Por Fernando CastilhoColunista de Economia do JC Marcelo Teixeira, que ao lado de José Nivaldo Júnior dirige a Makplan, uma das primeiras agências especializadas em marketing pol?tico e que, durante anos, só trabalhou para governos, aposta - a 10 dias das eleições - que a campanha presidencial caminha para o segundo turno, advertindo que isso está escrito nas pesquisas de todos os institutos, mas que a m?dia faz uma leitura precipitada dos resultados quando afirma que só teremos um turno.
Ex-marqueteiro de uma dezena de pol?ticos de todas as matizes, indo de Leonel Brizola a Marta Suplicy, de Cristovam Buarque a Paulo Maluf, Teixeira foi autor da estratégia de campanha em mais de 70 disputas eleitorais em dezenas de estados brasileiros, vencendo a maior parte delas.
Segundo ele, no meio dos profissionais que cuidam de campanhas pol?ticas, isso está consolidado há pelo menos duas semanas.
Porque, ao contrario dos jornalistas, os marqueteiros não usam os números para dizer quem vai ganhar ou perder a eleição, mas para montar suas estratégias.
Servem como ferramenta de trabalho, não como produto final para m?dia.
Teixeira afirma que o motivo de sua certeza é a tendência de queda do candidato Lula da Silva nas Regiões Sul, Sudeste e Norte, e identifica uma incapacidade dos institutos de pesquisa em captar os movimentos sociais que ocorreram no pa?s.
Porque a metodologia usada já não se adequa mais ao Brasil urbano.
Ele cita o desvio que poderá provocar enormes equ?vocos de avaliação geral em relação ao Nordeste, onde há pesquisas que apontam ?ndices de até 70% para o candidato Lula da Silva.
Segundo ele, na história republicana nunca um candidato obteve, no dia da eleição, esse ?ndice. - Seria algo como em cada 100 pessoas, 70 sa?ssem de casa dispostas a votar num único candidato.
Isso não está acontecendo no momento, diz.
Isso também não quer dizer que Lula não esteja na frente (e por muito) no Nordeste, está.
O que as pesquisas não conseguem captar com precisão é esse percentual.
Até porque dentro do Nordeste esse fenômeno não e generalizado.
Cite-se os casos de Sergipe e Bahia.
O problema, segundo Marcelo Teixeira, é que a pesquisa não chega no eleitor médio ou referencial.
Há casos de problemas básicos como a dificuldade de abordagem da Classe A, a dificuldade de entrevistar pessoas em apartamentos e de se estratificar classes sociais iguais em Regiões diferentes com maior precisão.
Nas grandes cidades, exemplifica, o pesquisador não consegue entrar no edif?cio porque o porteiro não deixa, por questões de segurança.
Assim, quanto mais urbana é a cidade, mais o pesquisador capta o seu entrevistado na rua.
Isso, segundo ele, não invalida as pesquisas.
Muito menos as tornam inúteis.
Mas essa é uma dificuldade que muitos institutos já debatem há várias eleições sem conseguir resolver o problema.
A questão mais grave para ele é que as pesquisas indicam uma apartheid social com o Nordeste votando diferente do Brasil.
Em 2006, segundo as pesquisas dizem, teremos o Nordeste votando diferente do Sul ou do Sudeste.
Na eleição de 2002, apenas em Alagoas, Lula perdeu para Fernando Henrique no segundo turno.
Segundo ele, o Brasil vota igual. "Desde que se conta voto, isso acontece", diz.
Da mesma forma que nenhum presidente do Brasil foi eleito sem ganhar em São Paulo (exceto no caso de JK, pois havia a candidatura de Adhemar de Barros, que era de São Paulo).
Isso é fato histórico.
Pode acontecer como fato isolado, como para provar que toda regra ter uma exceção, mas no geral o Brasil vota igual, insiste.
E se acontecer o que as pesquisas aparentemente mostram?
Marcelo Teixeira acha que teremos um espetacular fato social para dezenas de teses acadêmicas.
Mas ele não acredita que isso esteja acontecendo. "Lula pode ganhar, mas nem terá essa votação prevista pelas pesquisas em todo o Nordeste e nem o Nordeste vai votar diferente do resto do Brasil", insiste.
Ele lembra que a tradição no Brasil é das pesquisas errarem por muito nos números grandes.
E lembra o caso de Pernambuco aonde os jornais chegaram a machetear Roberto Magalhães como o Prefeito do Recife e vai por a?.
Ou Humberto Costa com 17% das intenções de voto, no dia da eleição, quando ele obteve 35% contra Jarbas Vasconcelos.
E as distorções em vários estados onde se errou até em pesquisa de boca-de-urna.
Não é que as pesquisas não sejam importantes, adverte.
Ou que não sejam válidas, esclarece.
Ou ainda que não sirvam para orientar os profissionais.
O equ?voco é achar que elas são a expressão do voto do eleitor.
Elas indicam o caminho para os profissionais que têm métodos de leituras que não se limitam aos grandes números.
O erro é achar que elas antecipam o voto do eleitor no dia da eleição.