Por Pierre Lucena*Professor e administrador pierre.lucena@contagemweb.com.br O resultado das pesquisas no segundo turno para o Governo de Pernambuco pode ter deixado muita gente surpresa, mas basta verificar o histórico desta campanha para perceber que aconteceu o óbvio.

No dia em que li o artigo do ex-marqueteiro da campanha do governador Mendonça Filho, senti que algo estava começando mal.

A estratégia utilizada pela União por Pernambuco desde o começo foi totalmente equivocada.

Para não ficar apenas no senso comum, vou tentar dar o m?nimo de ciência a este racioc?nio.

Para desenvolver meu racioc?nio, vou apresentar um argumento teórico entre a economia e a matemática, voltado para a estratégia, que foi muito utilizado na última década.

Este é conhecido por Teoria dos Jogos, e ficou popular com o filme "Uma Mente Brilhante", que conta a história de John Nash, um dos principais acadêmicos do século passado, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1994.

Esse racioc?nio é apresentado no livro "Pensando Estrategicamente", de Dixit e Nalebuff, com um exemplo para a eleição de Margareth Thatcher no pleito de 1987, e que muito se assemelha à disputa de governador deste ano.

A campanha da então primeira ministra inglesa estava tentando antecipar a estratégia do seu adversário, Neil Kinnock.

Era um jogo de lances seqüenciais, onde na verdade existiam apenas alguns caminhos a serem tomados, sem volta, e diziam respeito ao tom do discurso adotado.

Este pode ser exemplificado na seguinte árvore de jogo, apresentada abaixo.

Como Thachter já era razoavelmente conhecida, e com boa aceitação, só restaria ao seu oponente a estratégia contrária na campanha.

Se a primeira ministra optasse pelo discurso agressivo, Kinnock apenas teria chances se fizesse um discurso propositivo, e vice-versa.

Em Pernambuco t?nhamos uma situação semelhante, diferenciando apenas pela entrada de um terceiro jogador em um primeiro momento, pois seriam dois oponentes de peso para o atual governador: Humberto Costa e Eduardo Campos.

Ora, era razoável supor que Mendonça estaria no segundo turno, pois todas as pesquisas apontavam nesta direção. É sabido também que, quando uma campanha adota um tom agressivo, ao mesmo tempo em que uma candidatura é desconstru?da, a rejeição de ambos aumenta, e, em muitos casos, aumenta muito.

Dois meses antes da eleição, o bombardeio em Humberto Costa começou.

Naturalmente, os ?ndices de intenção de voto deste diminu?ram, e o ?ndice de rejeição de Mendonça aumentou.

No final da campanha do primeiro turno, era vis?vel o aumento do volume da candidatura de Eduardo Campos, até então "esquecido" por todos.

O que ninguém esperava era que Humberto Costa ainda tivesse 25% dos votos válidos, e que Mendonça Filho não conseguisse uma grande vantagem de votos.

E isso era reflexo do equ?voco de estratégia, desde o começo da campanha.

Na verdade, desde a demissão do então marqueteiro, que desejava um tom mais propositivo.

O que aconteceu?

Mendonça Filho começou o segundo turno com praticamente o mesmo percentual de intenção de votos que obteve no primeiro turno, e os votos de Humberto Costa migraram, quase em sua totalidade, para Eduardo Campos.

Paralelamente a isso, a rejeição do atual Governador atingiu ?ndices malufistas (41%, o de Maluf estava em torno de 45%), o que de certa forma é totalmente injusto.

Trabalhei com o atual governador, que é uma pessoa de fino trato, elegante, e que transmite no dia-a-dia uma leveza dif?cil de encontrar em outros pol?ticos.

A estratégia correta era adotar um tom propositivo de campanha, pois, assim como Thatcher, Mendonça tinha um governo bem avaliado, a percepção pessoal da população era positiva.

Dessa forma, o tom agressivo foi assumido de maneira antecipada.

Já que estava com lugar garantido no segundo turno, o tom da campanha deveria ser agressivo, se precisasse, apenas agora.

Sua rejeição subiria, mas a intenção de votos da candidatura oposicionista, que agora seria a única, poderia diminuir fortemente.

Pode-se dizer que, em um jogo seqüencial, é preciso antecipar o poss?vel resultado para que a estratégia não destrua uma campanha, e isso é o que parece ter acontecido com a União por Pernambuco.

Delfim Netto costumava dizer que segundo turno é "uma coisa que inventaram para derrotar Maluf".

O deputado queria dizer que eleição de segundo turno ganha quem conseguir agregar mais, e ter o menor ?ndice de rejeição.

Parece que o estrategista de Mendonça faltou à aula de Teoria dos Jogos. *Pierre Lucena, 35, doutor em finanças pela PUC-Rio, Mestre em Economia e Administrador pela UFPE, é professor-adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, sócio da Contagem Consultoria Estratégica e Pesquisa (www.contagemweb.com.br).

Foi secretário-adjunto de Educação do Estado. É Coordenador do Núcleo de Finanças e Investimentos do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE (NEFI).