Por Túlio Velho BarretoCientista Pol?tico e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabucotúlio@fundaj.gov.br As eleições de 2006 poderão entrar para a história como as que foram decididas pela atuação das “Organizações Tabajaras??? e as mais recheadas de “Armações Ilimitadas???.

Embora aparentemente dispensáveis, explicito para os eleitores mais incautos o significado do que pretendo dizer com a frase anterior, sobretudo para os mais jovens para os quais a expressão “Armações Ilimitadas???, grafada assim mesmo com letras maiúsculas e minúsculas, não diz muita coisa.

Por isso, dividirei meu artigo em duas partes. 1.

Quando todos os institutos de pesquisas de intenção de votos apontavam para uma vitória tranqüila do presidente-candidato Lula ainda no primeiro turno, o que mesmo a oposição reconhecia, eis que surge o chamado “dossiê anti-Serra???.

Como foi fartamente divulgado, trata-se de um suposto dossiê que evidenciaria o suposto envolvimento do ex-ministro da Saúde do governo FHC, o paulista José Serra, com a máfia das sanguessugas.

Da? o seu nome.

Como vários petistas e aliados estão sob investigação parlamentar por suposto envolvimento com a referida máfia, o dossiê mostraria como esta teria atuado no per?odo em que José Serra esteve à frente da pasta da Saúde, o que, em última análise, prejudicaria sua favorita candidatura ao governo paulista.

Segundo foi noticiado, o dossiê seria comprado em uma operação envolvendo militantes, dirigentes e membros das campanhas petistas à Presidência da República e ao Governo de São Paulo e o chefe da máfia das sanguessugas, este gozando de liberdade pelo regime de delação premiada, e seus familiares.

Para tanto, teria sido montada uma operação digna da famosa e indefect?vel “Organizações Tabajaras???, fict?cia empresa do ramo de… trapalhadas, para dizer o m?nimo, comandada e protagonizada pelos impagáveis humoristas do programava televisivo Casseta & Planeta.

Resumo da ópera: mais uma vez ficou evidente que sempre que as “Organizações Tabajaras??? entram em cena, em vez de ajudar, terminam por atrapalhar.

E mais: geralmente, colocam tudo a perder. 2.

E se, no plano nacional, as “Organizações Tabajaras??? fazem a alegria da oposição, pois podem levar a disputa presidencial para um imprevisto e imprevis?vel segundo turno, no plano estadual, as “Armações Ilimitadas??? fazem a alegria da situação, pois podem ser o empurrão que faltava para brecar o crescimento das candidaturas de oposição ou fazê-las descer ladeira abaixo.

Tendo à frente um estranho, mas recorrente, personagem, o caso é muito recente, extremante delicado e ainda exige muitas explicações.

E exaustivas investigações.

De toda forma, a referência às “Armações Ilimitadas??? se justifica na medida em que o referido episódio remete a outro programa humor?stico da TV, que fez sucesso nos anos 1980, sobre três personagens que viviam aprontando inusitadas situações.

Já o personagem real, no caso, chamado Saulo Batista, parcialmente já desvendado pelos blogs do JC e do jornalista Ricardo Noblat, guarda mesmo alguma semelhança com um outro, também real, de sobrenome latino Frank W.

Abagnale Jr.

Para entender melhor quem parece ser Saulo Batista sugiro a leitura de dois longos comentários de Noblat a respeito dele feitos no blog do jornalista, um intitulado “O poder de sedução de um trambiqueiro???, em que está escrito o seguinte: “A mais deliciosa história do dia é a do trambiqueiro, especialista em pequenos golpes Saulo Batista que passa neste momento como um furacão pela campanha eleitoral de Pernambuco. […] Depois de militar no PC do B, freqüentar reuniões da UNE e ser posto para fora de casa pela própria mãe, ele se mandou do Recife para Bras?lia.

Compareceu a várias reuniões do PSDB se dizendo militante do partido.

Posou para fotografias com vários l?deres do partido.

Até que desmascarado foi aprontar em Goiânia.???

Para a ?ntegra dos dois textos de Noblat a respeito, basta clicar aqui.

Com relação à história do norte-americano Abagnale Jr e suas traquinagens e estripulias, para dizer o m?nimo, pode-se dizer que ele teve mais do que seus quinze minutos de fama enganando meio mundo de pessoas e organizações sérias nos Estados Unidos - de costa a costa - e na Europa, pois sempre que era descoberto tinha que mudar de endereço e praticamente assumir outra identidade, e às vezes, mesmo outra vida por inteiro.

Sim, você já deve ter lido, ouvido ou visto algo a respeito, pois a história de Hanratty virou livro e depois filme de sucesso dirigido pelo premiad?ssimo diretor norte-americano Steven Spielberg.

Lançado em 2002, o filme foi estrelado por Tom Hanks, no papel do agente do FBI Carl Hanratty encarregado de prender Abagnale Jr, então representado pelo ator Leonardo DiCaprio.

Como disse, o filme é baseado na autobiografia de Frank W.

Abagnale Jr, lançada no Brasil pela Editora Record (2003).

Ambos, livro e filme, têm o sugestivo t?tulo de “Prenda-me se for capaz???.

Mas, como a arte imita a vida, a vida também imita a arte e fez surgir, no Brasil, há poucos anos, outra história real bastante semelhante à história também real de Abagnale Jr.

De novo, o leitor do Blog do JC já deve ter lido ou ouvido a respeito, inclusive porque o personagem circulou bastante em nosso estado.

Trata-se da história de uma pessoa que, se passando por filho do dono de uma grande companhia aérea do pa?s, namorou conhecidas e belas atrizes e modelos e tornou-se amigo de personalidades ilustres da sociedade, além de ter concedido entrevista em TV e ter sido fotografado para diversas colunas sociais ao lado de alguns famosos e outros nem tanto.

Pois bem, embora muito tenha que ser investigado e esclarecido, sobretudo porque a estranha história vivida e narrada pelo personagem Saulo Batista se refere a militantes, pol?ticos, dirigentes e coordenadores de campanha dos socialistas pernambucanos, além de uma empresa estatal, por tudo que se pôde ler e ouvir até agora, não é dif?cil traçar um paralelo entre o principal personagem dessa história e as outras duas aqui citadas.

Quem é realmente Saulo Batista e o que ele pretendia com o que Noblat chamou de mais um golpe parecem ser apenas as perguntas mais simplórias em busca de respostas.

Mas, uma vez obtida tais respostas, é provável que fique mais fácil chegar às demais, inclusive aos motivos que levaram o presidente licenciado do PSB pernambucano Milton Coelho (e outros socialistas) a dar ouvidos a ele e sua fantástica história, da qual o projeto de construção de uma pista de gelo para corridas de kart, apresentado por uma suposta empresa de consultoria de São Paulo, no valor nada desprez?vel de quatro milhões e meio, seja apenas o detalhe mais inusitado. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros “Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX??? (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e “Nordeste 2004 - O Voto das Capitais??? (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

E co-organizou e participou dos livros “Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado??? (Editora Massangana, 2004) e “A Nova República - Visões da redemocratização??? (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.