Por Inácio França*Jornalista e consultor do UNICEF Nas últimas semanas, vários ve?culos de comunicação noticiaram que muitos dos parlamentares que se livraram da cassação no escândalo do chamado “mensalão??? poderiam ser reeleitos em outubro.
Vários colunistas especializados (ou não) em pol?tica esbravejaram, espumaram indignação.
Por conta disso, hoje decidi gastar alguns minutos na Internet pesquisando a situação nas pesquisas de opinião dos outros protagonistas das CPIs: os acusadores, aqueles que foram premiados com horas na telinha e fotos nas revistas semanais.
Por ordem alfabética, comecemos pelos detentor da oratória mais furiosa da bancada tucana no Senado, Arthur Virg?lio Neto.
Seria lógico imaginar que, depois de tanta exposição na m?dia, o l?der do PSDB seria um forte candidato ao Governo do seu estado.
Não é isso que acontece: no Amazonas, Virg?lio está em terceiro nas pesquisas de opinião, com apenas 3% das intenções de voto segundo os institutos Sensus e Ibope.
Sua rejeição é a maior entre os candidatos majoritário: incr?veis 76,3%.
A mesma pesquisa aponta que, hoje, Lula teria 71% dos votos amazonenses.
Deixei os tucanos de lado e fui verificar a situação da estrela do PPS, a elegante ju?za Denise Frossard.
Nas eleições para o governo do Rio, ela é uma coadjuvante com pouco brilho: ela está em terceiro lugar nas pesquisas e, entre os três primeiros, possui o maior ?ndice de rejeição.
Ainda no Rio de Janeiro, mas já na letra “e???: o deputado federal pelo PSDB Eduardo Paes, que ganhou fama nacional provocando os depoentes da CPI dos Correios ao lado de ACM Neto, está passando vexame nas eleições para governador do Rio.
Apesar da força da legenda, ele é um nanico na disputa, pois está em quinto lugar, com 2% das intenções de voto, segundo a pesquisa mais recente do Ibope.
Helo?sa Helena dispensa apresentações.
A senadora alagoana foi, provavelmente, a integrante das CPIs que mais rendimentos eleitorais obteve com seus ataques às testemunhas e acusados na CPI.
Cresceu nas pesquisas no in?cio da corrida presidencial, mas seu discurso com muitas cr?ticas e promessas no velho estilo do “eu farei??? parece ter cansado o eleitorado.
Está em queda gradual nas pesquisas.
Pelo menos se fortaleceu em Alagoas.
Na letra “j???, o senador José Jorge, que tanto pediu a CPI dos Bingos, é candidato a vice-presidente, mas nem é citado no guia eleitoral.
Aqui em Pernambuco, seu nome não agregou muita coisa a Alckmin.
Vive um inédito ostracismo em plena campanha eleitoral.
Esses fatos ajudam a compreender a razão do presidente Lula ter sancionado o artigo da legislação eleitoral que permitia a exibição de imagens gravadas nas sessões das CPIs.
Os oposicionistas acreditavam que esse seria um trunfo durante a campanha, pois poderiam capitalizar suas próprias participações como intrépidos acusadores.
Deu tudo errado: como qualquer espetáculo midiático, os escândalos cansaram.
Aqui vale abrir parênteses.
Enfocar os escândalos como produtos midiatizados - com direitos a gravações clandestinas, lances picarescos e retórica inflamada - não é o mesmo que dizer que foram ‘invenção ou complô da m?dia’, pois é óbvio que o PT fez caixa dois.
Pagar parlamentares para garantir votos nos legislativos é comum no Brasil inteiro.
O problema é que o afã das elites tradicionais - a editora Abril, a Globo e os donos dos jornalões inclu?dos a? - para destruir o s?mbolo Lula foi tão grande que erraram a medida.
O show ficou muito tempo no ar e, o pior, sem um desfecho sensacional.
Imaginem uma Copa do Mundo com quatro meses de duração?
Bastam três jogos ao dia durante 15 dias para qualquer um enjoar de futebol.
Que tal Dois Filhos de Francisco todos os dias na sessão da tarde, seguido de shows de Zezé de Camargo e Luciano em horário nobre todas as noites?
A audiência chegaria a zero em uma semana, o mais tardar. É evidente que o fenômeno Lula tem inúmeras outras razões a serem bem estudadas, mas a massificação das denúncias deve ter contribu?do tanto para seu fortalecimento quanto para o desgate dos seus acusadores. *Inácio França é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco, em dezembro de 1990.
Repórter de Pol?cia do Diário Popular (SP), atual Diário de São Paulo.
Repórter de O Globo, sucursal de São Paulo.
Repórter de O Globo, sucursal de Recife.
Repórter-especial do Diário de Pernambuco.
Secretário de Comunicação de Olinda, durante a primeira gestão de Luciana Santos (PCdoB).
Atualmente, Consultor de Comunicação do UNICEF para os estados de Alagoas, Para?ba e Pernambuco.
Como repórter, conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Dieitos Humanos, Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo.