Por Sérgio Montenegro FilhoRepórter especial do JC e colunista do JC OnLine Em ano eleitoral, a quantidade de pesquisas feitas para avaliar tudo e todos chega a ser angustiante.

Pesquisa, como se sabe, é a amostragem de um universo, e como tal, tem que ter sua margem de erro obrigatoriamente anunciada, assim como um intervalo de confiança que indique a sua falibilidade.

Algumas dessas sondagens, porém, terminam se tornando interessantes e ilustrativas, ainda que não se deva depositar 100% de confiança nos resultados que atestam.Caso exemplar é o da nova pesquisa do Instituto Datafolha sobre a sucessão presidencial, divulgada no in?cio da semana.

Deixemos de lado os números da disputa eleitoral propriamente dita e atenhamo-nos ao campo "qualitativo" - digamos assim - da dita sondagem.

Ali, há dados bem esclarecedores, como os que revelam o porquê de Lula (PT) ter conquistado a simpatia do povão e, graças a isso, estar de novo com a popularidade em alta.

Ao passo que Geraldo Alckmin (PSDB) mantém a imagem de "candidato dos ricos", o que talvez explique o fato de continuar tão pesado, sem conseguir decolar mesmo com a aproximação do final da pista.De acordo com o Datafolha, Lula aparece com 48%, contra 19% de Alckmin no quesito "candidato dos pobres".

Na pergunta inversa, sobre quem atuará em defesa dos mais abastados, o tucano vai a 32%, contra 16% do petista.

Alckmin também ganha de Lula no quesito "inteligência": obtém 34%, contra 31% do petista.Mas há mais.

Somente na faixa de eleitores que ganham mais de dez salários m?nimos o presidenciável tucano consegue bater o petista nas urnas, por 38% a 35%.

Apenas 1% acima da margem de erro, que é de dois pontos percentuais.

Já entre os que ganham até dois salários m?nimos, o presidente vence o adversário por 59% a 21%.

Uma diferença bem mais ampla.

No "meio termo" - a faixa de entrevistados que percebem mensalmente entre dois e cinco m?nimos, o petista venceria com 46% contra 34%, e entre os que ganham de cinco a dez m?nimos, cravaria 41% contra 31% de Alckmin.Interessante é que, embora com uma vantagem até confortável, Lula tem demonstrado intensa preocupação em recuperar mais uns pontinhos.

Quer mesmo assegurar que nada ameace seus planos para um segundo mandato, ainda que o PSDB, ao optar por Alckmin em vez de José Serra como seu adversário, tenha dado uma das maiores colaborações nesse sentido.O guia eleitoral do presidente-candidato na televisão e no rádio tem dado mostras dessa preocupação dos petistas em não deixar pontas soltas.

Considerado consolidado entre os eleitores das classes C, D e E, Lula, agora, investe na estratégia de recuperar a confiança da classe média, principal responsável pela sua vitória em 2002, quando - ali, sim - angariou a simpatia de parte do empresariado e dos formadores de opinião. os mesmos que, em 1989, o consideravam uma ameaça social.Analistas pol?ticos garantem que o presidente, desta vez, não precisaria dos votos da classe média para conquistar seu segundo mandato.

Mas para assegurar que esse segundo governo funcione melhor que o primeiro, marcado pelas crises e pela desconfiança popular, providenciada por seus próprios aliados, ele precisa subir no conceito desse grupo, que tem peso fundamental na ascensão ou decl?nio de um governante.

E, no momento, esse segmento formador de opinião ainda anda ressacado da enormidade de not?cias sobre crise e corrupção no governo petista.Dentro da estratégia do PT está a defesa do Bolsa-Fam?lia - carro-chefe do governo - e de outros programas sociais, além dos de infra-estrutura e desenvolvimento.

Os resultados positivos desses programas têm sido convertidos para a linguagem da classe média e veiculados diariamente nos guias eleitorais, quer sejam os da campanha presidencial, quer os dos aliados de Lula que disputam os governos estaduais.

O importante é que o bombardeiro seja o mais forte poss?vel, de preferência, com a mesma intensidade com que foram veiculadas as not?cias negativas sobre o governo.Como se vê, não existe posição nas pesquisas que seja suficientemente confortável para acalmar os ânimos dos petistas.

A briga, ao que tudo indica, vai durar até que sobre de pé apenas o último combatente.