Por Louise Caroline*Vice-presidente da UNE Há cerca de um mês e meio, estamos compartilhando algumas idéias neste espaço democrático aberto pelo jornalista César Rocha através do Blog das Eleições.

Foram seis artigos, se não me falha a memória atordoada nessas últimas horas antes do dia 1º, e, com este, encerramos o combinado de "As Meninas do Blog" escreverem até o final do primeiro turno.

Sendo assim, é importante registrar que aqui escreve não uma jornalista observadora do processo eleitoral.

E sim uma militante, de movimento social, de partido pol?tico, com um lado bem definido no embate e com as vinte quatro horas do dia, todos esses dias, dedicadas à eleição de meus candidatos.

Digo isso para compartilhar que a cada semana ficou mais dif?cil manter a publicação dos artigos.

Mas a obstinação por fazê-los, mesmo na madrugada, mesmo na estrada, sustenta-se na vitória democrática que é garantir que o outro lado do processo eleitoral, o lado militante, o lado da juventude, das mulheres, dos estudantes, possa também estar presente nos c?rculos que, tantas vezes, são habitados apenas pelos representantes, os engravatados ou os diplomados.

Feitas tais considerações, levanto uma dificuldade espec?fica desta semana: de quarta-feira até hoje, sobram acontecimentos que merecem a centralidade deste último texto antes do primeiro turno, confirmando a tradição de que, quanto mais próximos dos momentos finais, mais os acontecimentos têm impacto e grandiosidade.

Em especial, três questões são fortes candidatas ao "tema da semana": A armação amadora de Saulo Batista, trambiqueiro famoso nas rodas do Movimento Estudantil de Pernambuco e, atualmente, diretor nacional da juventude do PSDB e assessor do Senador Sérgio Guerra; as decisões cada vez menos compreens?veis e parciais do Tribunal Regional Eleitoral; e o debate entre os candidatos ao Governo de Pernambuco realizado ontem pela TV Globo, que comprovou a fraqueza de Mendonça Filho quando fora dos estúdios e da tutela de Jarbas.

Não fico com nenhum dos temas, entretanto.

Registro-os, para que sobre eles possamos refletir.

Mas é à reafirmação do sonho que dedico essa última mensagem antes do 1º de Outubro.

Penso que nos momentos de embate, devemos sempre relembrar das grandes coisas, do que nos move, do motivo de estarmos ali.

O violinista, como parte da orquestra, precisa executar seu instrumento, mas deve compreender toda a sinfonia, o que seus acordes representam, o que ele completa, o que os demais músicos farão.

Do contrário, seu solo é menos motivado, é isolado, pode ser até dissonante.

O deputado, quando no exerc?cio de seu mandato, não pode se restringir a analisar cada questão por ela mesma.

Deve, antes de tudo, pensar em seus representados, no sofrimento de um povo explorado, na situação caótica de nosso mundo.

Um militante, um revolucionário, no sentido mais radical da palavra, precisa se mover pela convicção de seu sonho.

E a disputa eleitoral, principalmente, ser travada com esses sonhos nas mãos.

Portanto, às vésperas de eleições tão decisivas para os rumos do Brasil, da América Latina e do mundo, não posso me ater às questões espec?ficas.

Quero falar do nosso sonho.

De uma sociedade com igualdade de direitos.

De uma democracia real, que se desgarre das páginas de nossas leis.

Quero falar dos que dormem nas ruas, das crianças escravizadas, do mundo em que o dinheiro vale mais do que as pessoas.

Quero dizer que a pol?tica decide sobre isso.

Porque não faltam recursos para que toda a humanidade viva com dignidade.

Dividi-los ou acumulá-los são decisões pol?ticas.

E é pela garantia de que os que defendem a divisão das riquezas, a distribuição dos recursos e a igualdade de direitos possam conduzir a pol?tica e suas instituições que disputamos as eleições.

Por isso, tantos enfrentaram a Ditadura Militar, dando suas vidas por inteiro pela liberdade.

Por esse sonho, pela solidariedade e pela justiça, muitos desses lutadores sa?ram da clandestinidade e decidiram se unir aos sindicalistas que deflagravam grandes greves no ABC paulista, para fundar um Partido Pol?tico que permitisse ao povo disputar as instituições republicanas.

Assim, foi fundado o PT.

No bojo, reorganizou-se o PCdoB.

As entidades estudantis sa?ram da ilegalidade.

Foi criada a Central Única dos Trabalhadores.

Organizou-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.

E nas periferias, na arte, na universidade, desenvolveu-se a esquerda brasileira após o massacre do per?odo ditatorial.

Nunca deixamos de ser perseguidos.

Mas os tanques foram substitu?dos pelas televisões.

E os pseudônimos pela disputa pública de opinião.

O resultado é que, um dia, David derrotou Golias, mas Golias está bem vivo no sistema e a batalha é dur?ssima.

Sei que a história da luta da esquerda, da fundação do PT, da resistência dos movimentos sociais, da chegada de Lula à Presidência é conhecida de todos.

Mas não há melhor momento para reafirmá-la do que a quatro dias das eleições gerais.

Porque essa é a hora de se mover pelo mais importante.

De sair de casa com a convicção do que representamos, das nossas esperanças, dos nossos sonhos.

Daqui até domingo vamos pensar nas boas coisas, nas mudanças, nas pessoas.

Vamos eleger Lula e Luciano Siqueira, chegar bem com Humberto no segundo turno e ampliar nossa representação no parlamento. Única e exclusivamente porque nossa sina é mudar o mundo. *Louise Caroline, 23, é estudante de direito, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante do PT.