Por Pierre LucenaProfessor e administrador pierre.lucena@contagemweb.com.brNa semana passada, Fernando Castilho publicava em sua coluna no JC uma análise do estudo do economista Marcelo Cortes Neri, da FGV, sobre o impacto do Bolsa-Fam?lia, e dizia que o meio acadêmico estava começando a perder o preconceito em relação a este programa social do Governo Federal.Realmente Castilho tem razão.

Este tipo de programa de transferência de renda no Brasil já existe há certo tempo, com diferentes nomes, em diferentes governos, mas é a primeira vez que deixou de ser um “programa-piloto??? para atingir uma meta muito ousada.

São 11 milhões de fam?lias que recebem o benef?cio, o que uns chamam de eleitoreiro.Sinceramente, fica dif?cil a argumentação com aqueles que ainda acham que a pobreza vota alienadamente em um candidato quando se refere, em particular, a este programa social.

Primeiro, temos que deixar o preconceito de lado e analisar os dados, o que é mais importante.No estudo em questão, Kakwani, Neri e Son (2006) apresentam seus pontos de vista sob a Teoria do Bem-Estar, mostrando que o aumento de renda entre os anos de 2001 e 2004 foi significativo entre o que chamamos de renda pró-pobre.

Temos uma inversão na curva de crescimento das taxas de renda per capita, principalmente a partir de 2003-2004, e isto se deve em grande parte ao Programa Bolsa-Fam?lia.No mesmo estudo, os autores apontam que o cenário macroeconômico acabou afetando os indicadores de desigualdade, quando se verifica a volatilidade do cenário geral com a desigualdade e pobreza.

Transformando renda em bem-estar, através da função de bem-estar social, pode-se verificar no estudo que, apesar de termos per?odos de diminuição da renda per capita, entre 2001 e 2004, houve um crescimento muito bom no que os autores chamam de taxa crescimento pró-pobre, ou antipobre.

Observando também os programas de transferência de renda, verificando através da contribuição de renda não-proveniente do trabalho, que é onde se encaixa o Bolsa-Fam?lia, verificou-se que houve uma excessiva diminuição da desigualdade a partir de 1995.

Segundo os autores, “um pequeno aumento nos programas governamentais de transferência de dinheiro parecem ter um grande impacto nas condições de vida das pessoas pobres???.Sendo sincero. É preciso acabar com esse estigma de que pobre não sabe votar, e que o Presidente Lula está com altos ?ndices de popularidade porque estes são desinformados e alienados.

Gostaria de saber, qual a diferença entre este voto e o de classe média?

Todos estão votando de acordo com seus interesses.Fico feliz que as conclusões tenham partido de um trabalho de pesquisa sério, e que o meio acadêmico esteja acabando com o preconceito em relação aos programas de transferência de renda, em especial ao Bolsa-Fam?lia.

Parece que uma grande parte da população cansou do discurso “progressista??? de que temos que gerar emprego, renda e coisas do tipo.

Esta parece que foi ouvida através destes programas, e contra eles dificilmente alguém tomará alguma atitude mais séria no curto prazo.*Pierre Lucena, 35, doutor em finanças pela PUC-Rio, Mestre em Economia e Administrador pela UFPE, é professor-adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, sócio da Contagem Consultoria Estratégica e Pesquisa.

Foi secretário-adjunto de Educação do Estado. É Coordenador do Núcleo de Finanças e Investimentos do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE (NEFI).