livros, de Como a corrupção abalou o governo Lula (Ed.
Ediouro, 2005), Administradores, quem somos nós? (Ed.
Bagaço, 2005) e Ensaiando Pernambuco (Ed.
Bagaço, 2005).