Por Túlio Velho BarretoCientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, é colaborador freqüente do Blogtúlio@fundaj.gov.br Apurados os votos e proclamados os resultados, é hora de fazer um balanço preliminar das eleições 2006 e traçar as primeiras perspectivas para o segundo turno nacional (apenas o terceiro desde que o sistema foi implantado no Brasil) e no estado (este inédito).

Tendo partido na frente na corrida eleitoral, e contando com a enorme vantagem de disputar a reeleição, o candidato-presidente Lula (PT) nunca deixou de ser o franco favorito, mesmo após mais de um ano de fortes denúncias e escândalos envolvendo seu governo e partido.

As pesquisas de intenção de voto sempre apontaram como tendência uma vitória dele, inclusive no primeiro turno.

Até porque a principal candidatura de oposição, formada pela dobradinha PSDB-PFL, com Geraldo Alckmin e José Jorge, não decolava nem empolgava.

De fato, enquanto Lula era candidato natural à reeleição, Geraldo Alckmin e José Jorge nunca foram os preferidos pelos partidos daquela coligação.

Tiveram, então, de superar enormes resistências e desconfianças internas.

Mas, uma sucessão de graves erros, quase todos já apontados pela m?dia e analistas, protagonizados por lideranças e militantes petistas, principalmente, e uma acentuada melhora na imagem de Geraldo Alckmin, conseqüência do engajamento na campanha nacional de várias lideranças importantes do PSDB, PMDB e PFL, terminou por contribuir para que o presidente Lula não liquidasse a fatura ainda no primeiro turno.

E faltou pouco, mesmo considerando o tamanho absoluto do colégio eleitoral: menos de dois por centos.

Costuma-se dizer que o segundo turno é uma outra eleição.

E, de fato, parece ser.

Mas é necessário que se entenda que o segundo turno sofre forte influência das campanhas e dos desempenhos dos candidatos no primeiro.

Ou seja, não se parte absolutamente do zero.

Assim, o resultado final será conseqüência da continuidade da disputa.

Não se define a priori.

Por isso, as análises feitas sobre as perspectivas para o segundo turno nacional não se aplicam necessariamente à nova disputa estadual.

E o inverso também é verdadeiro.

Quanto ao plano nacional, é preciso lembrar que o presidente Lula parte de um resultado numérico expressivo, pois teve quase metade dos votos válidos.

Agora, para ser eleito, pelo menos teoricamente, tem “apenas??? que conquistar, por exemplo, cerca de um terço dos votos obtidos pela senadora Helo?sa Helena (PSOL), que manterá, por razões ideológicas e coerência partidária, neutralidade na disputa.

Tal fato poderá ajudar o presidente Lula a ampliar seu eleitorado do Sul-Sudeste.

Já Alckmin terá que conquistar votos do adversário, o que, mostram as pesquisas que mediram a fidelidade dos eleitores de Lula, será mais árduo.

Mas não imposs?vel, é claro.

Para ele, aproveitando a onda favorável que costuma se formar nas candidaturas tidas como derrotadas, mas que crescem na reta final, será preciso avançar decisivamente sobre o eleitorado do presidente no Nordeste.

No plano estadual, é preciso observar que, apesar do candidato-governador Mendonça Filho (PFL) ter sido o primeiro lugar, a oposição alcançou mais votos.

E, neste caso, acumulou mais capital pol?tico e eleitoral.

E parte na frente.

A conta é simples.

Com efeito, basta analisar os números totais no estado e por região (Sertão, Agreste, Mata e Região Metropolitana, incluindo o Recife).

Teoricamente, a oposição leva vantagem na medida em que a maioria dos votos dos eleitores do oposicionista Humberto Costa (PT) tenderá fortemente a migrar para o também oposicionista Eduardo Campos (PSB).

Por razões ideológicas, mas também porque, no primeiro turno, a campanha da União por Pernambuco, sem outra alternativa, e porque o petista era o alvo mais vulnerável, bateu forte e sistematicamente.

E a oposição acumulou também capital pol?tico resultado da onda favorável à candidatura de Eduardo Campos no final da disputa e do fato do governador Mendonça Filho não ter conseguido ultrapassar a barreira dos 40%, o que já dá uma dimensão da dificuldade que o ex-governador Jarbas Vasconcelos teve para transferir parte dos seus muitos votos.

Apesar de ocupar posição final inversa à de Alckmin no primeiro turno, Mendonça Filho terá igualmente que avançar sobre os votos obtidos pelos adversários.

Já Eduardo Campos precisará “apenas??? herdar parte dos votos dados a Humberto Costa, outro oposicionista, o que tende a ser mais fácil.

Finalmente, uma última palavra sobre a relação entre as duas disputas (nacional e estadual).

Diferentemente do que muitos analistas e pol?ticos têm professado, o candidato da oposição no segundo turno ao governo do estado, Eduardo Campos, beneficiou-se com a realização do segundo turno nacional.

Com efeito, se a eleição presidencial já tivesse sido decidida, o presidente Lula começaria imediatamente a articular sua base de sustentação no Congresso Nacional e a buscar o apoio de segmentos da oposição menos refratários para garantir a governabilidade.

E dificilmente iria envolver-se nas disputas estaduais, muitas delas bastante acirradas, como a de Pernambuco, que poderiam deixar seqüelas evitáveis e desgastes desnecessários.

Com o segundo turno, o presidente-candidato, além de consolidar os votos já conquistados, terá que ir atrás dos votos necessários para vencer, o que o levará a se engajar mais efetivamente na campanha de Eduardo Campos.

Já Alckmin, enfim, terá um palanque real (e não mais virtual) no estado.

Primeiro, porque precisa avançar sobre o eleitorado nordestino; segundo, porque mostrou algum potencial de crescimento; e, por último, porque a União por Pernambuco sabe que não há terceiro turno em disputas eleitorais. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros “Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX??? (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e “Nordeste 2004 - O Voto das Capitais??? (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

Co-organizou e participou dos livros “Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado??? (Editora Massangana, 2004) e “A Nova República - Visões da redemocratização??? (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.