Por Pierre Lucena*Professor e administrador pierre.lucena@contagemweb.com.br Recentemente o Governo Federal lançou um novo pacote de financiamento imobiliário, com o objetivo de alavancar o setor habitacional através de linhas de crédito mais competitivas.As mudanças se baseiam em alguns princ?pios:· Desoneração de impostos, na verdade o IPI;· A não-obrigatoriedade da TR por parte dos bancos;· Consignação do financiamento imobiliário;· Linha de financiamento espec?fica através do BNDES.Além disso, o Governo promete liberar R$ 4,5 bilhões até o fim de 2007 em financiamento, seja através de construtoras ou de pessoas f?sicas.

A pergunta é: até que ponto esse pacote vai realmente levar as pessoas a comprar imóveis?Acredito que qualquer medida de incentivo à construção civil seja importante, pois é um setor intensivo de mão-de-obra, e ajuda a resolver um grande problema no Brasil, que é o déficit habitacional.

Um amigo meu, também professor da UFPE, diz que não existe o problema da habitação, existe é problema de falta de renda, porque, se as fam?lias tivessem poupança, poderiam adquirir a casa própria.Sob determinado ponto de vista, essa afirmação pode se comprovar.

Porém, dois pontos devem ser levados em consideração: a casa própria não é um bem de consumo como outro qualquer, pois se trata de um sonho; e segundo, é um produto muito caro, que necessita de financiamento espec?fico de longo prazo.Qualquer empréstimo tem seu custo baseado em quatro fatores: o custo de oportunidade do dinheiro, que é dado pelo CDI bancário (aproximadamente); o risco da inadimplência; o custo bancário de operação; e o lucro do banco (pois ninguém é de ferro).

O empréstimo consignado atua fortemente na minimização do risco da inadimplência, e vem sendo muito eficaz na diminuição do custo do empréstimo.

Acredito que, neste caso, pode representar uma medida eficaz na diminuição dos juros cobrados ao consumidor.O financiamento através do BNDES também é bem vindo, mas a princ?pio não falta dinheiro para financiamento, o que falta é taxa de juros adequada.

Em relação à não obrigatoriedade da TR, sinceramente, não consigo enxergar motivação bancária para a eliminação imediata do indexador.

Infelizmente no Brasil qualquer tipo de pol?tica passa necessariamente pelo Banco Central, já que a questão dos juros é ponto chave para o desenvolvimento econômico.

Esse é um dos motivos pelo qual o Governo deve ter interferência no Banco Central.

Já passou da hora de dependermos apenas de talentos oriundos do “mercado financeiro???.

Não é poss?vel que o Governo não encontre funcionários independentes para o exerc?cio da autoridade monetária.Enquanto a taxa de juros aplicada for muito mais alta que a rentabilidade do imóvel através de aluguel, fica dif?cil o financiamento se tornar atrativo.

Ninguém quer pagar R$ 1.000,00 apenas de juros quando o aluguel deste está em R$ 500,00.

Por mais que o sonho da casa própria seja uma realidade, o consumidor não seria tão irracional a ponto de pagar muito mais pelo mesmo produto.*Pierre Lucena, 35, doutor em finanças pela PUC-Rio, Mestre em Economia e Administrador pela UFPE, é professor-adjunto da Universidade Federal de Pernambuco, sócio da Contagem Consultoria Estratégica e Pesquisa.

Foi secretário-adjunto de Educação do Estado. É Coordenador do Núcleo de Finanças e Investimentos do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE (NEFI).