Por Túlio Velho Barreto*Cientista Pol?tico e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabucotulio@fundaj.gov.br Os últimos três dias - sábado, domingo e segunda - marcaram o in?cio do segundo turno eleitoral para governador de Pernambuco e presidente da República.
Em cada dia tivemos um fato que o tornou relevante para as respectivas disputas.
Aqui, vou tratar de tais acontecimentos e de suas repercussões sobre os primeiros dias da disputa que vai até 29 de outubro próximo, dia do segundo turno.
De fato, no sábado, dia 7, a Folha de São Paulo publicou a primeira e única pesquisa de intenção de votos da disputa presidencial realizada e divulgada antes do in?cio da propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na TV, que só começará na próxima quinta, dia 12.
A pesquisa foi feita pelo Instituto DataFolha e também divulgada pela Rede Globo.
No domingo, dia 8, ocorreu o primeiro debate entre os candidatos a presidente, agora envolvendo apenas o presidente-candidato Lula (PT) e o oposicionista Geraldo Alckmin (PSDB).
E na segunda, ontem, dia 9, começou a propaganda dos dois candidatos que disputam a preferência do eleitorado pernambucano para governar o estado nos próximos quatro anos.
Portanto, podemos dizer que, só agora, de fato, começou o segundo turno. (1) A pesquisa DataFolha foi realizada nos dias 5 e 6 de outubro e ouviu 5.811 eleitores em 368 cidades do pa?s.
Com margem de erro de 2%, a pesquisa foi registrada no TSE sob o número 21.340/2006.
Para conhecer os dados completos basta acessar o endereço aqui exclusivo para assinantes da FSP e do UOL).
O resultado geral da pesquisa aponta uma tendência favorável ao presidente-candidato Lula, que, caso o segundo turno tivesse sido realizada naqueles dias, o venceria com 8% de vantagem sobre Alckmin (54% a 46%, considerando-se apenas os votos válidos, como faz o TSE para apresentar o resultado final).
Mas a pesquisa DataFolha corrobora algumas tendências indicadas e analisadas anteriormente, que, por sua relevância, vale a pena destacar aqui.
Até porque agora só são dois candidatos disputando o pleito.
Por exemplo, a pesquisa mostrou a acentuada divisão em que está mergulhado o pa?s: o eleitorado do presidente-candidato Lula está concentrado majoritariamente nas regiões Norte/Centro-Oeste (Lula-53%xAlckmin-47%) e Nordeste (Lula-70%xAlckmin-30%); enquanto o de Alckmin está nas regiões Sudeste (Alckmin-51%xLula-49%) e Sul (Alckmin-63%xLula-37%).
Os dados mostram ainda que há uma contraposição clara e acentuada entre a preferência do eleitorado nordestino, fortemente favorável a Lula, e do sulista, fortemente favorável a Alckmin.
E mais: o presidente-candidato ganha, até com folga, entre os mais pobres e os de menor n?vel de escolaridade, enquanto Alckmin vence, também com folga, entre os mais ricos e os de maior poder aquisitivo.
Por outro lado, a pesquisa traz algumas surpresas, pelo menos para mim, que já escrevi a respeito.
Ou seja, a maior parte do eleitorado de Helo?sa Helena (PSOL) no primeiro turno diz preferir votar em Alckmin no segundo turno (60%).
Já o eleitorado de Cristovam Buarque (PDT) mostra-se dividido meio a meio entre os dois candidatos.
De toda forma, tais números mostram porque o presidente-candidato Lula partiu na frente na disputa do segundo turno: manteve praticamente intacto seu eleitorado e avançou parcialmente sobre os votos dados aos outros dois candidatos de oposição.
E deixa claro o enorme desafio de Alckmin: conquistar uma parcela significativa do eleitorado do petista para ganhar a eleição.
Não há outra sa?da. (2) Aqui, entro no segundo tema: o debate entre os dois presidenciáveis, que disputam o segundo turno, realizado e transmitido, respectivamente, pela Band e TV Clube.
Foi exatamente por isso - porque precisa convencer parte do eleitorado do presidente-candidato Lula a mudar o voto - que Alckmin foi mais agressivo e incisivo no primeiro debate entre eles.
Tal fato parece ter surpreendido até o experiente presidente-candidato Lula, que levou dois ou três dos cinco blocos do debate para absorver os golpes e só então começar a revidar à altura.
Entretanto, entendo que o debate foi bastante fraco e deixou muito a desejar.
Até a previs?vel e recorrente analogia do debate com uma luta de boxe reflete o que restou dele: um enfrentamento entre dois homens dispostos a nocautear seu adversário a qualquer custo.
E a quase completa ausência de debate de idéias e propostas de governo.
Aparentemente, valeu tudo, até mesmo chamar insistentemente o outro de mentiroso e leviano, palavras muito usadas durante as intervenções de parte a parte.
Com efeito, ficou a impressão de que cada um disse o que quis, mesmo que soasse vazio.
E não é necessário citar mais de duas passagens para dar uma idéia da brutal superficialidade do debate, uma de cada lado.
