Por Flávia MarreiroDa Folha de S.Paulo Para o cientista pol?tico carioca Fabiano Santos, 41, é uma "tolice" considerar a eventual eleição de mensaleiros ao Congresso como um sinal de falência da pol?tica brasileira.Santos defende que o caso dos pol?ticos que receberam dinheiro do valerioduto "é diferente de corrupção pura e simples, de gatunos que foram pegos roubando". "Há a idéia: "Votou-se nos mensaleiros e então realmente estamos todos acabados e o Brasil não tem jeito".

Não tenho preocupação com isso.

Acho que isso é uma tolice." Santos diz que a população enxerga no PT e no governo "ambigüidade" quando o tema é corrupção: houve os escândalos pol?ticos mas também houve espaço para que os mecanismos de controle atuassem.

O coordenador do Núcleo de Estudos do Congresso do Iuperj, que se define como de centro-esquerda e assinou um manifesto em apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sugeriu que o PSDB "encare as dificuldades com tranqüilidade democrática, e sem recorrer a lacerdismos".

FOLHA- O que representa a possibilidade de reeleição de Lula no primeiro turno?

Os escândalos de corrupção não são decisivos?

FABIANO SANTOS - Primeiro, Lula é amplamente favorito, mas ainda há uma possibilidade de segundo turno….

O sinal mais contundente é que as pol?ticas públicas voltadas para a pobreza e a miséria foram muito eficientes e reconhecidas pela população e estão virando voto nas classes médias e alta, num fenômeno já apontado por petistas e analistas que é muito interessante.

Em relação à corrupção e aos escândalos, o que ocorreu no governo Lula é um fenômeno composto.

Efetivamente, tivemos revelações e confirmações de que membros do partido infringiram a lei.

Mas o governo é amb?guo: ao mesmo tempo que usou instrumentos não-éticos no combate pol?tico, por outro lado, do ponto de vista da gestão do combate à corrupção, foi muito eficiente, aparelhou a Pol?cia Federal, tem dado tratamento igual às classes mais e menos favorecidas.

Essa ambigüidade influencia o julgamento da população.

FOLHA - Não se corre o risco de haver uma "naturalização" de comportamentos pol?ticos à revelia da legislação, se fiando, por exemplo, na declaração de Lula de que todo mundo faz caixa dois?

SANTOS - A questão da corrupção não é o principal tema, mas a população não passa ao largo dele.

Quando Lula disse que o que o PT fez o que todos fazem sistematicamente, foi a admissão de que eles estavam se armando com instrumentos que os partidos conservadores sempre utilizaram.

O que isso representa do ponto de vista da pedagogia pol?tica?

O mais importante é o fato de que ao longo do tempo, independentemente dos governos, tenhamos aperfeiçoado os mecanismos de controle.

Esses instrumentos estão trabalhando para termos mais transparência, a transparência poss?vel à nossa democracia.

O PT deixou explicitado quem tinha responsabilidades.

Não vi isso acontecer em outros partidos.

O próprio ex-presidente FHC falou que o tratamento do PSDB em relação ao senador Azeredo não foi o mais adequado…

Essa tentativa de partidarizar a questão da corrupção é um erro.

E é um erro que a população não está cometendo.

FOLHA - O que esperar do desempenho eleitoral de candidatos sanguessugas e mensaleiros?

SANTOS - É dif?cil prever o que vai acontecer.

No caso dos mensaleiros, é diferente de corrupção pura e simples, de gatunos que foram pegos roubando.

O que foi caracterizado foi o uso de recursos não-contabilizados pelas campanhas.

Há as imagens fortes de uma quadrilha, que se organizou para infringir a lei, mas o objetivo ali era o jogo pol?tico.

Tem de ser punido pela lei.

Mas como a população vai reagir?

Imposs?vel saber.

Mas pode haver um movimento de revanche por parte do eleitor do PT.

Como se estivessem dizendo: "Houve uma tentativa forte de desmoralizar o partido e para além daquilo que seria razoável.

Agora chegou a vez de dar o nosso voto".

Há a idéia: "Votou-se nos mensaleiros e então realmente estamos todos acabados e o Brasil não tem jeito".

Não tenho preocupação com isso.

Acho que isso é uma tolice.

Leia aqui a entrevista completa (assinantes Folha e UOL).