Por Fernando CastilhoColunista de Economia do JC Há uma cruel coincidência nos últimos dias vividos pelo presidente Lula da Silva, neste mês de setembro, em relação ao episódio Watergate, que levou o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon a renunciar ao cargo após ser reeleito (no dia 7de novembro de 1972) com mais de 60% do votos: o descarte de auxiliares próximos e amigos de longas datas.
Como Nixon - que se desfez do seu conselheiro pol?tico Dean Burch, depois de seu procurador geral Richard Kleindenst e do seu Chefe da Casa Civil, Bob Haldeman -, Lula vem se desfazendo de auxiliares igualmente importantes como Delúbio Soares, José Dirceu e agora de Ricardo Berzoini.
Alguns até de forma cruel e humilhante.
Como Nixon, Lula nega que tivesse conhecimento dos fatos que levaram aos escândalos.
Nixon, também, negou que tivesse conhecimento da invasão do prédio da sede do Partido Democrata e só mais tarde admitiu que criara um sistema de gravação de suas conversas.
E, alegando privilégio executivo, negou-se a entregar as fitas que provariam suas conversas até ter que renunciar.
O tempo foi passando e Nixon foi se enrolando.
Perdeu seu vice-presidente,Agnew, subtituido por Geraldo Ford, que o sucederia após a renuncia (no dia 9 de agosto de 1974), passados quase dois anos (exatos 600 dias) de bombardeio pol?tico e, naturalmente, um certo entendimento do seu Partido Republicano de que ele não teria mais chance de continuar.
Em alguns momentos, Nixon percebeu que o controle lhe fugia.
Viu a renúncia do promotor especial para o caso, Archibald Cox, seu procurador Geral Elliot Richardson e o vice procurador geral Willian Ruckelshaus.
Lula precisou demitir pessoas com as quais praticamente construiu sua carreira.
A equipe foi se desfazendo na medida em que os escândalos se tornavam conhecidos.
No livro, pouco conhecido pelos jornalistas brasileiros, Os últimos dias, de Bob Woodward e Carl Bernstien, revela-se uma crescente solidão a que Nixon foi sendo condenado.
Ele passava horas sentado no gabinete sem pronuncia uma palavra.
Nos últimos dias viveu na Casa Branca uma solidão que somente a reconstrução meticulosa de dois jornalistas que entrevistaram 394 pessoas, uma delas 17 vezes, pôde identificar.
Se observarmos que a solidão de Lula só tem crescido desde que foi obrigado a perder a companhia de José Dirceu (seu Chefe da Casa Civil), José Geno?no (o presidente de seu partido), Delúbio Soares (o tesoureiro do Partido e da campanha), Antonio Palocci (seu ministro da Fazenda e que, em alguns momentos, teve tanto prest?gio quanto ele próprio), João Paulo Cunha (o presidente da Câmara Federal que ele próprio escolheu), Duda Mendonça (seu homem de marketing) e, mais recentemente, uma série de assessores mais próximos em termos pessoais, assim como os assessores diretos.
Podemos observar que a solidão de Lula só tem aumentado enquanto o cerco de investigações aumenta. É bem verdade que a profundidade das investigações do Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos dificilmente pode ter uma similar nacional com a abertura de um processo de investigação.
Sim, Nixon, como Lula, também se queixava e muito da imprensa, especialmente do Washington Post, embora em pelo menos uma oportunidade (isso acontece lá) a Casa Branca tenha que ter pedido desculpas aos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstien.
De Lula, recentemente: "Se a nossa querida imprensa brasileira houvesse tido comigo a condescendência que teve com FHC, eu teria 70% dos votos".
Ha outras coincidências.
Em setembro de 1972, quando Nixon foi reeleito, o escândalo Watergate era apenas um capricho de dois jornalistas da editoria de cidades e mais um editor da área metropolitana - todos brigando com as estrelas que cobriam o setor de pol?tica nacional.
Não havia elementos suficientes para o impeachment, embora Nixon estivesse debatendo estratégias de acorbertamento.
Resta saber se a história de coincidências entre Lula e Nixon vai continuar nos próximos meses.