Por Túlio Velho BarretoCientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, colaborador freqüente do Blogtulio@fundaj.gov.br Hoje, a partir das 22h, a TV Clube, Canal 9, ocorre o primeiro debate entre o governador-candidato Mendonça Filho (PFL) e o oposicionista Eduardo Campos (PSB).
E acontece no momento em que o socialista lidera, com enorme folga, todas as pesquisas de intenção de voto no Estado.
Pesquisas que foram realizadas na semana passada e divulgadas até ontem, dia 15.
Antes de expor minha expectativa em relação ao debate da TV Clube, gostaria de fazer alguns comentários com relação às campanhas dos candidatos no rádio e na TV, que completam hoje sua primeira semana, e aos resultados das três pesquisas (Ibope/Rede Globo, Vox Populi/JC e Data Associados/Diario) sobre intenção de voto em Pernambuco. 1.
Mal foi anunciado o resultado do primeiro turno, foi dada a partida visando o segundo.
E, enquanto o governador Mendonça Filho não conseguiu atrair novos apoios, Eduardo Campos não encontrou dificuldades para compor um amplo palanque oposicionista.
Os fortes ataques desferidos contra o petista Humberto Costa no primeiro turno, que já contava com o apoio do deputado federal e presidente da CNI e do PTB estadual Armando Monteiro Filho, contribu?ram para que isso ocorresse até mais naturalmente do que se esperava.
Mas, não foi só.
Agora, o presidente-candidato Lula – do ponto de vista eleitoral, o grande vencedor do primeiro turno em Pernambuco – só tem um candidato ao governo de Pernambuco: Eduardo Campos.
Assim, o socialista pode, finalmente, se beneficiar do apoio do maior cabo eleitoral da oposição no Estado. É importante ressaltar que, por outro lado, o governador Mendonça Filho havia contado, já no primeiro turno, com o apoio expl?cito de seu maior cabo eleitoral, o ex-governador Jarbas Vasconcelos, que teve desempenho aquém do esperado e menor do que o alcançado pelo presidente Lula.
Resultado do novo desequil?brio: o governador Mendonça Filho não só manteve a tática empregada no primeiro turno, quando foi incisivo contra Humberto Costa, como se tornou ainda mais contundente, agora, exclusivamente, contra Eduardo Campos.
E, assim, continuou distante do perfil que construiu ao longo de sete anos.
De certa forma, a iniciativa do governador foi impulsionada pela aparente reação do candidato tucano à presidência da República, Geraldo Alckmin, que surpreendeu a muitos pela agressividade que usou contra o presidente Lula no primeiro debate entre eles na TV Bandeirantes, no último dia 8.
Como o ambiente pareceu mais favorável a Alckmin – pelo menos até as pesquisas nacionais apontarem o crescimento da candidatura do presidente Lula, que logo reverteram as expectativas iniciais – foi esboçada uma t?mida associação entre o governador Mendonça Filho e seu candidato a presidente, Alckmin.
Até isso, parece ter beneficiado Eduardo Campos no in?cio da campanha para o segundo turno, pois ajudou a tornar mais evidente o contraponto: Mendonça Filho/Alckmin versus Eduardo Campos/Lula. 2.
Nos dias seguintes, foram anunciados os números das pesquisas de intenção de voto também para governador.
E os números confirmaram as expectativas apontadas aqui mesmo, neste Blog: a forte migração dos votos de Humberto Costa para Eduardo Campos manteve a oposição à frente do governador Mendonça Filho, aliás, como tinha ocorrido no primeiro turno, quando os dois oposicionistas somados tiveram mais votos do que o governador.
Os resultados apresentados pelos três institutos nas pesquisas estimuladas, e levando-se em consideração os votos válidos, apontam uma enorme consistência entre eles, apesar da margem de erro variar entre de 2% (Ibope/Rede Globo) e 3% (Data Associados/Diario) dependendo do instituto.
Isto é, em todos Eduardo Campos aparece com mais de 20% de vantagem sobre Mendonça Filho.
E mais: nas pesquisas Ibope/Rede Globo (clique aqui para ver os dados) e Data Associados/Diario (clique aqui, exclusivo para assinantes do Diario), as duas que disponibilizaram dados mais detalhados, o socialista ganha em todas as regiões do Estado, quaisquer que sejam os n?veis de renda e instrução e o sexo dos entrevistados, ficando sempre entre 50% e 70% dos votos válidos.
Em contrapartida, Mendonça Filho mantém um mesmo padrão de desempenho naquelas variáveis, sem conseguir alcançar a barreira dos 40% dos votos válidos em nenhuma delas.
Além disso, o Data Associados/Diario aponta três importantes dados: a rejeição a Mendonça Filho é praticamente o dobro da rejeição a Eduardo Campos (41% contra 22%); o eleitor de Eduardo Campos no primeiro turno está o mais consolidado (94% dos que votaram nele pretendem repetir o voto contra 87% dos eleitores de Mendonça Filho, que pretendem repetir o voto); os eleitores de Humberto Costa migraram fortemente para Eduardo Campos (86%).
Finalmente, o Ibope/Rede Globo aponta que apenas 14% dos eleitores pesquisados afirmaram que ainda podem mais mudar o voto. 3.
Diante desse cenário, ocorre, portanto, hoje, o primeiro dos três debates programados entre o governador Mendonça Filho e o oposicionista Eduardo Campos.
De modo geral, é importante frisar, é extremamente superar uma diferença que já ultrapassa a barreira dos 20%.
Como já disse, aqui mesmo, neste Blog, agora a disputa é um jogo de soma zero: para que alguém ganhe algum ponto percentual é necessário tirar do adversário.
Não há outra sa?da.
Isso não significa, no entanto, que a disputa esteja liquidada a favor do socialista, mas, apenas, que para inverter uma diferença de 20% é necessário inverter todas as tendências identificadas até o momento.
Os debates podem até ajudar a mudar o quadro, mas só alguns tsunamis, e de grandes proporções, parecem ser capaz, a pouco menos de duas semanas do segundo turno, a cambiar tais tendências.
E o governador Mendonça Filho e seu estafe sabem que a primeira das parcas chances de que dispõe é o debate de hoje, na TV Clube.
Vamos aguardá-lo. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros "Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX" (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e "Nordeste 2004 - O Voto das Capitais" (Fundação Konrad Adenauer, 2005).
Co-organizou e participou dos livros "Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado" (Editora Massangana, 2004) e "A Nova República - Visões da redemocratização" (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.