Alckmin, por exemplo, insistiu em criticar o fato do Brasil, durante o governo Lula, ter tido um crescimento econômico menor do que praticamente todos os demais pa?ses emergentes (Argentina, México, China,…), sobretudo em função da elevada taxa de juros que se pratica no pa?s, uma das maiores, se não a maior, do mundo.
Mas esqueceu que o crescimento econômico do pa?s no atual governo não difere significativamente daquele alcançado pelos oito anos do governo tucano de FHC, partido de Alckmin, sendo até superior em alguns momentos.
E, da mesma forma, esqueceu que a atual taxa de juros é a menor praticada no pa?s nos últimos anos, incluindo os dois governos FHC.
Portanto, falou o quis para impressionar o incauto eleitor.
Na verdade, a discussão era outra, e de conteúdo: por que há anos o Brasil vem crescendo abaixo da média regional, da América Latina, e pratica uma taxa de juros tão alta independemente de quem o governa?
Que alternativas os candidatos têm para o que, todos nós sabemos, é um dos maiores e mais sérios problemas a superar: crescer economicamente e diminuir as desigualdades sociais?
Já o presidente-candidato Lula, sempre que acuado pelas denúncias de corrupção em seu governo, afirmava que faltar com a ética não é ter casos de corrupção no governo ou partido, até porque isso acontece com todos, mas é não apurá-los devidamente.
E exemplificou dizendo que ele próprio demitiu os cinco ministros que se envolveram em casos ou escândalos de corrupção.
Ora, assim também o presidente-candidato Lula usou do recurso de falar apenas o que quer e quando quer, pois entre os cinco demitidos está o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, que, por seu suposto envolvimento com a máfia dos vampiros, foi indiciado pela Pol?cia Federal e denunciado pelo Ministério Público Federal.
Mas nada disso impediu o presidente-candidato Lula colocá-lo na direção nacional do PT após a queda da direção partidária supostamente envolvida com o escad6alo do mensalão, defendê-lo publicamente desde então e apoiá-lo como o candidato petista a governador de Pernambuco.
Além disso, foram citados números, muitos números, na maior parte das vezes tão d?spares, que não devem fazer sentido algum para os interessados no debate.
Números que não dizem nada para a maioria da população e que são usados, de parte a parte, para mostrar realizações ou contestá-las, apenas para impressionar o eleitorado.
Infelizmente, embora os debates sejam momentos importantes do processo de escolha dos candidatos, considero que o resultado foi realmente p?fio.
E, no final, ficou a sensação de que, mais uma vez, não houve vencedor entre os dois candidatos, até porque nenhum dos dois saiu “esmagado???, mas, certamente, houve um perdedor: o eleitorado brasileiro. (3) Finalmente, alguns comentários sobre o primeiro dia da propaganda eleitoral obrigatória para governador de Pernambuco.
Já ficou claro que a campanha vai ser bastante acirrada e tende a ser mesmo virulenta.
Os programas exibidos de ambos os candidatos (Mendonça Filho-União por Pernambuco e Eduardo Campos-Frente Popular de Pernambuco) mostraram uma primeira parte em que despontaram os recursos de marketing, sobretudo novos jingles, belas imagens e algumas promessas, e uma segunda parte em que foram expostos os verdadeiros motes das campanhas, isto é, o que será atacado de cada um para consolidar ou conquistar votos junto ao eleitorado.
Por exemplo, destaco o uso de um ator para questionar as razões que levaram o governador-candidato Mendonça Filho, só agora, depois de ter sido pressionado pela oposição e na reta final da disputa, a reduzido o ICMS da conta de energia dos mais pobres, e o uso de uma atriz ou jornalista para questionar se Eduardo Campos é mesmo uma novidade na pol?tica estadual e deixar várias interrogações no ar a propósito da operação dos precatórios realizada por ele quando foi secretário da Fazenda do terceiro governo Miguel Arraes (1995-1998).
Como a votação da oposição somada (Eduardo Campos-Frente Popular do Recife e Humberto Costa-Melhor para Pernambuco) no primeiro turno superou em 20% a votação alcançada pelo governador-candidato Mendonça Filho, é de se esperar que a campanha da União por Pernambuco seja mais agressiva e incisiva, assim como a de Alckmin, pois são os dois candidatos que têm que tirar votos de seus respectivos adversários.
Para tanto, todo recurso de marketing será usado.
Dou dois exemplos de como isso já começou a ser feito em Pernambuco.
De fato, no rádio e na TV, o guia da União por Pernambuco recomeçou recheado de frases que visam claramente confundir o eleitorado da oposição: “Agora é 25??? ou “É Mendonça Filho???, apropriando-se da principal marca da campanha de Eduardo Campos, e “Mendonça Filho… melhor pra Pernambuco???, fazendo o mesmo com o nome da coligação que teve à frente o petista Humberto Costa na disputa do primeiro turno.
Portanto, o eleitorado não deve esperar muita coisa no segundo turno, além de denúncias e agressões, a não ser, é claro, muito marketing. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros “Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX??? (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e “Nordeste 2004 - O Voto das Capitais??? (Fundação Konrad Adenauer, 2005).
Co-organizou e participou dos livros “Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado??? (Editora Massangana, 2004) e “A Nova República - Visões da redemocratização??? (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.