Por Túlio Velho Barreto*Cientista Pol?tico e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabucotúlio@fundaj.gov.br Diante da crise instalada no PT e nos partidos aliados que formaram a base de apoio ao primeiro governo Lula, com a qual ele poderia contar num eventual segundo governo, por um lado, e do distanciamento cada vez maior e mais irrevers?vel da oposição, como resultado do momento pol?tico que atravessamos às vésperas das eleições, por outro lado, o presidente Lula, caso reeleito, poderá ser tentado a usar a mesma via utilizada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez para garantir o que se convencionou chamar vagamente de “governabilidade???.

Isto é, governar sem levar em consideração as instituições, sobretudo o Legislativo e os partidos, ambos imersos em crise sem precedente no ciclo democrático brasileiro pós-regime militar (1964-85).

Para ele, que não tem exatamente o perfil nem a história do ex-coronel Chávez, ressalte-se, poderá ser uma tentação e tanto.

E, como disse, talvez a única opção que vislumbre.

Ou que a oposição permita.

O presidente-candidato andou recentemente confidenciando algo parecido a alguns interlocutores.

Cenário implaus?vel?

A resposta pode ser: nem tanto, apesar de improvável.

Basta que se lembre que esta eleição, mais do que qualquer outra eleição presidencial ocorrida no Brasil a partir de 1989, está altamente polarizada entre os mais ricos, em sua maioria eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), e os mais pobres, em quase sua totalidade eleitores do presidente-candidato Lula (PT).

Observando-se os diversos indicadores utilizados para estratificar o eleitorado, e que são utilizados pelos institutos para auferir a intenção de voto, vê-se que tais correlações - eleitores com baixo n?vel de escolaridade e baixa renda estão com Lula; eleitores com alto n?vel de escolaridade e elevada renda estão com Alckmin -, são positivamente fortes.

Com efeito, em uma democracia e instituições frágeis ou débeis, uma oposição disposta a tudo para evitar um segundo mandato do presidente Lula, com o Legislativo e os partidos desmoralizados e a sociedade fortemente polarizada, tudo isso somado a um presidente com alt?ssimo apoio e prest?gio pessoais, o instável cenário venezuleano estaria montado, mas sem o petróleo, que impulsiona a economia daquele pa?s e evita que humores externos lhe afete tanto.

Portanto, vem a pergunta: a quem pode interessar tal cenário?

A ninguém, talvez.

Entretanto, sem que os atores pol?ticos se dêem conta, logo poderemos vê-lo desenhado à nossa frente.

A?, pode ser tarde demais para escapar das armadilhas que as crises institucionais propiciam.

Por isso, um governo com quatro anos parecidos ao último ano do primeiro governo Lula, que teve in?cio com a eleição de Severino Cavalcanti para presidir a Câmara Federal, pode ainda ser o melhor dos cenários para os anos que se avizinham.

O que já seria terr?vel para o pa?s.

Entretanto, se o cenário venezuelano parece improvável, apesar de plaus?vel, o mesmo não se pode dizer de um outro caracterizado por aguda crise institucional.

De fato, como pensar diferente, se, por um lado, o governo Lula e o PT não deram sinal algum de que pretendiam agir de forma diferente após o surgimento da “crise do mensalão??? (vide escândalo em curso envolvendo a compra por parte de petistas de um dossiê sobre o envolvimento do ex-ministro José Serra com a “máfia das sanguessugas???), e se, por outro lado, a oposição passou a se mover só - e somente só - para impedir o presidente Lula de governar por mais quatro anos, já que (1) não conseguiu afastá-lo no auge da crise passada, (2) não conseguiu impedi-lo de concorrer a um segundo mandato e (3) não parece ter forças suficientes para levar a eleição para um segundo turno?

A história mostra que, se utilizados em conjunto, os ingredientes acima tendem a fomentar crises institucionais com desfechos imprevis?veis, e muitas vezes indesejados por todos.

Mas, certamente, usá-los é apenas uma das muitas prerrogativas racionais à disposição dos atores envolvidos.

Portanto, todos têm responsabilidade pelo resultado do jogo em curso. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros “Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX??? (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e “Nordeste 2004 - O Voto das Capitais??? (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

E co-organizou e participou dos livros “Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado??? (Editora Massangana, 2004) e “A Nova República - Visões da redemocratização??? (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.