Por Otavio Frias FilhoDiretor de redação da Folha de S.Paulo Poucas vezes o surrado dito marxista segundo o qual a história acontece duas vezes, a primeira como tragédia e a segunda como farsa, foi tão verdadeiro como agora.
Guardadas as proporções das duas personagens, o que está havendo é uma "getulização" da imagem de Lula.
O lema da campanha presidencial é "Lula de novo, com a força do povo".
Ou seja, o pai dos pobres (e ao mesmo tempo mãe dos banqueiros) paira acima das classes, das regiões, dos partidos, reconduzido nos "braços do povo" como o Getúlio de 1950.Fora o passado ditatorial e a envergadura histórica de Getúlio, as semelhanças são notórias.
Ambos compraram a gratidão popular via concessões sociais.
Ambos tiveram seus governos associados a corrupção e aparelhamento do Estado.
Ambos se disseram v?timas de um complô de elites (Getúlio, ao menos na fase final, com alguma razão). É a expressão pol?tica daquele "Brasil inzoneiro" (mentiroso, malandro, sonso), da canção de Ary Barroso.
O governante exitoso é sempre o que dilui suas posições, alicia apoios à direita e à esquerda, muda com as circunstâncias, seduz adversários, desconversa e concilia.
Também a "frustração" com o governo Lula se inscreve numa sólida tradição brasileira: a das transições mais aparentes, de fachada, do que reais.
Independência, República, 1930, 1945, 1985, todas as rupturas foram antes acordos em que a ordem velha sobreviveu à nova, dissolvendo-se nela.
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