Por Sérgio Montenegro FilhoRepórter especial do JC e colunista do JC OnLine Era uma vez, no Planalto da Transilvânia, um vampiro mau, que gostava de sugar o dinheiro público.
Ali também havia sanguessugas tenebrosas, que se deliciavam com recursos do orçamento da União.
Eles chegaram muito tarde e só pegaram sobras, deixadas pelos seus inimigos mortais, os malvados tucanos carn?voros, que também viviam por lá.
Apesar do tom infantil, “lendas” como estas andam povoando os pesadelos do brasileiro comum.
Graças aos esforços dos pol?ticos, que não mais se empenham em apresentar propostas e soluções para os problemas do cotidiano do cidadão comum.
A onda, agora, é esmiuçar o passado dos adversários, montar dossiês e denunciá-los na m?dia, não importando se isso vai ou não mudar alguma coisa na vida dos pobres eleitores, absolutamente entediados com o novo “estilo”.
Na verdade, ninguém aguenta mais tanto escândalo.
Aliás, do jeito que a coisa vai, essa palavra, em breve, perderá a força e passará a figurar ao lado de tantas outras, relegadas ao papel de mero componente de discursos eleitorais. É muito barulho por nada.
Concordo e apóio que se apure toda e qualquer denúncia que envolva o patrimônio público.
Claro que devem ser investigadas de forma rigorosa, e os culpados, identificados e levados aos tribunais.
Até porque, no final, quem paga a conta é o contribuinte, v?tima, de quebra, dos longos e cansativos guias eleitorais.
O pior é que, em vez de colaborar para ajudar o eleitor a se definir, esses programas - espaços cedidos gratuitamente aos partidos e candidatos - se limitam a esbanjar denúncias, acusar quem roubou, como roubou e porque roubou. Às vezes sem as provas necessárias, o que é pior.
Mas para que provar, se o que interessa mesmo é levar o caso apenas até o dia 1º de outubro?
Depois disso, passado o affair das urnas, ninguém vai mesmo lembrar de acompanhar as investigações.
Via de regra, o caso fica restrito ao Ministério Público e, se o candidato acusado não tiver sa?do vitorioso no pleito, pode até ser condenado, mas ganhará no máximo um rodapé de página nos jornais.
Neste, que é o Pa?s da impunidade, se desconhece quem tenha sido castigado com o rigor adequado.
Um exemplo prático: semana passada, o presidente Lula discursava, em Belém do Pará, em cima de um palanque que continha - para usar uma expressão contida - a nata da malandragem daquele Estado.
Estavam lá, sorridentes: José Prianti - candidato do PMDB ao governo paraense, cujo nome está envolvido num esquema de licitações fraudulentas; o célebre ex-senador Jader Barbalho, acusado de desviar recursos do Banpará e da Sudam (lembram?); o ex-deputado “mensaleiro” Paulo Rocha (PT-PA), que renunciou para não ser cassado; e até o ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), envolvido na Operação Galiléia, por suspeita de fraude em licitação da Companhia Docas do Pará.
Nenhum deles está na prisão.
Alguns até estiveram, mas deram um jeitinho de sair logo.
No palanque adversário, também há problemas.
O vale-tudo eleitoral acaba de envolver os ex-ministros tucanos José Serra e Barjas Negri na sujeira da máfia das ambulâncias.
Se eles têm ou não culpa, é o que menos importa para quem quer mesmo é jogar lama na imagem do presidenciável tucano Geraldo Alckmin e seus aliados.
Isso inclui o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recentemente perdeu a pose de novo e partiu para o ataque a Lula.
Isso sem falar na bossa de outras “vestais”, como o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que assumiu a ponta de lança das cr?ticas à corrupção no governo petista.
Logo ele, que fez história no Congresso Nacional, com direito a cassação por quebra de decoro parlamentar e a um retorno festivo bancado pelas urnas dos fiéis eleitores baianos.
Alguém ainda lembra de tudo isso?
O caso ACM, assim como inúmeros outros ocorridos na pol?tica nacional, terminaram impunes, ninguém pagou o pato.
Não passaram de matéria-prima para denúncias que povoaram os guias eleitorais por uns tempos e depois ca?ram no esquecimento.
Algo que, lamentavelmente, deve se repetir dentro de mais alguns meses, após o calor das eleições de outubro.