Por Inácio França*Jornalista e consultor do UNICEFDepois de ser assediado por dezenas de captadores recursos de campanhas, decidi dar um tempo nos artigos sobre a relação entre m?dia e pol?tica e publicar essas breves dicas de sobrevivência para o eleitor moderno… Até há pouco tempo, quando alguém cruzava por acaso com algum conhecido, colega ou amigo candidato a deputado, fazia questão de cumprimentá-lo.
Se o eleitor estivesse acompanhado de uma namorada ou paquera, se exibiria demonstrando alguma intimidade com o pol?tico.
Ao pedido de voto, o eleitor garantia seu compromisso, mesmo que, no dia seguinte, fizesse a mesma promessa para um antigo colega de faculdade, também candidato.
A nova legislação que restringiu a captação de recursos para as campanhas acabou com essas demonstrações de amizades eleitorais.
Atualmente, conhecer um candidato, mesmo que de longe, é correr o risco de ser convidado para um desses "jantar de adesão".
A um mês da eleição, conheço poucas pessoas de classe média que não receberam um convite desse tipo.
São várias as estratégias adotadas pelos candidatos.
Quando seu telefone está na agenda do pol?tico, os riscos são maiores.
Desprevenido, nas duas últimas duas semanas atendi a vários desses telefonemas, sempre com uma mocinha simpática de voz meiga a iniciar diálogos que se repetiram mais ou menos assim:- Olá, aqui é do comitê de fulano de tal. - Ah, que bom, gosto muito dele.
Pode ser até que eu vote nele.Tentei despistar, mas as moças sempre percebem essas manobras evasivas.- Fulano está lhe convidando para um jantar de adesão, com o menu preparado pelo chef sicrano, do restaurante tal de tal… - Se o menu é do chef sicrano, já sei que vai ser os olhos da cara… - Não, será apenas R$ 100,00 - Só isso!!!!!
Meu deus como é barato, mas vou pensar se posso ou não, sabe como é a situação não está fácil… ligue na segunda, não, segunda não, ligue na próxima quinta-feira… Não adianta, esse tipo de fuga para ganhar tempo é inútil.
Elas ligam no dia acertado.
E ligam de manhã, antes do in?cio do expediente bancário.
Por isso, sugiro que memorize o número de origem do primeiro telefonema e não atenda as ligações posteriores.
Caso, a mocinha tenha lhe encontrado num telefone fixo, peça o telefone do comitê sob o pretexto que você vai ligar quando decidir quantas senhas irá comprar.
Assim, basta ignorar os telefonemas originados desse número.
Outra forma de ataque dos tesoureiros de comitê, é enviar para sua casa ou para seu escritório um envelope com duas senhas (multiplique R$ 100,00 por dois…). É a tática do fato consumado, semelhante àquela usada pelos cartões de crédito que enviam cartões para as casas de quem nunca pediu nada.
O candidato (ou seu assessor) acredita que o eleitor se sentirá constrangido em dizer não para o amigo e vai comprar pelo menos uma das senhas.
Perceba que há uma tática de negociação impl?cita a?.
Devolva as duas.
Se não quiser aborrecer o sujeito, mande o porteiro fazer a devolução com a explicação que não conseguiu localizá-lo.
Quem está em melhor situação para escapar dos almoços de adesão são aquelas pessoas que trabalham em ONGs.
Basta dizer que, "infelizmente, as regras da organização para qual trabalho me impedem de fazer campanha eleitoral em qualquer n?vel.
Se for visto num jantar desses, posso perder o emprego".
Outra forma segura é andar com a própria legislação no bolso e, de forma resignada, responder que, não poderá contribuir, pois "não trabalho com cheques há uns dois anos e, pelo que sei, a lei só permite que os jantares de adesão sejam pagos com cheques nominais".
Essa é a melhor sa?da, principalmente porque é verdadeira.
Adesão – almoço, jantar, café-da-manhã ou lanchezinho da tarde – só com cheque.
Se o sujeito insistir, dizendo que dá um jeito, você para o contra-ataque e arremata: "Sou ético, não posso ser conivente com qualquer tipo de irregularidade".
Com receio de perder seu voto, o candidato desistirá do assédio.
O problema é que, se todos descobrirem essa sa?da, em breve eles vão pedir ao TRE para adaptar a urna eletrônica para receber cartão magnético.
Assim, o amigo-candidato poderá dizer que, como o comitê fez convênio com o banco 24 horas, você terá a opção de usar seu cartão de banco em vez do t?tulo eleitoral.
A?, a solução será encontrar o deputado mais em conta. *Inácio França é jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco, em dezembro de 1990.
Repórter de Pol?cia do Diário Popular (SP), atual Diário de São Paulo.
Repórter de O Globo, sucursal de São Paulo.
Repórter de O Globo, sucursal de Recife.
Repórter-especial do Diário de Pernambuco.
Secretário de Comunicação de Olinda, durante a primeira gestão de Luciana Santos (PCdoB).
Atualmente, Consultor de Comunicação do UNICEF para os estados de Alagoas, Para?ba e Pernambuco.
Como repórter, conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e Dieitos Humanos, Prêmio Cristina Tavares de Jornalismo.