Por Túlio Velho Barreto*Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabucotúlio@fundaj.gov.br Em artigo anterior, publicado na última segunda, dia 4, chamei a atenção para o fato da propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na TV ter chegado exatamente à metade.

Então, procurei fazer um balanço dos principais acontecimentos até aquele momento.

Em seguida, prometi escrever também sobre os seus desdobramentos e os poss?veis cenários para as últimas três semanas de campanha, enfocando as disputas local e nacional.

Pois bem, o acontecimento mais importante desta semana envolveu as duas disputas, local e nacional, já que teve como ator principal precisamente o presidente-candidato Lula, que, como mostram as pesquisas, goza de enorme popularidade e lidera a corrida presidencial no estado, presente no mega-com?cio realizado em Caruaru, principal cidade do Agreste pernambucano.

O evento e seus desdobramentos, certamente, pautarão a campanha das três alianças estaduais e a disputa eleitoral nos próximos dias.

E poderá significar, inclusive, um passo mais decisivo para a nacionalização da eleição local e, conseqüentemente, para o seu resultado.

Foi também uma semana de divulgação de várias pesquisas, que apontaram para a manutenção das tendências anteriores nas disputas local e nacional.

Por um lado, o governador-candidato Mendonça Filho (PFL, União por Pernambuco) manteve a dianteira em relação a Humberto Costa (PT, Melhor para Pernambuco) e Eduardo Campos (PSB, Frente Popular de Pernambuco), que continuam tecnicamente empatados em segundo lugar.

E os números, que já foram comentados neste Blog pelo jornalista César Rocha, mostram a realização de um provável segundo turno.

Por outro lado, o presidente-candidato Lula ampliou sua vantagem, no estado e nacionalmente, em relação a Geraldo Alckmin (PSDB), com Helo?sa Helena (PSOL) despencando significativamente nas preferências do eleitorado, o que pode fazer com que a eleição seja mesmo decidida ainda no primeiro turno (ver números mais atuais em https://eleicoes.uol.com.br/2006/pesquisas/datafolha.jhtm).

Mas o que ficou ainda mais evidente na passagem do presidente-candidato no Agreste pernambucano foi a sua enorme força pol?tica e eleitoral.

E a influência que ele ainda pode exercer sobre o resultado da disputa local.

Isso ajuda a entender por que a União por Pernambuco e seus principais candidatos, Mendonça Filho e Jarbas Vasconcelos, desprezam tão acintosamente a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República, apesar das presenças do senador José Jorge e do PFL na chapa e na campanha nacional.

As pesquisas indicam que o presidente-candidato Lula e o ex-governador Jarbas Vasconcelos são os principais cabos eleitorais na disputa local, além do prefeito João Paulo (PT), que parece não envolvido completamente com a candidatura do seu partido.

Assim, só Jarbas Vasconcelos teria, hoje, cacife pol?tico e eleitoral para tentar barrar a forte influência de Lula no estado, mas não o faz de olho no apoio do mesmo eleitorado do presidente-candidato a ele e a Mendonça Filho. É uma questão de sobrevivência pol?tica.

Isso não o impede, no entanto, de trabalhar fortemente pela reeleição de seu ex-vice, o governador Mendonça Filho, de partido claramente opositor a Lula e seu governo.

Da mesma forma, Lula não procura se indispor com o eleitorado de Jarbas Vasconcelos, e com o próprio, mas, diferentemente do ex-governador, não tem participado ativamente para nenhum de seus dois aliados, Humberto Costa e Eduardo Campos.

O presidente-candidato tem sido, até aqui, apenas uma referência para as duas candidaturas, mesmo assim, uma referência importante.

E isto se reflete, é claro, na preferência do eleitorado pernambucano.

Diante da exploração que a União por Pernambuco vem fazendo do recente indiciamento de Humberto Costa pela Pol?cia Federal por seu suposto envolvimento com a máfia dos vampiros, o presidente-candidato foi levado a quebrar o silêncio público com relação ao caso e a dar um depoimento favorável à candidatura petista no estado no referido evento.

E de quebra, como tem sido recorrente, emprestar igualmente seu apoio ao ex-ministro Eduardo Campos.

Tais fatos vêm pautando a campanha e a propaganda das três alianças e tende a aproximar a disputa local da disputa nacional, o que é desejo da oposição estadual e receio dos que fazem a União por Pernambuco.

Se isto ocorrer, é evidente, Humberto Costa, que ganhou, ainda que indiretamente, o apoio mais expl?cito do presidente-candidato e companheiro de partido, deverá ser o mais favorecido.

Digo indireto, porque, o mais natural, seria um depoimento gravado exclusivamente para o guia da aliança Melhor para Pernambuco apoiando e defendendo Humberto Costa.

Mas o mega-com?cio foi positivo também para Eduardo Campos que, certamente, explorará a imagem dele ao lado do presidente-candidato na propaganda eleitoral.

E, ainda, bom para ambos, simultaneamente, na medida em que traz a presença de Lula para a disputa estadual e força a União por Pernambuco, sobretudo o seu principal l?der, Jarbas Vasconcelos, coincidentemente o que tem o pavio mais curto, a assumir publicamente suas cr?ticas e diferenças com o governo Lula e sua candidatura à reeleição.

Portanto, em todos os sentidos, por ora, a realização do mega-com?cio de Caruaru com a presença do presidente-candidato Lula tem tudo para se transformar em um divisor de água na disputa estadual.

Ou a oposição - ou um de seus candidatos - aproveita sua repercussão e cresce definitivamente e ameaça a liderança do governador-candidato Mendonça Filho ou vai ter que suar um bocado, e até o último momento, para, pelo menos, impor um segundo turno ao candidato da União por Pernambuco. *Cientista pol?tico e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Túlio Velho Barreto, 48, é um dos autores dos livros “Democracia e Instituições Pol?ticas Brasileiras no final do Século XX??? (MCP-UFPE/Bagaço, 1998) e “Nordeste 2004 - O Voto das Capitais??? (Fundação Konrad Adenauer, 2005).

Co-organizou e participou dos livros “Na Trilha do Golpe - 1964 revisitado??? (Editora Massangana, 2004) e “A Nova República - Visões da redemocratização??? (Cepe/JC, 2006), que resultaram de séries especiais publicadas pelo Jornal do Commercio em parceria com a Fundação Joaquim Nabuco.