Por Louise Caroline*Vice-presidente da UNE Os defensores do processo eleitoral como momento máximo do confronto de opiniões sobre as relações sociais e pol?ticas têm muitos motivos para manifestar sua insatisfação com o rumo que a campanha pernambucana tomou nos últimos quinze, vinte dias.

Como no dito popular, "do pescoço para baixo virou tudo canela".

O mais estranho, ou mais intrigante, é que a sa?da do campo das propostas e idéias partiu do candidato governista, mais precisamente de seu dirigente, Jarbas Vasconcelos, e tomou proporções absurdas.

Primeiro, Jarbas soltou "cachorradas e safadezas".

Em seguida, no primeiro debate com todos os candidatos, Mendonça levantou o caso dos Precatórios contra Eduardo.

Da? em diante, o indiciamento de Humberto Costa passou a ocupar boa parte da propaganda da União, embora a estratégia escolhida tenha sido a de utilizar as inserções ao longo do dia e o tempo dos proporcionais, na tentativa de que os ataques não sejam diretamente associados ao candidato Mendonça.

Não é que seja desonroso levantar questões como essas no processo eleitoral.

O lastimável é que a União tenha escolhido tais temas como a principal arma de convencimento ou, com licença para o neologismo, "desconvencimento" da população. É a propaganda na negativa. É a escolha na eliminação de alternativas.

Pior ainda: é de um baixo n?vel que deve ser desprezado e rechaçado pelas pessoas que querem compreender as diferenças e qualidades dos postulantes.

O estilo bombástico do marketeiro Lavareda, apesar dos últimos fracassos, parece continuar gozando da confiança da União jarbista.

Na primeira eleição de João Paulo, em 2000, foi criado o clima de caos social caso o operário vencesse o pleito.

Quem perdeu a cabeça e a eleição foi Roberto Magalhães.

Na reeleição do prefeito, Lavareda escolheu mexer na obra-modelo das palafitas de Bras?lia Teimosa, sofreu um revés terr?vel no programa eleitoral e teve expostos métodos questionáveis de seleção de depoimentos, em um caso que terminou na perseguição de advogados por agentes públicos e até naquele sequestro inexplicado.

Além, claro, na derrota flagorosa de Cadoca.

Agora, a escolha feita é por desmoralizar os principais adversários e não por derrotá-los no campo das idéias.

Ruim para a pol?tica, pior para seus protagonistas que alimentam o ódio em vez de semear os bons sentimentos, a solidariedade e o respeito. "Votem em Mendonça, não porque ele seja bom, mas porque os nossos adversários são maus!" Esse tipo de debate rasteiro já vitimou os que hoje se utilizam dele.

Jarbas Vasconcelos sabe quão despolitizante e revoltante foi a campanha "Jarbas bate no pai", difundinda nos quatro cantos de pernambuco, em muros pixados, panfletos apócrifos e discursos inflamados.

Sérgio Guerra tem noção do quanto o caso dos "Anões do Orçamento" incomodou seus planos e impossibilitou que discussões mais valorosas tivessem o espaço merecido.

Nessa reta final até o primeiro turno, a expectativa dos que acompanham a sucessão em Pernambuco é quanto ao comportamento que Humberto e Eduardo vão adotar diante da estratégia difamatória escolhida pela União.

Permanecerão pautando as cr?ticas apenas dentro das incompetências pol?ticas e administrativas do Governo Jarbas/Mendonça, como vêm fazendo com a questão da CELPE, da Educação, da Saúde e da Segurança Pública, ou se verão obrigados a também jogar as cartas de questionamentos nos campos morais, pessoais e do passado?

A d?vida de mais de trezentos milhões de reais com um banco público de José Mendonça, pai do candidato jarbista, irá se calar simplesmente por uma decisão arbitrária e incompreens?vel do Tribunal Regional Eleitoral ou virá à tona no melhor momento?

Enfim, daqui para o 1º de Outubro, cada dia cient?fico equivalerá a muitos dias históricos.

Conforme as horas passam, as peças deixadas para o final da partida precisam ser jogadas.

Para os admiradores da boa pol?tica, resta, além das dúvidas, o desejo sincero de que a população pernambucana reaja a esse tipo de campanha med?ocre da mesma forma com que tem reagido na disputa nacional.

E aos pol?ticos, fica a lembrança de que governar Pernambuco é tarefa de alto n?vel, digna dos que semeiam amor, respeito e alegria. *Louise Caroline, 23, é estudante de direito, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante do PT.