Por Fernando CastilhoColunista de Economia do JC Se os resultados das urnas tivessem refletido fielmente as pesquisas, Paulo Souto seria o novo governador da Bahia, Germano Rigoto estaria no segundo turno, no Rio Grande do Sul, Eduardo Suplicy não teria sido eleito com apenas 47,82% e, em Minas Gerais, Geraldo Alckmin não teria tido 40,80% dos votos.

Para o publicitário e marqueteiro pol?tico Marcelo Teixeira, que antecipou aqui no Blog que a eleição iria para o segundo torno uma semana antes de as urnas confirmarem, os erros graves nas consultas prévias se devem ao fato de que elas simplesmente não levam em consideração fatores como abstenção, e não conseguem mergulhar nas peculiaridades regionais, que, no resultado geral, acabam dando essas distorções absurdas.

O problema, adverte Teixeira, é que hoje no Brasil a imprensa, os institutos de pesquisa e a própria classe pol?tica passaram para a opinião publica que as pesquisas antecipam os resultados das urnas, quando isso não acontece – o que explica que a cada eleição tenhamos erros de interpretação.

Nenhuma pesquisa, lembra o marqueteiro, previu que Jacques Wagner seria o Governador da Bahia.

O Ibope previu que seria 51% para Souto e 41% para o Wagner.

E deu 52,49% para o candidato do PT e apenas 43,08% para o favorito.

Porém, tão surpreendente como a Bahia, lembra Teixeira, foi o Rio Grande do Sul.

Germano Rigoto tinha 34% e era o candidato natural ao segundo turno.

Seus dois adversários estavam com 25% e pelas pesquisas brigavam para ir ao segundo turno.

Por que Rigoto ficou em terceiro? - Porque os institutos insistem que trabalhar apenas com os dados da coleta, sem dimensionar o campo não em função do universo total, mas do seu comportamento histórico, diz Teixeira.

Ele acrescenta: Quando afirmei (Blog, 22.09.2006) que Geraldo Alkimin iria para o segundo turno, não estava fazendo adivinhação.

Apenas li as pesquisas (Datafolha) com uma visão pol?tica e acrescentei as questões regionais.

O Brasil não iria às urnas com 125 milhões eleitores.

Mas as pesquisas não diziam isso.

Apenas observei que se a abstenção fosse a mesma de 2002 (26,29%), Lula precisaria de 46,4 milhões de votos.

Como ela foi menor (23,75), ele precisou de 47,9 milhões (teve 46,6 milhões).

Faltou 1,3 milhão.

Entretanto, qualquer pessoa que fizesse as contas usando apenas os percentuais divulgados pela Datafolha, usando os 125 milhões, considerando a abstenção, a pesquisa veria que iriam faltar oito milhões de votos.Eu ate cheguei a fazer uma tabelinha, que distribui com alguns jornalistas e amigos (*), onde, com base no Datafolha, estimava que se a abstenção fosse 26,92%, mas levando-se em conta os percentuais de abstenção registrados nas ultimas eleições, Lula teria aproximadamente 43 milhões de votos.

E ele teve, com uma abstenção de 23,75%, 46,6 milhões de votos.

Ou seja, não e dif?cil fazer isso desde que se inclua novas variáveis.

O erro não está nas pesquisas.

Está na falta de capacidade da imprensa (que não é obrigada a se especializar em ler pesquisa) e de alguns pol?ticos em agregar a isso o histórico das eleições passadas.

Nem da ultima que esta dispon?vel na internet. É preciso advertir ao leitor que existe um fator chamado abstenção.

E informar que, se as coisas não acontecerem próximas ao que aconteceu nas eleições anteriores, os resultados poderão ser modificados.

Por outro lado, é um erro se achar (como alguns pol?ticos acham) que isso modifica o resultado.

Está provado que não muda, senão todo mundo votaria no Lula, no norte e Nordeste, e no Alckmin, no Sul e no Sudeste.

Eu já disse que o Geraldo Alckmin parte na frente porque sua votação mostrou que ele cresceu na reta final acima do que previam os institutos nos últimos dias.

E continuo acreditando nisso.

Basta observar que ele sem qualquer apoio no Norte e no Nordeste teve ali 43% dos votos.

Basta ver o que os números disseram.

Alckmin não tinha nada, seu nome foi escondido e ele sozinho obteve isso.

No segundo turno, com os palanques montados, ele tende a subir.

Quem tende a perder é o Lula.

A realidade de Alckmin, segundo as pesquisas antes das eleições, era de que ele teria 10% - e ele obteve 33%.

Se as análises das pesquisas observassem as votações e as abstenções da eleição passada poderiam advertir que isso não iria acontecer porque o sistema eleitoral leva o eleitor a escolher um candidato ele sempre sobe.

Basta observar que Jorge Gomes e Luciano Siqueira tiveram 1,5 milhão de votos.

Por que isso?

Porque as candidaturas ao governo os puxaram.

Isso está revelado nas eleições passadas, mas nem os institutos de pesquisa mostram nem a Imprensa faz essa advertência.

O caso de Guilherme Afif é emblemático.

Nenhuma pesquisa detectou o movimento a favor dele.

Mas se o Serra tinha a eleição assegurada, o normal era o Afif ser empurrado para cima.

Ou seja, o resultado da pesquisa precisa ser acrescido de mais informação, especialmente a questão da abstenção da eleição anterior.

Essas ponderações poderão ajudar a Imprensa a entender o que pode acontecer no segundo turno.

Nós já temos os números do primeiro turno.

Temos as tendências por região, por estado e nacional.

Não precisa ser nenhum gênio matemático.

Já sabemos que devem votar pelo menos 95 milhões de eleitores e não 125 milhões.

Então é poss?vel fazer as contas fracionando os números e comparar com as pesquisas.

O equivoco é não incluir mais informações e simplesmente usar o dado.

E não fazer nenhuma advertência ao leitor.(*) Fernando Castilho, Fernando Menezes, Bruno Falcone, Eduardo Farias e Romeu Baptista