Por Fernando CastilhoColunista de Economia do JC É, mas eu vou votar no Lula.Silva, amigo meu de quase 20 anos, casado, pai de um filho, ex-militante do velho PCB, encerra a conversa me sugerindo, irônico, a votar no Picolé de Chuchu quando lhe disse que a sociedade não poderia assinar um cheque em branco concordando, no primeiro turno, com tudo que vimos nos últimos dois anos.

A conversa começou com a frustração comum de que, há quatro anos, o pa?s votara no Lula para, exatamente, fazer diferente.

Por um Brasil decente, e que o problema não era a má qualidade da gestão, mas constatação de que a corrupção de baixa qualidade havia se "democratizado" e chegado a n?veis do sub-mundo e que chocava pela desfaçatez.

E, também, porque t?nhamos inaugurado um per?odo em que pessoas que passaram anos construindo uma imagem de seriedade no nosso inconsciente, agora falavam que o Governo apenas repetia o que os tucanos e o pefelê já faziam há décadas.

E que a única diferença é que agora Policia Federal prendia figurões.

Certo, insisti, mas dar mais quatro anos já no primeiro turno pode fazer com que essa quadrilha leia o resultado da eleição como um atestado de que tudo isso pode ser palatável à sociedade e, portanto, é a senha para se fazer mais e mais.

Nos despedimos sem um convencer ao outro e eu fui para o computador refletir sobre a sensação de anestesia com que a sociedade brasileira parece estar se comportando.

Importa pouco o motivo pelo qual o cidadão vota o deixa de votar.

Importa muito é a lição que isso pode deixar e como os pol?ticos vão ler isso no futuro que começa em 2007.

A questão não é saber quem roubou mais.

Ou quem roubou com mais tecnologia de gestão aplicada à Lei de Responsabilidade Fiscal.

A questão é quem roubou em quatro anos achar que foi validado o conceito geral de esculhambação e achar que pode se animar em sofisticar o erro.

Duvido que um adolescente ouça sem indignação de seus pais que desviar dinheiro público é coisa comum no governo do Brasil e que tudo fica por isso mesmo.

O problema não é achar se este ou aquele candidato vai ganhar ou perder.

O problema é a constatação das pessoas de que tudo é assim mesmo.

Ou que tudo termina em pizza.Repito: eleição é o jogo final de decisão de campeonato.

Ganhar ou perder faz parte do jogo.

Mas o que importa nisso tudo é o jogo da torcida, a motivação do ir a campo.

A disputa no campo e fora do gramado por esse ou aquele time.

O que não pode é o torcedor achar que não vale mais a pena ir a campo porque um dirigente pode ter comprado o juiz, o presidente da federação, emboçado o dinheiro da renda e o goleiro ter sido vendido ao time adversário porque parte da diretoria não quer que time ganhe porque pensa em disputar as eleições da agremiação na outra temporada.

Quando a gente leva um filho para o campo está influenciando ele a torcer pelo mesmo time que nosso pai torcia. É educativo porque a gente está mostrando que o jogo tem um sentido de competição democrático.

O filho pode até nem passar a torcer pelo time da gente.

Mas tem que acreditar que é importante disputar o campeonato.

Perder ou ganhar faz parte.

O ruim é achar que porque um cartola decidiu subornar tudo mundo a gente vai achar isso normal.

E as cores do time como ficam?

Se a gente não se indignar e protestar na arquibancada e exigir seriedade.

Se agente achar que é tudo normal, comprado e corruptivel, o dirigente ladrão vai querer ficar no time para sempre.